sexta-feira, 29 de setembro de 2023

A migração pós-nupcial: os anatídeos

 





Desde meados de Agosto que ao território nacional começaram a chegar os primeiros migradores provenientes do norte da Europa, alguns dos quais por aqui ficarão durante o Outono e Inverno, enquanto outros seguirão viagem para o continente africano. 

A estes últimos juntar-se-ão as espécies que criaram por cá mas que partirão também no final do Verão para essas latitudes meridionais. 

Trata-se da migração pós-nupcial, também conhecida por migração outonal.


Durante este movimento migratório ocorrem avistamentos de algumas espécies que, por razões diversas, nomeadamente de natureza climatérica, são arrastadas para fora dos seus corredores migratórios (por exemplo, exemplares provenientes da Europa do leste e da América do Norte), passando a integrar outros bandos de aves. Estas espécies, ditas acidentais, são pois de um interesse muito particular.

Por este conjunto de razões a migração pós-nupcial merece uma atenção muito particular, tal como já o foi demonstrado, em alguns apontamentos neste espaço, nomeadamente em "Migradores outonais na Ria de Aveiro", de 2020 e "Migradores outonais na faixa litoral aveirense", de 2021. 

Hoje, o mesmo tema será explorado, não de uma forma transversal como nesses apontamentos, mas antes direccionado para um grupo bem definido de aves.


Entre os migradores outonais que chegam a território português destacam-se as espécies pertencentes à família dos Anatídeos. Todos eles são aquáticos, possuindo patas curtas com membranas interdigitais, pescoço mais ou menos comprido e bico achatado com lamelas filtradoras.


Entre os anatídeos, os de maior envergadura que podem ocorrer em Portugal, embora em reduzidos números, são os cisnes (subfamília Cygnidae). Fugindo aos gelos que lhes reduzem habitat e alimento disponível vão descendo ao longo das costas europeias, frequentando estuários, rias e lagunas. De uma brancura imaculada quando adultos oferecem um espectáculo digno de se observar sempre que têm que levantar voo da água.

Dentro desta subfamília de aves destaca-se o cisne-bravo (Cygnus cygnus), que se distingue pelo seu bico amarelo com ponta negra. Dado ser considerado muito raro, pelos poucos registos existentes, cada avistamento é um importante registo para o melhor conhecimento da sua estadia em Portugal.




Outro grupo de aves aquáticas que participam destas migrações outonais é o dos gansos (subfamília Anserinae). De menores dimensões que os cisnes são, contudo, aves de grande robustez. São avistados normalmente em bandos, voando numa formação em "V" ou em linha quebrada. 

Os gansos podem ser divididos em dois géneros; o dos gansos cinzentos (Anser) e o dos gansos brancos/negros (Branta).


Dentro do primeiro grupo salienta-se a espécie mais frequente, embora com uma ocorrência desigual ao longo do território nacional, que é o ganso-comum (Anser anser). As restantes espécies são de ocorrência acidental.

O ganso-comum apresenta uma plumagem cinzenta-acastanhada, um bico forte, alaranjado e patas de cor rosa-claro. 



Após a sua chegada dispersam-se, em grupos, pelos campos e zonas húmidas, frequentemente misturados com outras aves aquáticas.



Em voo, pode notar-se o contraste entre o cinza claro da parte anterior das coberturas das asas e o escuro da parte posterior. Contraste similar existe na face inferior das asas. 




Na maioria das vezes a espécie é detectada pelos característicos chamamentos que emite quando passa em voo alto.


Entre as espécies do género Branta, que migram para Portugal durante este período do ano, destaca-se o ganso-de-faces-brancas (Branta leucopsis).

Mais pequeno que um ganso-comum, distingue-se facilmente pelo pescoço, peito, coroa, patas e bico pretos, contrastando com o branco das faces e do abdómen. 



É uma espécie de ocorrência irregular, mas com diversos avistamentos em diferentes pontos do litoral português.


Finalmente temos o mais numeroso grupo de anatídeos migradores, que é formado pelos patos. Dado que nestas aves existe um grande dimorfismo sexual e inclusivamente entre as formas adultas e juvenis, apenas se fará referência às características morfológicas dos machos, pelas suas maiores evidências. 

Dentro deste grande grupo podem-se considerar dois sub-grupos; o dos patos-de-superfície (subfamília Anatinae) e o dos patos-mergulhadores (subfamília Aythyinae).


Entre os patos que se alimentam à superfície da água e que chegam a Portugal durante a migração outonal salientam-se a frisada, o arrabio, a piadeira-comum, a marrequinha, o pato-trombeteiro, o pato-branco e o pato-ferrugíneo. Todas estas espécies são frequentemente avistadas em grupos mistos, qualquer que seja o habitat de ocorrência.


A frisada (Anas strepera) apesar de ser uma espécie residente no sul do país é invernante no resto do território. Os indivíduos desta espécie são de grande discrição devido à tonalidade geral acinzentada, de onde sobressai um pequeno "espelho" branco nas asas. Em voo revela o abdómen branco e as supra-alares acastanhadas. A frisada é avistada em águas doces pouco profundas e com bastante vegetação aquática




O arrabio (Anas acuta), é sem sombra de dúvida um pato bastante esbelto, com uma longa e afilada cauda e um pescoço comprido e estreito. A particularidade de apresentar a pequena cabeça e a parte superior do pescoço castanhos enquanto a parte inferior do mesmo e o peito são brancos torna-os de muito fácil identificação. Não sendo uma espécie comum, quando chega a Portugal instala-se em diferentes habitats, tanto em lagoas costeiras e estuários como em albufeiras interiores, nadando com grande discrição por entre a vegetação.




A piadeira (Anas penelope) distingue-se dos restantes patos por todo um conjunto cromático de características facilmente observáveis. Uma cabeça relativamente grande, castanha-ruiva, com a testa e coroa de um amarelo-alaranjado, o peito rosado, o corpo cinzento-claro com zonas brancas e a cauda preta.




Ao contrário das espécies anteriores, a piadeira ocorre em grande número, habitualmente em bandos mistos, em lagoas costeiras, onde se fazem ouvir distintamente graças aos seus agudos assobios.




A marrequinha (Anas crecca), é o menor dos patos europeus. Algumas das suas principais características identificativas no campo passam, não só pelo tamanho, mas também pelos padrões castanho, verde e amarelo da cabeça, bem como, pelo amarelo bordejado a preto nos lados da parte traseira e por uma barra branca na parte superior das asas.




É um pato que ocorre em bandos numerosos em diferentes zonas húmidas, tanto do interior como litorais, conseguindo levantar voo muito rapidamente, frequentemente na vertical.


(continua)



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Concheiros (VIII)








O Verão chegou ao fim. 

O calor intenso deu lugar a dias mais frios e chuvosos. O mar deixou de estar manso e os finais de tarde perderam o encanto e relaxamento de há umas semanas atrás. O Outono, é já amanhã.


Ao correr da praia observa-se, então, que o mar não atira apenas conchas de moluscos para o areal. Há sectores em que o rebuliço do mar conseguiu levantar uma imensidade de seixos que cobriam o fundo de algumas barras submarinas, atirando os mesmos cá para fora.

Constata-se, assim, que os concheiros que até aqui fizeram as nossas delícias, foram substituídos por tapetes de calhaus rolados e pequenas rochas, também eles muito luzidios quando semi-submersos ou simplesmente humedecidos pelos espraios que a vazante ainda vai permitindo.



Tão encantados estamos com estes pequenos corpos bojudos, de tons claro-escuro, serenamente inanimados em toda a sua existência, que sofremos um choque visual ao olharmos um pouco mais para cima na praia, onde a omnipresente acumulação de lixo se torna notória de tanta assimetria, volumetria e cor. 




Uma espreitadela a este lixo marinho permite, contudo, descobrir novos vestígios de vida oceânica.


Os cefalópodes são moluscos de grandes dimensões e com um grau evolutivo que em nada se compara com os demais invertebrados desta classe. Apresentam uma forma cilíndrica, uma cabeça volumosa, olhos salientes, tentáculos com ventosas e por vezes são possuidores de barbatanas e de uma concha interna. 

Estes seres, ou melhor dizendo, as suas conchas internas costumam ser encontradas, precisamente na linha de maré alta, por entre a acumulação de detritos. 

Entre estas conchas internas destacam-se, pela abundância e peculiaridade, a do choco (Sepia officinalis), espécie que vive sobre os fundos de areia no andar infralitoral, por vezes em povoamentos de algas ou de ervas-marinhas (Zoostera sp.).






O maior filo do reino animal é o dos artrópodes. Este grande grupo, onde se incluem os insectos e as aranhas terrestres, que tão bem conhecemos, é dominado no ambiente marinho pela superclasse dos crustáceos, que se caracteriza pelos seus elementos apresentarem corpo segmentado, carapaça e cabeça com dois pares de antenas.


A sub-classe Cirripedia, caracteriza-se pelo facto dos indivíduos adultos apresentarem um esqueleto composto de placas, formando uma concha. 

Os perceves (Lepas anatifera), apresentam uma concha de 5 placas, brancas com alguma tonalidade acinzentada e um pedúnculo castanho. É um animal pelágico e gregário que vive fixo a rochas, cascos de embarcações e demais corpos submersos, sendo encontrado no areal agarrado a diferentes objectos que flutuaram durante muito tempo pelo oceano.



De regresso aos concheiros, que formam como que um campo "minado" ao longo da linha de maré, encontramos mais e mais testemunhos da vida que prolifera debaixo da água, nomeadamente com outros exemplares desta sub-classe.


As cracas (Chthamalus montagui), apresentam uma concha, de cor branco sujo, cónica, com 6 placas  rodeando uma abertura trapezoidal. Vivem sobre as rochas das zonas média e inferior do andar mediolitoral.




Os bálanos (Balanus perfuratus), possuem uma concha maciça, alta, cónica, com 6 placas, de coloração variável entre o branco e o rosado ...




... e de base porosa.




Esta espécie vive sobre a rocha nos andares mediolitoral inferior e infralitoral, fixando-se frequentemente a conchas de outras espécies que partilham o mesmo habitat.





 
A sub-classe Malacostraca caracteriza-se por os seus constituintes possuírem olhos, antenas e a cabeça e o tórax normalmente cobertos por uma carapaça.

Sem dúvida que a espécie deste grupo encontrada com mais frequência no areal é o caranguejo-mouro (Carcinus maenas). Embora a sua carapaça e patas sejam de cor verde-azeitona escuro, esta coloração vai desaparecendo ao longo do tempo ...




... e quando muito velha, totalmente despigmentada, apresenta-se esbranquiçada.





O caranguejo-mouro é um habitante tanto dos fundos arenosos como rochosos do andar infralitoral e mediolitoral inferior.




O filo dos equinodermes (com esqueleto, sistema hidrovascular e espinhos) está dividido em cinco classes, das quais importa salientar, pela frequência de arrojamentos, a das estrelas-do-mar (Asteroidea) e a dos ouriços-do-mar (Echinoidea).


As estrelas-do-mar possuem corpo achatado, com a maior parte das espécies  a apresentarem cinco braços. 

Entre elas destaca-se pela maior frequência de registos nas nossas praias, a Astropecten aranciacus, uma das maiores estrelas-do-mar europeias, atingindo os 60 cm de diâmetro. Quando viva tem a face dorsal de cor acastanhada e a face ventral clara, cores que se vão esbatendo quando morta. 



É um predador de moluscos que vive na areia, frequentemente enterrado, nos andares infralitoral e circalitoral superior.



Os ouriços-do-mar apresentam uma carapaça cheia de espinhos e fiadas de poros para entrada da água.

Entre os ouriços-do-mar, ditos regulares, por apresentarem entre outros, carapaça esférica, destaca-se o Paracentrotus lividus. 





Com um diâmetro de carapaça de 6 cm, cor variável entre o verde, o violeta e o castanho, apresenta espinhos de até 3 cm de comprimento



É um habitante do litoral rochoso, predominantemente nos andares mediolitoral inferior e infralitoral, até -30 metros; contudo, a sua presença também foi detectada no andar circalitoral.



Entre os ouriços-do-mar, ditos irregulares, salienta-se o Echinocardium cordatum. Entre as fiadas de pés ambulacrários há uma que se distingue das restantes quatro, pela sua inserção num sulco de maior profundidade desta peculiar carapaça cordiforme.




A coloração acastanhada da carapaça calcária, de 9 cm de comprimento, perde-se com a morte do animal, apresentando-se, então a mesma, de cor esbranquiçada.

A espécie escava nichos nos fundos arenosos, do andar mediolitoral inferior e andar infralitoral e circalitoral, até - 200 metros.




Apesar destes depósitos serem constituídos por pequenas carapaças de invertebrados, moradores dos fundos oceânicos, também reúnem vestígios de alguns vertebrados marinhos, como é o caso das espécies piscívoras cartilaginosas (classe Chondrichthyes)


Muito vulgares no areal são as cápsulas dos ovos do pata-roxa (Scyliorhinus canicula), um pequeno tubarão, que vive sobre fundos de areia dos andares infralitoral, circalitoral e batial, chegando a passar os -100 metros.

Estas cápsulas córneas, com 6 cm de comprimento e forma aproximadamente rectangular apresentam nos seus vértices filamentos retorcidos que permitem a sua fixação a algas ou a outros organismos subaquáticos.






Ao contrário da forma alongada que apresentam as cápsulas dos tubarões, as raias (Raja sp.) apresentam cápsulas negras, de contornos mais quadrados e com hastes mais ou menos compridas.

A cápsula da raia-lenga (Raja clavata), uma espécie que vive sobre fundos arenosos dos andares infralitoral e circalitoral, atinge os 15 cm de comprimento por 4 cm de largura. 








Chegados ao fim desta aventura, deve referir-se que esta série de apontamentos foi pensada, ilustrada e escrita, com a intenção de demonstrar a riqueza biológica que os populares concheiros das nossas praias encerram. 

Ademais, as espécies aqui identificadas não esgotam as possibilidades de serem encontradas várias outras. Basta tão somente, que se ponham os pés ao caminho (obrigatoriamente durante a maré vaza e de preferência com mar pouco agitado, por questões de segurança!) e atentamente se procurem na praia novas conchas e novas evidências, aumentando, assim, o leque de registos. 


Boa prospecção!



sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Chegaram os papa-moscas!

 




As temperaturas amenas, conjugadas com os aguaceiros dispersos que caíram na primeira semana de Setembro na faixa centro litoral, foram suficientes para rejuvenescer a natureza. 

Os solos e a flora, secos do Estio, humedeceram, ...




... os cursos de água foram avivados, os insectos parecem ter aumentado de número atulhando toda a atmosfera, ... 




... e os migradores insectívoros outonais, como os papa-moscas, começaram a ser vistos em grande número, independentemente do azimute traçado e do substrato arbóreo que vislumbremos.


Eles vêem-se nas árvores de folhagem já envelhecida, ...



... naquelas cujas folhas ainda irão amarelecer, ...



... ou nos silvados próximos das habitações.




Eles observam-se com alguma dificuldade, quando perfeitamente mimetizados com o meio, ...



... ou mais facilmente, quando destacados nalgum ramo despido.




Sem se demorarem muito em cada poiso, vão saltando entre diferentes ramos da mesma árvore, à procura de pequenos insectos e vermes, quase sempre semi-encobertos pelas ramagens, ...



... para, concluída a prospecção voarem para outra árvore mais afastada.



A estadia dos papa-moscas pelo litoral centro será curta, entre o final do Verão e o final do Outono, pois acabados de chegar do Norte seguirão viagem para a África Ocidental sub-Sariana, onde passarão o Inverno.


Das duas espécies ocorrentes em Portugal, o papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca) é o mais comum. 

Quando chega a Portugal em finais de Agosto, já traz a sua plumagem de Inverno, na qual a cor preta da cabeça e do dorso que os machos apresentam no Verão já está substituída por um castanho claro.



Nesta plumagem de Inverno os machos assemelham-se bastante às fêmeas. Contudo, uma pequena mancha na fronte e marcas alares brancas extensas distinguem-no daquela.


Sendo os insectos muito abundantes neste período do ano e sendo os mesmos a principal fonte de alimento destas aves, é frequente vê-las pousadas em locais onde os bandos de mosquitos se concentram...




... para logo a seguir, com a irrequietude que os caracteriza, lançarem-se em voo na sua captura.




Outras vezes descem ao solo, rapidamente e com grande verticalidade ...



... para capturarem alguma presa, regressando de imediato à segurança da árvore de onde se projectaram.



Muito menos frequente e muito mais discreto, com o estatuto de "quase ameaçado", é o papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata). 




Com as partes superiores de cor cinza uniforme e riscado da mesma cor na coroa, fronte, peito e lados da garganta e pescoço, não apresentam dimorfismo sexual visível.




O papa-moscas-cinzento é muito mais eficiente que o seu parente na captura de presas em voo, apresentando uma rota e um calendário migratórios semelhantes ao do seu congénere. 

 

Ao terminar este apontamento sobre duas espécies migratórias da nossa avifauna selvagem, resta esperar que ambas usufruam de boa estadia por cá, recuperem energias e quando decidirem partir ... façam uma boa viagem até ao Sul quente!



sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Concheiros (VII)








Como se tem constatado ao longo desta aventura exploratória sobre os concheiros marinhos, a coloração típica das espécies, tanto de gastrópodes como de bivalves, nem sempre se revela única. 

Esta circunstância, que não é também invulgar noutros seres vivos, fica a dever-se ao tipo de alimentação disponível em cada sector do oceano e à maior ou menor concentração de determinados sais, como os ferrosos, em cada uma dessas áreas marinhas. Repare-se, por exemplo, na diferença de intensidade de cor quando se compara o exemplar de berbigão agora apresentado com aquele outro ilustrado no apontamento anterior.






Mas continuemos.

Continuemos a caminhar pela praia, com os espraios suaves a refrescarem saborosamente as nossas passadas, em busca de novas espécies de moluscos ainda não avistadas.



Com conchas menos robustas e de aspecto bem mais luzidio começam a surgir várias outras espécies de bivalves, pertencentes a distintas famílias.

A ameijola (Mactra corallina), com uma concha triangular delgada, apresenta  um padrão raiado de castanho, desde o umbo. Esta espécie ocupa o substrato arenoso e cascalhento, no andar infralitoral, até aos - 100 metros.





A amêijoa-branca (Spisula solida), apresenta uma concha mais robusta que a espécie anterior, com sulcos concêntricos e uma coloração externa amarela esbranquiçada, com periostraco acastanhado. Vive na areia e no cascalho do andar infra-litoral, também até aos - 100 metros.






A conquilha ou cadelinha (Donax trunculus), aparentada com as telinas, apresenta uma concha cuneiforme, exteriormente de cor branca amarelada, com um comprimento duplo da largura e com faixas acastanhadas que se estendem do umbo ao bordo, o qual é vincadamente denteado na sua parte interna. A face interna da concha é de cor branca e púrpura. Vive em fundos de areia, no andar infralitoral, até - 20 metros.




Lutraria lutraria, apresenta uma grande concha oval, com estrias concêntricas, e com um perióstraco castanho esverdeado. Vive em fundos arenosos, lodosos e cascalhentos, do andar infralitoral, até aos - 100 metros.





A família das telinas (Tellinidae) é constituída por pequenos bivalves, de 2-4 cm de comprimento e com conchas de vivas colorações.

Tellina tenuis, é a espécie mais atraente da família em águas portuguesas, pois a sua delicada concha, interna e externamente, apresenta uma coloração muito viva entre o branco, o amarelo, o rosa e o laranja. Vive enterrada na areia das zonas média e inferior do andar mediolitoral e do andar infralitoral. 

Devido à grande força de ligação que existe entre as suas valvas, são encontradas na praia frequentemente com as valvas unidas e abertas, assemelhando-se a uma borboleta.





As navalhas ou lingueirões devem o seu nome à forma alongada e estreita das suas conchas. Estas espécies vivem enterradas, em posição vertical, nos fundos móveis.

O longueirão-direito (Ensis siliqua), apresenta os bordos da concha com grande paralelismo. De cor esbranquiçada, com perióstraco esverdeado, vive nos fundos arenosos e vasosos do andar infralitoral, até aos -35 metros.



O longueirão-direito-europeu (Solen marginatus), mais pequeno que a espécie anterior, apresenta cor amarela-ferruginosa, com linhas finas e perióstraco castanho. Vive em fundos arenosos e vasosos do andar infralitoral.




Panopea glycimeris, com suas grandes valvas acinzentadas, que chegam aos 30 cm de comprimento, sempre entreabertas em praticamente toda a extensão, vive em fundos de areia e vasa, do andar infralitoral.





Ao contrário da maioria das espécies de bivalves, que são escavadoras, explorando em profundidade os fundos móveis, existem algumas outras, muito poucas, que se especializaram em perfurar substractos rígidos, como rochas, conchas e pedaços de madeira flutuantes. 

Uma dessas espécies é o taralhão (Pholas dactylus), o maior em envergadura entre os perfuradores. A sua concha, acinzentada, leve e com os umbos flectidos, apresenta a sua parte externa preenchida por caneluras concêntricas e radiais. Vive no andar mediolitoral inferior e no andar infralitoral.




(continua)