sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Veraneantes (II)

 





(continuação)


Após alguns dias em que as manhãs clarearam bem cedo, voltámos a acordar sob uma neblina densa e persistente, que apenas o meio dia solar irá conseguir dispersar.




A marisma sob o efeito das marés-vivas apresenta, quando na baixa-mar, mais lodo que água. Praticamente despercebidos, pelo tamanho e coloração da plumagem, circulam nas praias de vaza alguns pilritos-de-peito-preto (Calidris alpina) adultos. Tratam-se de indivíduos que não empreenderam a migração primaveril para as zonas habituais de reprodução no norte da europa. 



Além desta espécie, considerada na bibliografia como migradora de passagem e invernante, também por aqui andam outras espécies a quem é atribuído igual estatuto.


O borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula) é uma delas, podendo-se avistar vários indivíduos dispersos pelos lodaçais durante o verão.



Associando-se ao borrelho surge a rola-do-mar (Arenaria interpres), outra das espécies que parece insistir numa mudança do seu calendário de ocorrência.



Considerada uma ave de passagem, o maçarico-galego (Numenius phaeopus) é na verdade uma espécie residente em Portugal, já que ocorre em diferentes zonas húmidas durante todo o ano. Não são raros os grupos de indivíduos desta espécie associados a outras limícolas e gaivotas.



Uma das limícolas mais atraentes da fauna portuguesa é a íbis-preta (Plegadis falcinellus). Embora no passado fosse uma espécie muito pouco abundante e associada às passagens migratórias - também porque a sua distribuição europeia era muito localizada - no presente é cada vez mais frequente, ocorrendo em grandes bandos ao longo de todo o ano e com nidificação confirmada a norte do Tejo.



Para terminar este apontamento sobre os veraneantes - que ainda não o são nos compêndios da especialidade - refere-se o conhecido e espectacular flamingo-comum (Phoenicopterus roseus).



Ausentes do norte do país até à década de 90 do século passado, o flamingo começou por ser uma espécie avistada durante o inverno, mas hoje está presente ao longo de todo o ano. 

A invisibilidade temporária da espécie na região não implica que aquela esteja ausente da mesma e por conseguinte não possa ser considerada como espécie residente.



À medida que o astro-rei vai declinando, a marisma ganha um contra-luz deveras encantador. 

Ao contemplar este grupo de belíssimos flamingos adultos alimentando-se neste final de tarde de verão, não parecem restar dúvidas de que as alterações climáticas são a principal causa das modificações na distribuição das espécies vivas em todo o planeta. 



Este impacto das alterações do clima torna-se muito mais visível nas espécies migratórias, já que os seus calendários são condicionados pela variabilidade climática das próprias estações do ano. Os exemplos apresentados neste apontamento são prova disso. 


Sem comentários: