A tarde vai fria. Nada que seja de estranhar pois estamos ainda no Inverno.
No meio da vasa, como que perdida numa imensa superfície escura e de odor penetrante, uma pequena ave com apenas 18 cm de comprimento, basculha meticulosamente o lodo. Destaca-se à distância pelo contraste oferecido pelas tonalidades claras e escuras do seu corpo.
Trata-se de um borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula).
Visto de frente revela claramente uma barra escura peitoral, manchas pretas na cabeça, bico escuro e patas de tonalidade alaranjada.
Visto de trás, confirma-se uma homogeneidade da sua plumagem acastanhada por cima e branca por baixo.
Mas é quando a ave se encontra bem pertinho que podemos desfrutar de toda a sua beleza!
O branco da fronte, da lista superciliar e da garganta destacando-se entre o negro da barra peitoral, aliados à bonita coloração das patas marcam a bela imagem desta ave, quando no estado adulto.
O borrelho-grande-de-coleira é uma ave comum na Ria de Aveiro durante o Inverno e durante as passagens migratórias, podendo ser observado com frequência integrando grupos mistos.
Durante a baixa-mar é frequente vê-lo a correr rápido sobre o lodaçal e de repente estacar, ficando completamente imóvel e atento ao seu redor ...
Quando o Inverno chega ao fim e as aves se preparam para partir para maiores latitudes, onde irão procriar, começam a sofrer transformações cromáticas em diversas partes do seu corpo.
O bico que era totalmente escuro começa a adquirir gradualmente cor alaranjada e as patas que eram de um alaranjado suave passam a intensificar essa mesma cor.
Concluído o desenvolvimento das crias a espécie migrará de novo, para sul, começando a ser vista na Ria de Aveiro por finais de Agosto.
Das aves em migração, umas descansarão e alimentar-se-ão por aqui antes de prosseguirem viagem para África, mas outras manter-se-ão pela Ria para proporcionarem mais um Inverno de belos registos.
Sem comentários:
Enviar um comentário