domingo, 22 de janeiro de 2012

A crise não é para todos!


Tal como já tenho referido, a construção de novos espaços verdes citadinos não tem que passar pela destruição dos espaços verdes já existentes, sobretudo quando estes constituem habitats de protecção prioritária, nomeadamente ao abrigo de Directivas Comunitárias.


É verdade, que em Portugal estamos já habituados a assistir à ocupação de território de Reserva Ecológica Nacional (REN), de Reserva Agrícola Nacional (RAN) ou de Domínio Público Hídrico, por infraestruturas de interesse ou oportunidade questionáveis. 

A actual intervenção para construção do Parque Urbano de Ovar enquadra-se exactamente nas referidas premissas. Senão vejamos:


Primeiro, porque corresponde a uma intervenção desajustada do ponto de vista ambiental, uma vez que não conseguiu adequar as características dos habitats ribeirinhos existentes, de protecção recomendada, com os objectivos do Parque Urbano a construir. 

Em segundo lugar, porque obteve pareceres favoráveis de diversas entidades, apesar de não ter sido efectuado um Estudo de Impacte Ambiental.

Além destes dois factos de cariz negativo, surge um terceiro que se avoluma de dia para dia: o gasto em pedra. 

É uma verdadeira fortuna aquela que se vai investindo neste recanto da cidade. Todos os terrenos particulares estão a ser murados com lajes de granito, além claro, daquelas edificações estranhas semeadas aqui e além. 





Construções, não sei bem se ao estilo "romano", "castrense", "romântico", ou ..... "ovarense", mais provavelmente. 




Numa altura em que a todos é pedido contenção de gastos .... as obras do Parque Urbano de Ovar teimam em contrariar a crise!



sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

2012: Energia Sustentável para todos?

2012 - Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos

A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar 2012 como sendo o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. Tal decisão está relacionada com o facto de, em todo o mundo, se estimar uma população de mais de 1.4 biliões de pessoas que ainda não tem acesso ao consumo de energia eléctrica.


Na sociedade actual, dos denominados países desenvolvidos, é quase impensável, chegar-se a casa depois de um dia de trabalho e não se poder acender as lâmpadas dos diferentes compartimentos, não se poder ligar a televisão, o fogão eléctrico, ou o computador. Para o nosso modo de viver o quotidiano, já não conseguimos dispensar o frigorífico, o micro-ondas, o telemóvel, a máquina de lavar roupa, e tantos outros aparelhos eléctricos. Não ter acesso à energia eléctrica significa nos dias de hoje, não ter acesso a razoáveis condições de vida, uma vez que a electricidade está na base do funcionamento da maior parte dos equipamentos domésticos e é o suporte do nosso modus vivendi.

Pelo contrário, em todo o mundo, mais de 3 biliões de pessoas (quase metade da população mundial) não podendo usufruir de electricidade, dependem da biomassa florestal e do carvão para as necessidades básicas do seu quotidiano (cozinhar e aquecimento), tal como acontecia na longínqua Pré-História. Dado que estas formas de energia fóssil constituem recursos finitos (não renováveis) e em vias de esgotamento, devem as mesmas ser poupadas e substituídas por formas de energia alternativas. Será que este cenário se concretizará no futuro?


Objectivos
O Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos procura ser um meio de consciencialização para todos os Estados-membros da ONU, no sentido da sustentabilidade energética poder ser um objectivo atingível a curto/médio prazo.

O Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos integra-se numa iniciativa mais abrangente da ONU denominada Energia Sustentável para Todos (Sustainable Energy for All). Esta iniciativa pretende realizar, até 2030, eventos que permitam alcançar três grandes objectivos:

- garantir que toda a população mundial tenha acesso à energia;
- reduzir em 40% o consumo global de energia;
- aumentar em 30% a utilização de energias renováveis.

Para que estes objectivos sejam alcançados, a ONU conta com a mobilização de todos, nomeadamente, governos, empresas, ONG’s e sociedade civil. O acesso a uma tecnologia energética a preços acessíveis é fundamental, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, para que se verifique crescimento económico, a redução da pobreza e a melhoria geral da qualidade de vida dos mesmos. Numa palavra, para que se caminhe definitivamente para o Desenvolvimento Sustentável.

O Desenvolvimento Sustentável passará, sem sombra de dúvida, pelo abandono da energia fóssil em detrimento de uma disponibilidade crescente de energias renováveis. Entre estas destacar-se-ão a biomassa, a energia eólica, a energia das marés, a energia geotérmica, etc.


Energia da Biomassa: uma realidade do presente, uma energia com futuro?

Entre as várias formas de energia renovável, como sejam a energia solar, a energia eólica, a energia geotérmica, entre outras, conta-se a energia da biomassa. Esta forma de energia baseia-se na transformação de produtos e resíduos provenientes da agricultura, da floresta e da fracção biodegradável dos resíduos industriais e urbanos.

Os recursos renováveis representam actualmente cerca de 20% do fornecimento total de energia no mundo, com cerca de 14% proveniente da biomassa.
A queima de biomassa (predominantemente sólida) pode ser aproveitada para produzir calor para o aquecimento de habitações e águas e/ou produzir electricidade.

A matéria-prima.
As fontes de biomassa sólida são muito diversas. A principal corresponde aos resíduos florestais. Outras fontes igualmente importantes são os resíduos das vinhas e da indústria do vinho, as podas das árvores, o bagaço da azeitona, as gramíneas, como o feno e a palha, etc …. Um hectare de palha, por exemplo, possui um teor de energia de 73 gigajoules, o equivalente aproximadamente a 2.000 litros de gasóleo de aquecimento.

Os resíduos da indústria da madeira, sempre que apresentam impurezas incorporadas não servem para a transformação em sub-produtos daquela mesma indústria, razão pela qual podem ser encaminhados para a reciclagem energética.

Os materiais em fim de vida, como mobiliário deteriorado e madeira velha também podem ser valorizados energeticamente, desde que a sua reciclagem cumpra com a legislação relativa a contaminações por substâncias tóxicas, tais como tintas e/ou outros componentes químicos.

Existem ainda outras fontes de resíduos de madeira como aqueles que são recolhidos durante as actividades de limpeza e manutenção, nomeadamente em estradas, parques e jardins. Estes resíduos são geralmente uma mistura de madeira, folhas, troncos e solo, nos quais poderão estar incorporadas algumas embalagens de cartão e plástico. Devido a estas características, a valorização energética deste tipo de material deve ser bem controlada de modo a evitar a libertação, em níveis elevados, de substâncias tóxicas para a atmosfera.

Biomassa e política energética em Portugal
A floresta portuguesa cobre cerca de 38% do território nacional originando 2.2 milhões de toneladas de resíduos florestais. Estes, constituem o potencial de biomassa florestal existente em Portugal, com capacidade para gerarem 6.6 milhões de MWh de energia.

Contudo, o estado de abandono da floresta portuguesa nos últimos anos, a não existência de uma política florestal eficiente, a falta de incentivos fiscais, a grande agressividade de sectores concorrentes, como o do gás, entre outros, não permitem a eficiente valorização da biomassa florestal no nosso país.

A política energética nacional tem-se baseado na Resolução do Conselho de Ministros nº 169/2005 de 24 de Outubro, que estabelece a Estratégia Nacional para a Energia. No que respeita à valorização da biomassa, o documento apontava à data da sua publicação, para a necessidade de aumentar a potência instalada, mediante a construção de novas centrais termoeléctricas a funcionarem com biomassa florestal, de modo a atingir-se uma potência global de 100MW.

É pois fundamental, no sentido de se atingirem as metas traçadas a nível mundial, e no que respeita ao acesso de todos os povos à energia, que Portugal dê o seu contributo, tomando parte neste esforço global, nomeadamente reforçando o seu investimento nas formas de energia renováveis. A biomassa é uma das opções possíveis! 



(este artigo foi publicado na revista "Reis", de 01/12)