quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Covid 19 e as aves da nossa cidade*


Apesar do momento terrível que a humanidade atravessa e que nós ovarenses vivemos de forma muito intensa há sempre alguns acontecimentos que nos dão alguma alegria e esperança para os dias futuros. 

Alegria, também, perante a beleza que a natureza nos continua a brindar dia-a-dia e a esperança de que os maus momentos experimentados por todos nós sirvam para melhor sabermos valorizar a vida em todas as suas dimensões, nomeadamente a diversidade de ecossistemas, que traduzem em última estância a grande riqueza do nosso planeta.   


Vem este pensamento a propósito da chegada de mais uma Primavera e de todo o esplendor e magia associados a esta estação do ano. É que a Primavera faz encher os campos até então sombrios de flores multicoloridas, veste de verde as árvores nuas das cidades, traz chilreantes andorinhas aos beirais das nossas casas e entre outros mais, permite que delicadas borboletas esvoacem perante os nossos olhos encantados! 

Cada nova Primavera é sempre uma Primavera de novidades.

Há dois anos atrás a Primavera trouxe à nossa cidade um novo casal de cegonha-branca (Ciconia ciconia) que souberam aproveitar um tronco doente de uma palmeira para aí construírem o ninho e realizarem a criação do ano. Foi com tristeza, contudo, que um ano depois se constatou que essa árvore havia sido cortada impedindo para sempre a nidificação destas aves nesse local em Primaveras subsequentes. 




Mas a natureza é rica em oportunidades e quase sempre as espécies selvagens conseguem adaptar-se em tempo útil a novas situações. Também neste caso da cegonha-branca assim aconteceu. Corroborando o que diz o adágio popular de que "sempre que se fecha uma porta, abre-se uma janela", no corrente ano um novo casal desta espécie (ou quiçá o casal despojado da sua palmeira!) ocupou uma nova atalaia para aí instalar o ninho. E que atalaia!  Atalaia bem alta, bem no centro da cidade de Ovar.





Quase como que a desafiar que desta vez será pouco provável que dali sejam desalojados!

Muito interessante observar, embora a mais de meio quilómetro de distância, a vida destas aves.

A labuta diária naquilo que parece ser a vontade de construção de um ninho.... as inúmeras viagens feitas pelo casal para obtenção das ramagens e paus que transportam nos seus poderosos bicos... 





.....a forma como parecem seleccionar, naquela alta estrutura metálica, o melhor sítio onde assentar o ninho ......






....os momentos em que se entregam ao acasalamento......





...aqueles outros em que tiveram de defender o ninho perante a investida de um outro casal, ávido também por aquele "apartamento com tão boas vistas"...





Tem sido assim, durante as duas últimas semanas de Março, a Primavera para este casal de cegonhas-brancas a viverem nas alturas e ao ritmo das suas vidas, indiferentes às preocupações dos ovarenses a viverem cá mais por baixo a um ritmo estranhamente diferente do habitual.


A Primavera é assim ... sempre linda de se ver e sentir....porque constitui uma etapa de renovação e esperança! Para as cegonhas e para o homem.





* o texto e as fotos foram produzidos cumprindo na íntegra o período de quarentena imposto pela pandemia do Covid-19.

(este texto virá a ser publicado no quinzenário ovarense João Semana, de 1/6/2020)

Sem comentários: