sexta-feira, 19 de julho de 2024

Um mês de Verão

 









O verão, no calendário, leva um mês de existência. As características meteorológicas destes últimos trinta dias, contudo, não o demonstram. 

Aos dias solarengos e mais aquecidos sucedem-se em ciclos alternados, outros, em que a temperatura desce vários graus e o sol se ausenta encoberto por um céu cerrado de cinza retinto.




A chuva miudinha, caída a medo durante esta noite, faz acordar a manhã com um aroma adocicado, que apetece saborear. A atmosfera repleta de gases, a ela estranhos, ficou assim lavada. E com ela também o foram os solos e as águas. 




Os seres vivos, elos importantes desta engrenagem natural, saem, por sua vez, todos a ganhar. Água, é a base da vida e quando cai após um significativo período de ausência, é suficiente para revitalizar rapidamente as energias de todos os viventes. 

Nas bolsas de água menos agitadas, os alfaiates (Gerris lacustris), sempre presentes, parecem surgir agora em maior número. Esta biomassa aquática é fundamental num período em que os ciclos reprodutores das suas presas (outros insectos e larvas) e dos seus predadores (anfíbios e aranhas) atingem um pico em número de indivíduos existentes.




Estes dias de verão, molhados e de temperaturas amenas, trazem para fora dos seus refúgios, tanto do subsolo como da superfície, vários outros seres. 

Entre eles destacam-se os moluscos, como a lesma-preta (Arion ater), habitualmente recolhida por entre a vegetação arbustiva, mas agora completamente exposta, na senda de alimento.



Também os anelídeos, como as minhocas (Lumbricus sp.), impulsionados para a superfície, saciam os apetites do melro-preto (Turdus merula) e de outros comensais.



Os musgos e líquenes humedecidos, convidativos a toda uma casta de insectos, atraem diversas espécies de pássaros que deles se alimentam, como a bela e traquina alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea).  




Também os roedores, como a ratazana-castanha (Rattus norvegicus), intensificaram a sua actividade; basta constatar a frequência com que passaram a ocorrer os seus avistamentos, nomeadamente dentro de água.  A chuva caída arrastou nutrientes das margens e outros do fundo, criando novas disponibilidades alimentares.



Não restam dúvidas de que esta bênção caída do céu, por pequena que tenha sido a sua duração, se infiltrou em tudo aquilo que apresente capacidade de absorção. Daí os répteis se exporem por esta altura, já que formam um grupo de animais que também depende dos pequenos invertebrados. É isto mesmo que a lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei) anda a fazer, caçando insectos xilófagos espevitados pelo ensopado da madeira.




Enquanto o verão segue com este padrão climatérico, em que as temperaturas do ar não aquecem a sério - secando o solo e as águas, queimando as florestas e os matos - os seres vivos continuarão a revelar-se de forma notória, pois as condições do meio assim o permitem, obrigando-os a terminar, quanto antes, a tarefa que iniciaram na primavera; a produção de novas vidas




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