terça-feira, 7 de novembro de 2006

Seminário “Protecção do Litoral – Educação para o Desenvolvimento Sustentável”



Organizado pelo FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens) e realizado no passado dia 03 de Novembro no Salão Nobre da Câmara Municipal de Ovar, este seminário contou com a presença, entre outros, de duas personalidades de quem à priori se esperavam importantes considerações; eram elas, o Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades e um especialista em engenharia costeira e professor na Universidade do Porto. Ambos os personagens poderiam, efectivamente, ter dado um grande contributo no esclarecimento daquilo que irá ser feito a breve prazo para protecção do litoral português e concretamente do litoral ovarense.
Da parte do Secretário de Estado nada foi adiantado, infelizmente, sobre a nova estratégia do litoral para 2007, pese embora e segundo o mesmo, esta mesma estratégia ainda vir a ser revelada durante o mês de Novembro; foi, contudo, adiantado por este membro do governo que o orçamento previsto não irá chegar para resolver todos os problemas da orla costeira.
Da parte do professor especialista em engenharia costeira e que segundo o mesmo tem coordenado vários grupos de trabalho sobre gestão do litoral ao longo dos sucessivos governos, tendo contribuído, desse modo, para o aparecimento de múltiplos documentos legais sobre a mesma matéria, também nada foi referido quanto a novas estratégias a aplicar sobre o litoral português; pelo contrário, quando confrontado com a falta de coragem que tem existido em Portugal para substituir as intervenções da “pedra” por intervenções eficazes, o professor quis de uma acentada pôr por terra todas as opções alternativas que são defendidas em “A praia dos tubarões”, cantarolando a costumeira “canção do ceguinho”, de que a nossa costa é tão agitada que nada resulta a não ser pedra. Era tão bom que este senhor professor abrisse os olhinhos quando anda lá por fora a viajar e a palestrar em congressos e trouxesse para Portugal aquilo que se faz noutras paragens e em costas bem mais agitadas que a nossa. Era tão bom!
Uma das participações técnicas mais relevantes do evento foi logo a primeira, realizada por uma docente da Universidade Nova de Lisboa, subordinada ao tema “O projecto europeu de Desenvolvimento Sustentável”. Nesta comunicação ficou bem notório, sobretudo para quem anda menos atento a esta problemática, o grande fosso existente entre os objectivos delineados na Estratégia Europeia para o Litoral e o que efectivamente foi concretizado no nosso país até ao presente. Não restam dúvidas de que há, de facto,  um enorme percurso a percorrer. Um percurso que tem que começar, sem dúvida, na mudança de perfil dos actuais gestores do litoral. 
Um segundo momento importante neste seminário ocorreu com a apresentação dos projectos de Educação para o Desenvolvimento Sustentável desenvolvidos por alunos e professores de algumas escolas do concelho, no âmbito de um trabalho mais amplo, que o FAPAS vem implementando de modo análogo com várias outras escolas do país. Os referidos projectos, desenvolvidos pelas escolas   ovarenses, denotam a preocupação geral das comunidades educativas por questões tão importantes, como a conservação do ecossistema dunar.
O terceiro momento significativo deste seminário ocorreu no dia 04 de Novembro aquando da visita guiada pelo litoral do concelho. De facto e pese embora o tempo chuvoso que se fazia sentir nesse dia, os participantes na visita – aqueles que realmente se interessam por conhecer a realidade do litoral e que por tal razão trocam de bom grado o fato e a gravata pelo corta-vento e pelas sapatilhas - puderam apreciar no terreno como o litoral de Ovar está a desaparecer. A desaparecer, não ao ritmo anunciado numa das intervenções do dia anterior (informação descontextualizada que se baseou em valores citados na pág. 85 de “A praia dos tubarões”), mas a um ritmo bem maior (fornecido este, na pág. 87 do mesmo livro) e com consequências desastrosas para a manutenção do ecossistema costeiro.
Os participantes na visita constataram, ainda, como os diferentes factores, naturais e antrópicos, interferem na dinâmica do litoral arenoso, além de terem constatado ao vivo as perigosas plataformas de galgamento existentes em torno do Furadouro, as construções recentes em zonas de alto risco e o avanço impressionante do mar em Maceda, devido à acção nefasta dos esporões. A visita terminou na praia de Esmoriz com a visualização de fotografias antigas da praia e da Barrinha, antes de as mesmas terem chegado ao estado calamitoso em que se encontram.
Estão de parabéns o FAPAS e todos aqueles que se inscreveram entusiasticamente no seminário para aprenderem mais sobre Protecção do Litoral. Pelo contrário, não podem estar de parabéns aqueles que não quiseram dar a informação que todos esperavam ouvir, nem aqueles que continuam a ter medo de ajuizar em público se as situações existentes no terreno estão bem ou mal. Esperemos, também, que num próximo seminário sobre esta temática, todos os oradores (investigadores?) procurem que os seus “Power Point”s não se resumam a dados, fotos e mensagens já conhecidos e publicados por outros investigadores (abusivamente não referenciados, como vem sendo costumeiro)! 
Por último, não posso deixar de referir e de louvar aquele que foi efectivamente o primeiro painel deste seminário, porque introduzido antes da ordem do dia e que eu tomo a liberdade de caracterizar como o painel dos «porquês?». Sob a forma de desdobrável distribuído a todos os que acorriam ao local, o painel dos «porquês» traduziu o descontentamento da população ovarense atenta às práticas irresponsáveis da administração central e local no que se refere à gestão da zona costeira; daquela população que não tendo tido condições para conquistar um assento no salão nobre sente o dever de alertar que iniciativas destas não podem servir para tentar branquear a escuridão da incompetência. Um painel que levantava questões tão importantes, como: desbaste do pinhal de Ovar e da mata da Bicha, porquê? Ria de Aveiro, assoreada e abandonada, porquê? Continuação da construção na orla costeira, porquê? Corte das verbas para o ambiente, porquê? Olhos fechados à extracção ilegal de areias, porquê? Populações piscatórias em risco, porquê?
E foram estes «porquês» que ficaram sem resposta nessa sexta-feira, após uma maratona de quase doze horas de muito se ter falado, discursado, falado, discursado.... vai-se lá saber para quê!!!
E a todos um Bom Natal.

(Artigo publicado a 07.12.06  e a 14.12.06 no Jornal de Ovar)