A manhã, hoje, acordou mais fria e a falta de vento fez com que a neblina matinal demorasse a dissipar sobre o manto verde do parque.
...estão agora praticamente despidos, faltando-lhes cair apenas algumas folhas encarquilhadas pelo frio das últimas noites.
Sobre o prado e sobre a folhagem desassombrada do arvoredo vêem-se algumas borboletas, comuns, mas sempre de voo gracioso. Entre elas destaca-se a Borboleta-dos-muros (Pararge aegeria).
Mas é longe daqui, nas zonas húmidas da região aveirense, onde a extensa mancha de Caniçal (Phragmites communis) constitui um microclima privilegiado nesta época do ano, que o burburinho produzido pelas aves durante a Primavera e o Verão cedeu lugar ao rodopio de uma miríade de insectos, extraordinariamente irrequietos, como que apressados em atingir algo de importante para as suas vidas.
Esse frenesim chama a atenção de qualquer passageiro menos alheado, bem como, de algumas aves insectívoras abundantes neste ecossistema, como o Cartaxo-comum (Saxicola torquata).
Voando em todas as direcções, sobre o canavial, andam libélulas "flecha", umas, solitárias, mas a maioria encavaladas, macho sobre fêmea, numa cópula iniciada momentos antes nalguma planta ribeirinha mas agora continuada no ar.
O peculiar emparelhamento deste grupo de insectos prossegue até que a fêmea, frequentemente em voo, deposita os ovos directamente nas águas calmas do esteiro próximo, mediante a extremidade tubular saída do seu abdómen.
Dentro desta família, Libellulidae, destaca-se a Sympetrum meridionale. Esta libélula, de cabeça, tórax e abdómen avermelhados pousa frequentemente num ramo ou numa das suas folhas, para dali atirar-se em voo rápido sobre as presas que avista, voltando posteriormente ao reconfortante poiso.
A sua parente Sympetrum striolatum, de patas e marcas no abdómen bem escuras, é ainda mais comum nas proximidades de águas pouco movimentadas.
Um olhar atento sobre a resteva do caniço, permite vislumbrar uma multidão de Saltões, da família Acrididae, perfeitamente mimetizados com o meio, como é timbre deste grupo de insectos. Tratam-se de indivíduos de Locusta migratoria.
Não param quietos, dando pequenos saltos para ali e para acolá, interagindo fortemente uns com os outros. Os machos, de cor acastanhada, perseguem-se e embatem-se, com os vizinhos ...
... e rodopiam constantemente em volta das esverdeadas fêmeas.
As cópulas sucedem-se, neste habitat húmido mas aquecido pelo forte calor que se faz sentir, com os machos, de cor pardacenta e de menor envergadura, sobre as fêmeas.
Miméticos, graças à variabilidade das suas cores, encontram-se também, sobretudo as fêmeas, sobre as folhas verdes da vegetação próxima.
Parece que todos eles procuram recolher o máximo de energia, disputando constantemente ao vizinho cada porção de espaço. É como se pressentissem o fim dos dias soalheiros e a chegada do frio e das chuvas!
É, pois, urgente para todos eles acasalarem e depositarem os ovos em local apropriado, pois brevemente, recolher-se-ão a um inactivismo que durará até à próxima Primavera.
As borboletas que se avistavam no Parque Urbano também por aqui andam. Essas e outras, como a Borboleta-da-couve (Pieris brassicae), esvoaçam sobre a vegetação ruderal, já com a sua última postura do ano realizada.
As simpáticas Joaninhas, família Coccinellidae, são na sua grande maioria carnívoras, fazendo um controlo das populações de diferentes famílias de Pulgões.
Andam também elas a prepararem-se para a hibernação que vai chegar, como a Joaninha-de-duas-pintas (Adalia bipunctata), numa variação cromática que a identifica como de "idade avançada".
Também a pequena Cigarrinha-verde (Cicadella viridis), de asas azuis nos machos, está prestes a abandonar, por este ano, a vida da sua fase adulta. Para já, e enquanto as condições ambientais o permitirem, ainda se vai avistando pousada sobre as folhas, sugando avidamente a seiva que lhes irá fornecer as tão importantes reservas nutricionais.
Os Abelhões (Bombus sp.), são insectos sociais que no Outono terminam a sua função de recolectores de pólen. Em breve, só as fêmeas fecundadas irão sobreviver aos rigores do Inverno.
Enquanto esse crucial momento não chega deliciemo-nos em apreciar estes últimos voos, pesados, de flor em flor, sempre acompanhados de uma sonoridade melodiosa tão característica...o seu zumbido.
Também os machos jovens de Vespa-comum (Vespula vulgaris) que fecundaram as fêmeas, futuras rainhas das colmeias, preparam-se para morrer, após um curtíssimo ciclo de vida que teve início em finais de Verão.
A terminar este apontamento sobre estes delicados seres, cuja vida decorre ao ritmo das metamorfoses, ficaria em falta lembrar que os últimos sopros de vida dos insectos neste Outono, nomeadamente a sua já próxima hibernação, andam a par da vida, também ela de letargia próxima, de alguns dos seus predadores ... como a Rã-verde (Rana perezi) e a lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei).
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