domingo, 30 de novembro de 2008

Seja bem-vindo o Decreto-Lei n.º 142/2008!

No passado dia dezanove foram entregues na Câmara Municipal de Ovar dois documentos fundamentais para a conservação da natureza no concelho. Um, referia-se à revisão de uma proposta, elaborada e apresentada por mim à Câmara de Ovar em Junho de 1994, para a criação de uma Área de Paisagem Protegida na Foz do Cáster e o outro, elaborado recentemente e que diz respeito à criação da Reserva Natural da Barrinha de Esmoriz.
Hoje dedicaremos uma atenção especial ao primeiro.
As zonas marginais do topo norte da Ria de Aveiro, no concelho de Ovar, constituem uma parcela do ecossistema, mais vasto, que é constituído pela Ria de Aveiro, funcionando aquelas como uma interface entre os ecossistemas terrestre e aquático.
Estas zonas, porque sujeitas ao regime das marés, apresentam extensas áreas de sapal, bem como, manchas significativas de juncal e caniçal. Estes biótopos apresentam excelentes condições para o abrigo e nidificação de muitas espécies de aves, algumas de conservação prioritária, nos termos da Directiva Comunitária 79/409/CEE (conhecida vulgarmente pela denominação de Directiva das Aves).
Também as águas da Ria, em Ovar, por se encontrarem bastante afastadas da entrada da laguna apresentam fracas correntes de maré, pelo que funcionam como maternidades para diferentes espécies piscícolas e bivalves.
Particularmente no Inverno, pode-se observar nas vasas desta região centenas de limícolas e ardeídeos. Durante as migrações, a vegetação palustre serve de abrigo a diversas espécies de passeriformes. E na época de nidificação, as matas envolventes são aproveitadas por diversas espécies de aves de rapina para aí procriarem.
Aves pouco frequentes e/ou de grande susceptibilidade, como o flamingo-rosado (Phoenicopteus roseus), o corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo), o falcão-peregrino (Falco peregrinus) e o colhereiro (Platalea leucorodia), ocorrentes nesta região denotam a importância da mesma no contexto do ecossistema lagunar.
Também do ponto de vista da flora se podem encontrar variadíssimas plantas autóctones ripícolas, como, o lírio-amarelo-dos-pântanos (Íris pseudacorus), o trevo-rasteiro (Trifolium repens) e a dedaleira (Digitalis purpúrea subsp. purpúrea). Nos esteiros e nas valas encontram-se também plantas autóctones, como, a pinheirinha-de-água (Myriophyllum aquaticum) e na zona de sapal, autóctones como o malmequer-da-praia (Aster tripolium subsp. pannonicus), a erva-do-brejo (Triglochin marítima) e a gramata-branca (Halimione portucaloides).
O canal de Ovar, o Largo da Coroa e o Regueirão da Carvalhosa constituem três bolsas de água que, pela sua dimensão e sobretudo aquando de marés-vivas e de temporais funcionam como importantes elementos naturais de defesa das margens lagunares, incluindo aquelas onde assentam núcleos habitacionais, como a Marinha, a Ribeira e a Tijosa. Requerem, por conseguinte, dragagens regulares de forma a manterem uma satisfatória capacidade de recepção das águas afluentes à laguna.
A actividade agrícola, a pesca artesanal e a caça são praticadas nesta região, havendo a necessidade urgente de serem disciplinadas, de modo a aumentar-se o potencial biológico da área e a evitar a degradação de habitats, também eles protegidos pela Directiva Comunitária 92/43/CEE (mais conhecida por Directiva Habitats), transposta para a legislação portuguesa pelo Decreto-Lei n.º 140/99, de 24 de Abril.
Esta região que se pretende transformar em Paisagem Protegida, assenta em território de Reserva Ecológica Nacional e pelo PDM de Ovar consta como Espaço Natural Protegido, incluindo no seu seio uma “Área de Reserva”.
O referido estatuto de ‘Área de Paisagem Protegida’ pressupunha em 1994, uma colaboração conjunta entre a Câmara Municipal de Ovar e o Ministério do Ambiente na gestão da mesma. Apesar dos pareceres favoráveis emitidos pelos técnicos do Ministério do Ambiente que visitaram e avaliaram a zona para os efeitos pretendidos, a verdade é que nunca mais esta proposta foi concretizada, possivelmente pela dificuldade em ser realizada a co-gestão daquela figura jurídica.
Acontece, que em 24 de Julho do corrente ano foi publicado o Decreto-lei n.º 142/2008, que estabelece o regime jurídico da conservação da natureza e da biodiversidade, permitindo aos municípios criarem por sua iniciativa e gerirem em regime de exclusividade áreas protegidas locais.
Pois é isto mesmo que agora se pretende, dotar esta região lagunar do nosso concelho com um estatuto de protecção da natureza (o estatuto de Paisagem Protegida Local) no quadro do referido regime jurídico e integrá-la, assim, na Rede Nacional de Áreas Protegidas.
É caso para dizer: bem-vindo, pois, o DL 142/2008!


(Artigo publicado no Jornal de Ovar de 28/11/08)

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Rio Cáster em debate.

No dia 21 de Novembro o rio Cáster esteve em foco em mais uma "Ciclone Conferência" organizada pela associação ambientalista vareira Amigos do Cáster.

Como oradores estiveram presentes o vereador de Ambiente da Câmara Municipal de Ovar, prof. José Américo, o vereador da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Dr. Emídio Sousa e o Administrador da SIMRIA, Dr. Jorge Torres.

No decorrer da sessão a sala quase encheu, tendo havido lugar no fim das comunicações a interessantes trocas de pontos de vista.

Entre muitas outras questões foi abordado o facto da Fapovar continuar a lançar no rio Cáster efluentes não tratados devido à sub-capacidade demonstrada pela sua recente ETAR.

Foi também sugerido ao vereador da Câmara Municipal de Ovar que colha junto dos municípios de Santa Maria da Feira, Estarreja e S. João da Madeira algumas dicas sobre como pôr em marcha o arranque das obras de construção do parque urbano da cidade de Ovar e mais concretamente da reabilitação das margens do rio no centro da cidade, dada a experiência destes municípios vizinhos nesta matéria.



Por último, foi abordada a questão de rapidamente se ter que definir uma Paisagem Protegida na Foz do Cáster de acordo com a proposta entregue por Álvaro Reis na Câmara de Ovar a 19 de Novembro último.

domingo, 23 de novembro de 2008

Paisagem Protegida da Foz do Cáster e Reserva Natural da Barrinha de Esmoriz

No passado dia 19 de Novembro foram entregues na Câmara Municipal de Ovar duas versões provisórias elaboradas pelo autor para constituição de áreas protegidas no concelho, a serem geridas pela autarquia no âmbito do Decreto-Lei n.º 142/2008.




Um dos documentos referia-se a um velho projecto de classificar na foz do Cáster uma Paisagem Protegida, que permitiria a salvarguarda, entre outros valores, das espécies selvagens aí ocorrentes.





O outro documento consiste numa proposta de classificação de Reserva Natural da Barrinha de Esmoriz, com o objectivo de recuperação, valorização e conservação daquela lagoa costeira, única no contexto da região norte do país.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

EROSÃO COSTEIRA debatida em Ovar

Tal como havia sido noticiado anteriormente decorreu no passado dia 31 de Outubro, pelas 21h45 no Auditório da Junta de Freguesia de Ovar, a conferência sobre “Erosão Costeira”, promovida pela associação ambientalista Amigos do Cáster.

Com a presença dos oradores, Álvaro Reis e Carlos Coelho (Univ. Aveiro) e com a presença na plateia de alguns representantes da Câmara Municipal de Ovar e da Junta de Freguesia de Maceda, a conferência decorreu viva e animada prolongando-se até cerca da uma da manhã de sábado, sob a moderação de Carlos Ramos, dos Amigos do Cáster .

Digno de registo é o facto de pela primeira vez se assistir a um posicionamento público, por parte de um representante de uma instituição não ambientalista, como o é a Universidade de Aveiro, corroborando integralmente o essencial da mensagem e das soluções que Álvaro Reis vem defendendo ao longo dos anos, primeiro numa Tese de Mestrado em Ciências das Zonas Costeiras e mais tarde e de forma mais abrangente no seu último livro "A praia dos Tubarões".



A imprensa esteve lá e registou.





Erosão costeira debatida no III Encontro Convergir

Na tarde do passado dia 25 de Outubro decorreu no Auditório do Museu Municipal de Viana do Castelo o III Encontro Convergir - Plataforma Interassociativa, subordinado ao tema " O Futuro dos Nossos Rios".

Quer a organização anfitriã, quer as múltiplas associações regionais, quer ainda as grandes associações nacionais (LPN, QUERCUS e FAPAS) envolvidas nesta plataforma estiveram de parabéns pelo êxito do evento.

Com a parte da manhã preenchida pela apresentação de diversos projectos ambientais desenvolvidos pelas diferentes associações da plataforma, foi na parte da tarde e no âmbito do segundo painel, "Litoral Oceânico, Praias e Ordenamento" que Álvaro Reis, Fátima Alves (Univ. de Aveiro) e Horácio Faria (Div. Ambiente da Câmara Municipal de Viana do Castelo) debateram os problemas de erosão e ordenamento da zona costeira, bem como, responderam às variadas questões colocadas pela vasta assistência presente.