sexta-feira, 3 de maio de 2024

Degelo glaciar: a erosão costeira no concelho de Ovar

 





(continuação)


A erosão do litoral ovarense é um fenómeno bem antigo, que se começou a manifestar de uma forma mais notória a partir de meados do século passado.

Durante o final da década de 40 e princípios da década de 50, as taxas de recuo da linha de costa eram relativamente baixas em toda a frente concelhia, ligeiramente maiores a norte do Furadouro do que a sul. 

Durante essa mesma década de 50 e nas duas décadas seguintes viria a ocorrer uma mudança muito significativa no grau de erosão das praias do concelho. Enquanto os sectores de praia a norte do Furadouro, por finais dos anos 70, mantinham uma taxa de erosão baixa e estável, a zona sul, pelo contrário, sofria um acentuado recuo, tendo-se atingido taxas quatro vezes superiores aos valores registados a meio do século.

Contudo, o pior estava para vir. Nas décadas de 80 e 90 a erosão atingiu severamente todo o litoral do concelho, voltando a aumentar a taxa de recuo a norte do Furadouro, com especial incidência no sector de Maceda (3).



A falta de areia na corrente de deriva oceânica e o elevado número de estruturas pesadas de engenharia, implantadas desde o Furadouro até à foz do Douro, eram de longe as principais causas deste desgaste que o litoral ovarense ia apresentando (1,2).




Com a entrada no novo milénio, a frequência de galgamentos oceânicos aumentou, representando estes episódios uma constante ameaça sobre a frente marítima, com taxas anuais de recuo da linha de costa nunca antes alcançadas (4).

O efeito das alterações climáticas, nomeadamente com o crescente degelo dos glaciares do Árctico, incrementou a subida do nível do mar face ao que era habitual até finais do milénio anterior.

Perante este novo e dramático cenário, a frente marítima vareira passa, definitivamente, a constituir-se como a zona mais erodida do litoral português. Uma zona de vulnerabilidade excepcional, para a qual já se apontavam soluções urgentes, desde os finais dos anos 90 face ao colapso contínuo do cordão dunar (1,3).




(continua)


(1) Reis, A. (2000). Avaliação da rosão costeira entre as praias de S. Pedro de Maceda e do Torrão do lameiro (Ovar). Dissertação de Mestrado. Universidade de Aveiro.

(2) Reis, A. (2002). Quando o mar enrola na areia

(3) Reis, A. (2006). A praia dos tubarões.

(4) Reis, A. (2009). Estudo não publicado.



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