domingo, 15 de junho de 2008

Avivando a memória para que...NUNCA MAIS! (2)

NUNCA MAIS ! Foi um grito de revolta, um desejo ardente de mudança, uma certeza de propósitos, um estado de alma doloroso, uma forma de expurgar o inconformismo perante tanta insensatez.Foi lançado na Galiza aquando do naufrágio do superpetroleiro Prestige mas chegou rápido a Portugal.No nosso cantinho, em que as muitas palavras de promessas são levadas rapidamente pelo vento e a qualidade ambiental do concelho tem cada vez menos Prestige, convém NUNCA MAIS esquecer as lições do passado recente.




(artigo publicado no Jornal de Ovar, a 07/04/05)
Gestão Controlada da Barrinha de Esmoriz –projecto falhado ou adiado?

Há três meses atrás e neste mesmo espaço escrevi algumas linhas sobre a Barrinha de Esmoriz porque a mesma me parecia desprotegida face ao que por lá se fez, ao que não se fez e ao desconhecimento do que se perspectiva fazer. Decorrido este período de tempo, sem tormentas e sem chuvas de significado, a Barrinha parece continuar serenamente abandonada.
Na verdade e caso o Inverno tivesse sido diferente como muitos outros, com temporais e frequentes ataques do mar sobre a costa, a Barrinha provavelmente teria continuado abandonada mas nunca de uma forma tão serena. As águas oceânicas teriam galgado com facilidade a estreita praia, penetrado pelo canal que liga a lagoa ao mar e destruído tudo aquilo que lá foi instalado.
Também na verdade e caso o estado do tempo durante este último Inverno tivesse sido diferente, com fortes chuvas como é típico nesta época do ano, à Barrinha teriam chegado sem qualquer controlo as torrentes dos cursos de água que nela desaguam, provocando um aumento dos níveis da lagoa e obrigando ao escoamento directo, também ele sem qualquer controlo, para o mar.
Mas tais cenários não aconteceram e a Barrinha tem gozado deste estado de graça. O cheiro nauseabundo que emana das águas da Barrinha revela claramente a grande quantidade de detritos ali acumulados e que esperam, assim, a primeira oportunidade de virem parar ao mar sem qualquer tipo de tratamento aumentando a carga bacteriológica das águas e areais ovarenses.
Olhando hoje a obra feita no local não se consegue perceber como a mesma poderá dar resposta aos objectivos outrora anunciados. Dado não ter havido alguém com sentido de dever que informasse e esclarecesse dúvidas entretanto surgidas, resta assim, com a vontade de quem quer ser esclarecido tentar descortinar, qual puzzle a montar, o que significam cada uma das “peças” do jogo.
O dique fusível fundiu jazendo na areia o que dele resta. Então, poder-se-á desde logo perguntar, como se podem controlar neste momento as águas da Barrinha? É que, de facto, parece ter havido a preocupação de definir um nível de água dentro da laguna, provavelmente um “nível crítico” para as operações de controlo. Mas não havendo dique será difícil para não dizer impossível garantir esse nível crítico. As próprias tampas das condutas de descarga, umas abertas outras fechadas, parecem à primeira vista não servirem para coisa alguma.
Enfim, não se entendem que mudanças positivas por lá ocorreram desde que foram investidos 150 000 dos 340 000 euros destinados a esta obra de “Gestão (des)Controlada”. Apenas se constata que a Barrinha está transformada naquilo que sempre foi, desde que as autarquias de Ovar, Espinho e Feira decidiram esquecer o valor patrimonial da zona: um charco receptor de águas poluídas.
Um outro aspecto já denunciado em anterior escrito prende-se com o empobrecimento da Barrinha sob o ponto de vista dos seus recursos naturais, nomeadamente como ecossistema importante para as aves. Num curto trajecto efectuado ao longo de uma das suas margens apenas se registaram alguns patos-reais a descansar ao abrigo da vegetação, dois milhafres-negros voando sobre a zona e alguns rouxinóis-dos-caniços e pequenas limícolas que não se vendo deixavam-se, contudo, ouvir. Pese embora ter-se tratado de uma fugaz visita, muito pouco foi registado para aquilo que este espaço poderia oferecer.
Assim sendo termina-se esta abordagem ao status da Barrinha de Esmoriz salientando a dupla consternação, de que além da inexistência de uma gestão controlada das águas da Barrinha também não se vislumbram medidas para a recuperação do património natural da mesma. É por todas estas razões que se coloca com pertinência a questão: será que o projecto em causa, a quem alguém chamou de “primeira geração”, terá sucumbido ou estará apenas adiado? Muito sinceramente e a bem da Barrinha gostava que ambas as questões tivessem resposta negativa e que a resolução dos problemas da Barrinha não transitassem para as próximas gerações.

domingo, 1 de junho de 2008

Avivando a memória para que...NUNCA MAIS! (1)

NUNCA MAIS !
Foi um grito de revolta, um desejo ardente de mudança, uma certeza de propósitos, um estado de alma doloroso, uma forma de expurgar o inconformismo perante tanta insensatez.
Foi lançado na Galiza aquando do naufrágio do superpetroleiro Prestige mas chegou rápido a Portugal.
No nosso cantinho, em que as muitas palavras de promessas são levadas rapidamente pelo vento e a qualidade ambiental do concelho tem cada vez menos Prestige, convém NUNCA MAIS esquecer as lições do passado recente.



(artigo publicado no Jornal de Ovar, em 06/01/05)
Barrinha de Esmoriz: Brincando aos castelinhos de areia

As notícias que vieram a lume com regularidade durante o Verão do ano findo sobre a poluição manifestada na Barrinha de Esmoriz e praias a sul da mesma colocavam desde logo uma pertinente questão: quem seria o responsável ou responsáveis por esta falta de civismo para com toda uma região e utentes balneares da mesma? Quem seria o criminoso ou criminosos a quem não incomodava de todo o tão apregoado princípio do ‘poluidor-pagador’? Estou convencido, contudo, que todos nós mais do que conhecer a identidade de tais prevaricadores gostaríamos era que os mesmos fossem sancionados de forma convincente para que se pusesse um fim a todo este estado de terrorismo ambiental que graça na nossa região. É claro que tal não parece ter acontecido a olhar pelas acusações e desculpas que foram sendo emitidas e que não permitiram ajuizar de forma séria e imparcial sobre os verdadeiros responsáveis destas sucessivas tragédias. Uma certeza pelo menos ficou. A de que os responsáveis pela poluição da Barrinha de Esmoriz continuam a monte pois nada nem ninguém os deteve nem tão pouco se encontram impedidos de voltar a prevaricar!
Uma segunda questão, não menos importante, que se colocava passados alguns meses após o início das obras na Barrinha de Esmoriz prendia-se com as expectativas gerais da população do concelho sobre o que iria acontecer de tão importante nesta lagoa capaz de devolver à mesma uma melhor qualidade ambiental e terminar decisivamente com atentados como os que têm brindado pela negativa o concelho de Ovar vai para uma imensidão de tempo. Na verdade, nunca foi perceptível para a generalidade do público leigo (como eu) em tais matérias descortinar que princípios, métodos e objectivos de engenharia costeira e de planeamento teriam sido traçados para fazer a gestão das águas da barrinha, bem como, para a recuperação da sua fauna e do ecossistema em geral (porque me parece ser disso que se irá também tratar no futuro, ou será que não?). E também é verdade que se manteve sempre a expectativa de que alguém responsável viesse demonstrar perante a curiosidade geral não terem sido estas obras delineadas em cima do joelho entre as pressas dos calendários políticos. Dito de um outro modo, teria sido oportuno que para além daqueles poucos momentos em que soou a verborreia política de circunstância, generalista e por conseguinte sempre vaga, teria sido importante desde o início do processo uma comunicação séria (minimamente técnica) e objectiva à população, nomeadamente através dos media locais para que esta ficasse de uma vez por todas convencida de que o futuro da Barrinha não passaria nunca mais pelas vontades de ‘marginais a monte’ mas antes pela capacidade e engenho de quem poderia gerir um projecto desta envergadura. Tal não aconteceu e a incerteza permaneceu no espírito de toda a gente!
Um terceiro aspecto, decorrente do anterior, teve a ver com o términus das obras (ditas de primeira fase) na Barrinha. Todo aquele reboliço de areias tiradas dali e postas acolá, para formarem o emblemático ‘dique fusível’ não inspiravam qualquer segurança nem perspectivas de futuro a quem por lá passasse conhecendo minimamente as condições de agitação marítima da nossa costa. Era pois esperado que o mar pudesse fazer ruir a qualquer momento tais estruturas, o que infelizmente não demorou a tornar-se uma realidade.
Em face destes acontecimentos e da necessidade urgente de defender a Barrinha e zona litoral adjacente é importante uma reflexão sobre o assunto. Primeiro ponto. Ao contrário dos meninos que brincam na beira do mar gozando sempre que a água chega e leva seus castelinhos de areia permitindo-lhes acorrerem a levantar outros no lugar dos anteriores, sem outros custos que não umas quantas pazadas de areia, a gestão de uma intervenção como a que se pretendia para a Barrinha não deveria ter passado pela construção de ‘castelos de areia’, porque os custos destas brincadeiras são grandes e somos todos nós a pagá-los, de uma maneira ou de outra! Segundo ponto. Todos nós que nos preocupamos com esta “nau” chamada Barrinha de Esmoriz acabamos por demonstrar determinadas posturas para com a mesma. Seria importante, a bem da Barrinha, que cada um com honestidade reflectisse sobre o seu papel para com esta “nau”. Estaremos nós, como meros espectadores na margem a vê-la passar, seremos timoneiros capazes ou simplesmente nela apanhamos uma boleia para irmos à outra banda? É que independentemente dos que permanecem especados na margem (e que por lá poderão continuar) ou dos inveterados das boleias (que hoje andam de barco porque ainda não podem andar de avião), esta “nau” para não meter mais água (poluída) precisa é mesmo de quem a saiba levar a bom porto!