quarta-feira, 5 de abril de 2023

Desertos verdes (III)




(continuação)


Quanto mais se deambulava para o interior da mata, mais fácil era dar de caras com columbídeos, próximos de seus ninhos.

O forte bater de asas, num voo de alarme, do pombo-torcaz (Columba palumbus) obrigava a estancar. Decorrido algum tempo e com grande probabilidade podia-se encontrar esta ave a alimentar-se no solo florestal.


 

De não muito longe se escutavam os arrulhos da rola-brava (Streptopelia turtur), recém chegada de África e por esses tempos ainda relativamente comum. 

Atentando na direcção dos seus sons procurava-se descobri-la, até que ... lá estava ela! Poisada elegantemente no cimo de um ramo. 

Linda, com seu peito rosa com laivo azulado e apresentando um conjunto de riscas brancas e pretas dos lados do pescoço.




Os troncos dos pinheiros-bravos localizados bem no interior do pinhal eram altos e hirtos, pois encontravam-se fora do alcance dos fortes ventos mareiros.






Isso não impedia que algumas árvores tombassem de velhice, aquando das invernias ...




... formando-se, então, clareiras no interior da mata...



... onde não poucas vezes se deparava com algum coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), a pastar ou de orelhas no ar, porque alertado pelo barulho da nossa aproximação.




Era, também, sobre estas zonas mais ralas que as águias-d'asa-redonda (Buteo buteo) gostavam de pairar frequentemente, pois dispunham de um maior campo de visão e de acção, para capturarem as suas presas. 

 



Deixando para trás a clareira, a mata voltava-se a fechar, dificultando a passagem da luz solar e parecendo querer apressar o regresso.




Contudo, os sons ambientes, de tão apelativos, abandonavam logo esta ideia e o regresso era sempre, invariavelmente, protelado.  


Desta vez, era o tamborilar ruidoso e rápido do pica-pau-malhado-grande (Dendrocopus major), uma dos seres mais belos da avifauna florestal, que nos prendia e motivava a continuar.





(continua)



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