sábado, 4 de março de 2023

Desertos verdes





A mata atlântica portuguesa, que reveste toda a região litoral desde o Minho ao Ribatejo, é dominada por povoamentos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Esta árvore, autóctone no sudoeste da Europa, começou por surgir de forma natural, embora nos dias de hoje a sua existência se deva essencialmente ao resultado de sucessivas plantações, que acabaram por atingir o território mais interior do país.




Desde tempos recuados que as matas de pinheiro-bravo (ou marítimo, como também é conhecido por motivos fitogeográficos) se foram implantando com o intuito de fixação das areias arrastadas pelas nortadas, predominantes na costa norte portuguesa.




Por esta razão, pela madeira e demais essências que essas árvores fornecem, os pinhais fazem parte da memória colectiva das sucessivas gerações de povos costeiros.


 


Disseminadas nestas monoculturas de pinheiro-bravo podem surgir, de forma mais ou menos localizada, outras espécies arbóreas, como o pinheiro-manso (Pinus pinea), o carvalho-alvarinho (Quercus robur), o amieiro (Alnus glutinosa), o loureiro (Laurus nobilis), o sabugueiro (Sambucus nigra), o ulmeiro (Ulmus minor), o medronheiro (Arbutus unedo), etc.



No estrato inferior dos pinhais atlânticos surgem comunidades arbustivas de tojo-arnal (Ulex europaeus), sanganho-manso (Cistus salviifolius), gilbardeira (Ruscus aculeatus), queiró (Calluna vulgaris), camarinheira (Corema album), etc.





Contudo, desde meados do século XIX, a mata atlântica viria a sofrer uma drástica transformação no seu equilíbrio natural, com consequente perda da sua biodiversidade, pela plantação maciça de eucalipto (Eucalyptus globulus), espécie originária da Oceania, muito adaptável às condições do meio e do clima português mas grande sugadoira de água dos lençóis freáticos. 




Um verdadeiro desastre ecológico trazido por esta espécie invasora, sobre a qual nunca foi definido qualquer plano de erradicação dada a profícua rentabilidade da sua exploração para a indústria de produção de pasta de papel. 



As áreas para eucaliptal passaram a retirar protagonismo às áreas de pinhal e frequentemente as duas espécies passam a viver associadas.




Como se não bastasse a adulteração do coberto atlântico com a intromissão do eucalipto, desde finais do século XIX começa a colonização extensiva do território com algumas outras espécies exóticas, também elas provenientes da Oceania, as quais rapidamente se transformaram em terríveis invasoras. 

Acácias (Acacia sp.)!

 




Os pinhais são, então hoje, uma mancha arbórea completamente adulterada, que em anos recentes mais adulterada ficou com a invasão da sul-americana erva-das-pampas (Cortaderia selloana)!





(continua)


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