sexta-feira, 12 de julho de 2024

A cegonha-branca (IV)

 




(continuação)


As crias de cegonha-branca (Ciconia ciconia) estão, por finais do mês de Maio, já muito desenvolvidas. 

A primogénita, sob o olhar atento do progenitor e o olhar complacente do irmão mais novo, vai exercitando no ninho o batimento de asas, primeiro passo para a futura aptidão de voo.



Antes dos dois meses de idade, lá por alturas dos santos populares, os juvenis de cegonha-branca (Ciconia ciconia) já abandonam o ninho, embora regressem a ele para serem alimentados pelos pais e para nele passarem a noite.



Só por meados do terceiro mês de vida é que as jovens cegonhas começarão a ser totalmente independentes, dispersando-se por prados e lameiros à procura de alimento. É, então que, cada vez serão mais os ninhos que se avistam vazios e maiores os bandos dispersos pelos campos.



Progenitores e juvenis basculham incessantemente cada palmo de terra, em busca da quantidade de alimento necessária para permitir a cada ave atingir os níveis de energia requeridos para a esgotante migração, que muito em breve terão de realizar.

Entre os recursos alimentares da cegonha-branca, mencionados no apontamento anterior, conta-se pela sua abundância, o lagostim-vermelho-da-Louisiana (Procambarus clarkii). 

Esta espécie, introduzida como exótica, proliferou de tal maneira que, constitui-se invasora em diversos meios aquáticos de Portugal continental e simultaneamente uma preciosa fonte de biomassa para as cegonhas. 



O verão, apesar de experimentar uma exposição solar cada vez mais curta, segue abrasador, oferecendo em cada mágico pôr-do-sol sensações inesquecíveis, recordadas amiúde alguns meses depois.




A meio de Agosto, as cegonhas-brancas deixarão de se observar pela região aveirense, pois já iniciaram a sua deslocação para sul.

Umas permanecerão em território continental, errando pelas estepes do sul da Ibéria. Outras, pelo contrário, formarão bandos migratórios, juntamente com algumas centenas de exemplares provenientes de outros países do centro e norte europeus. 

Estes grandes bandos atravessarão o Estreito de Gibraltar até à África central e do sul, numa viagem que demorará, em média, cerca de metade do tempo gasto na migração primaveril, devido à boleia oferecida pelos ventos predominantes de norte/noroeste. 



Deste modo se encerra mais um período de estadia da cegonha-branca entre nós. As que sobreviverem, sobretudo à caça ilegal e à poluição por pesticidas - práticas comuns em África - regressarão à nossa região no final do ano, quando as invernantes portuguesas, fiéis ao local de nascimento, se deslocarem de novo para norte. 



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