O Verão, quente e seco, encontrou a marisma órfã da sua pequena garça.
As colónias, antes repletas e confusas, estão agora silenciadas e vazias.
De pequenas dimensões, estes seres fixam-se às folhas e caules, ...
... e alguns deles, como as carraças (ordem Ixodida), por necessidades da sua fisiologia, saltam a gosto para animais de sangue quente, como o gado bovino, quando por esses pastos se alimenta.
Esta relação de parasitismo exercida pelas carraças sobre o gado seria terrível para este - pois aquelas constituem-se como perigosos vectores de transmissão de doenças - caso não existissem predadores especializados no controlo desses invertebrados.
E, é aqui que entra em jogo a nossa garça.
Dado as carraças constituírem deliciosos petiscos para a garça-boieira ou carraceira, como também é apelidada, não haverá, por certo, bovinos a pastar pelos campos que não arrastem atrás de si uma ou várias garças-boieiras.
Cobertos por uma imensidão de carraças, os bovinos são autênticos "restaurantes ambulantes" para as garças-boieiras.
Estas, ao mesmo tempo que obtêm alimento abundante, actuam como elementos sanitários do gado, num tipo de relação positiva, denominada pela ciência de "mutualismo facultativo".
O Verão passará e com ele o calor, incubador de insectos e aracnídeos, como as carraças. As populações de artrópodes diminuirão, mas a garça-boieira continuará a ser vista pelos campos durante o Outono e Inverno, pois estes sempre oferecerão alimento a este grupo de aves.
E quando o Inverno passar, esta bela garça regressará à marisma para cumprir mais um ciclo de vida!