sexta-feira, 28 de maio de 2021

Um dia na Quinta de Chão de Carvalhos

 

Chegado, pela manhã, à Quinta de Chão de Carvalhos, a ausência do turbilhão de sons que minutos antes se faziam sentir nas rodovias de acesso é compensado pela harmoniosa sinfonia da passarada, que me recebe desde o portão e ao longo do carreiro de acesso ao interior da propriedade. Nesse encantador coro destacam-se os alegres gorjeios dos melros e das toutinegras.


Àquela hora o sol ainda vai baixo e as sombras projectam-se sobre o casario da Quinta, a actual e muito bonita sede da FAPAS. Nas proximidades, saltitando entre o chão e o murete que suporta uma merecida placa de bronze homenageando a proprietária e doadora da Quinta, anda um rabirruivo-preto, que deverá ter criado bem perto dali. Do interior dos arbustos ouve-se o bonito canto da toutinegra-de-barrete e saem, esvoaçando alarmados, melros-pretos que passam à minha frente em voos fortes e rápidos.


Deixo aquele espaço repleto de arbustos, algumas árvores de fruto e muitas outras ornamentais, desde camélias, roseiras e um florido tulipeiro-da-Virgínia e sigo em direcção ao bosque de folhosas. 









Neste troço, e pelo facto de existirem outros terrenos de cultivo adjacentes, os avistamentos de melro-preto aumentam significativamente.



É debaixo do carvalhal que a minha cabeça passa a girar insistentemente para cima, entre os 45º e os 90º, pois os sons das aves cantoras multiplicam-se e diversificam-se. 







Chapins-reais e chapins-azuis ouvem-se e veem-se a saltitar entre as ramagens. Os verdilhões e os tentilhões-comuns acompanham-nos nas cantorias. Calcorreando os altos troncos trepadeiras-comuns deixam-se, por vezes, observar de forma furtiva e não longe dali ouve-se o canto vibrante do pica-pau-malhado-grande. Por aqui me deixei ficar a escutar e a observar atentamente os passeriformes … e a manhã, que acordou quente, foi ficando cada vez mais aquecida.



O solo do bosque, atapetado com arbustos rasteiros e fetos, não impede que alguns fungos ainda exibam os seus proeminentes chapéus, pois, a chuva que tem caído assim o vai permitindo.




Desço finalmente a encosta e atravesso o limite do prado na direcção do velho moinho junto ao rio. É lindíssimo o prado que os meus olhos têm pela frente a meio do dia, precisamente quando os raios solares o atingem em cheio. 






Pequenas pétalas vermelhas, brancas, roxas e amarelas sobressaem por entre a vastidão das gramíneas ...













... atraindo inúmeras e diferentes espécies de borboletas … acho mesmo que esta porção da quinta é um autêntico borboletário!





As gramíneas atraem uma multidão de insectos … moscas, aranhas, pulgões, joaninhas, vespas, abelhões, … imprescindíveis como fonte de alimento para diferentes espécies de aves, mamíferos e répteis que vivem neste pequeno ecossistema.





Caminhando através do prado, com as plantas a acariciarem saborosamente as minhas passadas, vou descobrindo inúmeros fungos, cada um com seu particular chapéu, mas todos afogados pela grande densidade da vegetação.








Os altos choupos, freixos e amieiros que formam a galeria ripícola do Febros, abrigam gaios-comuns que vêm alimentar-se também ao solo, sobretudo ao princípio da manhã e ao fim da tarde. As sombras deste arvoredo, o som relaxante da água a tombar na cachoeira e o apetite que, entretanto, foi crescendo dentro de mim convidam a usufruir devidamente deste lugar.





Enquanto reabastecia energias, abrigado pela sombra dum frondoso amieiro, fui observando o trabalho laborioso dos insectos na obtenção de alimento. Todos eles esvoaçavam entre as plantas, para logo de seguida repousarem longamente sobre as mesmas. Uns preferiam explorar as folhas, outros as pétalas, outros as infrutescências; mas todos com o mesmo e único objectivo.







Ao inicio da tarde, o prado começou a ser cruzado, de novo, pelos rápidos pombos-torcazes, que durante a manhã já tinham sido presença frequente por estas paragens. 



Sem se sentir perturbada, uma águia-d’asa-redonda surge baixa vinda do bosque, sobrevoa uma belíssima aveleira de ramos espreguiçados sobre o solo, afastando-se para o outro lado do rio, enquanto ao longe se escuta o canto abafado de um cuco-canoro.




As gralhas-pretas cruzam também o ar vindas de outras quintas próximas onde encontram alimento fácil. 



E a andorinha-das-chaminés, que este ano ainda não pôde escolher a quinta para nidificar, vem de ninhos próximos caçar ao prado os insectos que por aqui abundam e que vão alimentar as suas crias.


No bosque, as heras, bem abraçadinhas aos altos troncos do arvoredo, são agora banhadas pelos raios do sol, apresentando-se, assim, com uma nova magia. Elas e a multidão de insectos que em seu torno se deixam ver, porque bem iluminados.


Enquanto a tarde avança, a luz no bosque vai declinando...



... e também vai chegando a hora da minha partida... 


É com grande felicidade que deixo este verdadeiro Refúgio Ecológico, onde a enorme tranquilidade, o cantarolar do rio, os sons do bosque, o calor do prado, os odores do pomar e das ornamentais, enchem completamente a minha alma. E como que em tom de despedida, dois piscos-de-peito-ruivo surgem, à vez, saltitando no chão do caminho, efectuando as suas clássicas vénias, como que, gratos pela minha estadia na Quinta de Chão de Carvalhos.


Vale bem por aqui passar!



 

 

sexta-feira, 21 de maio de 2021