sábado, 21 de janeiro de 2023

Poluição no Cáster!

 




A manhã acordou radiosa. O Sol rompeu desde cedo por entre as nuvens ainda carregadas. A temperatura sentia-se bem mais amena face à dos dias anteriores.

O rio Cáster, cheio da água que durante algumas semanas caiu diariamente, corre sombrio, devido ao grande volume de sedimentos em suspensão. 

Agora mais calmo, desliza sonoro e alegre, por entre as cores suaves que o abraçam.




Quem o espreita desde as primeiras horas da alvorada é a garça-branca-pequena (Egretta garzetta) que parece ter poiso reservado, mesmo pertinho dele. 



A passarada faz-se ver e ouvir em todo o Parque Urbano. A raínha do parque, a pega-rabuda (Pica pica) esvoaça em grupos por todos os cantos do mesmo. Esvoaça e grita, pousando de ramo em ramo nos cocurutos dos troncos despidos.




Num andar inferior do arvoredo vêem-se tentilhões (Fringilla coelebs) ...



... chapins-reais (Parus major) ... 



... chapins-rabilongos (Aegithalos caudatus) ...





... rabirruivos-pretos (Phoenicurus ochruros) ...


.... enfim, uma variedade de pequenos pássaros que se deliciam cantando, em louvores infinitos à mãe natureza.


A manhã passa à mesma velocidade com que, em dia de sábado, se movimentam os transeuntes pelos caminhos que o parque oferece.

Nada fazia supor que, para o final da manhã, este ambiente tão belo se transformasse. Sim, o parque seria alvo de uma transformação estética tremenda. 

O rio Cáster acabava de se transformar num esgoto a céu aberto. 

Castelos de espuma branca correm desalmados à superfície do rio afugentando a garça e calando os demais seres, que tão generosamente haviam animado a manhã.







Infelizmente, este não foi um episódio raro. Foi apenas mais um. 

Como podem ainda acontecer situações destas? Será que a autarquia abre processos de inquérito? E informa os munícipes das conclusões dos mesmos?

Aguarde-se para ver. 

 


sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Limícolas invernantes na Ria de Aveiro: o maçarico-galego




Entre as maiores aves aquáticas que frequentam as margens pantanosas da Ria de Aveiro conta-se o maçarico-galego (Numenius phaeopus).




São várias as fontes de informação ornitológica que atribuem a esta espécie o estatuto de ave migratória ao longo do território litoral continental português, com raras ocorrências invernais em áreas do sul do país. 

Contudo, esta é uma informação desfasada da realidade, já que durante o Inverno são avistados, todos os anos, vários indivíduos desta espécie, isolados ou em pequenos grupos, nas praias de vasa e nos sapais da laguna aveirense.



O maçarico-galego é, por esta razão, uma espécie invernante na Ria de Aveiro.


A sua plumagem, dorsal e peitoral, é sarapintada de manchas castanhas-acinzentadas contrastando com o tom claro do abdómen e das supra - caudais, bem visíveis quando a ave levanta voo.  



O maçarico-galego distingue-se do seu parente, o maçarico-real, por apresentar estatura e bico um pouco menores, plumagem de tonalidade mais escura e sobretudo pela presença bem marcada de duas riscas na cabeça. Uma escura, projectada sobre o olho ... 



... e outra clara, dividindo a meio a coroa castanha. 




É predominantemente durante os meses de Abril e Maio que passam os bandos migratórios, provenientes de África, com destino à tundra árctica, onde irão nidificar.  

Aí chegados, constroem um ninho simples, uma depressão no solo, forrado com algum material vegetal. A sua única postura, que em média é de 4 ovos de cor verde oliva sarapintados de manchas castanhas escuras, é incubada durante cerca de 24 a 28 dias. O crescimento das crias é rápido podendo as mesmas voarem ao fim de 5-6 semanas.

Logo após as crias se encontrarem devidamente aptas e antes que a tundra comece a gelar e o alimento (insectos, vermes, bagas, pequenos moluscos, ...) escasseie já esta ave se vai reunindo, formando bandos que migrarão de novo para sul, de encontro a climas mais favoráveis. O destino para a maioria delas serão as costas africanas. 

É, por conseguinte, entre Julho e Setembro que se registam no litoral português as maiores concentrações de maçarico-galego em passagem migratória, pese embora, a sua presença regular durante o Inverno na Ria de Aveiro seja uma realidade, como antes referido.


Aqui na Ria, a sua presença deslocando-se calmamente sobre os lodaçais, na companhia de outras pequenas limícolas ...



... procurando, com seu comprido e arqueado bico, os pequenos seres enterrados no lodo ...



... ou entre as algas...



... descansando imóvel na proximidade da água ...



... ou banhando-se nas águas fustigadas pela nortada ...



... constituem registos do Inverno, frio e húmido, da Ria de Aveiro.



É neste ambiente cinzento que a estação proporciona que se faz ouvir claramente o chamamento tão característico desta ave, sob a forma de um estridente assobio, ...



... mesmo quando as rajadas de vento, assobiando também elas sobre as águas, anunciam o temporal que em breve se abaterá sobre a laguna.



domingo, 1 de janeiro de 2023

Os acrobatas do bosque





No início deste novo ano e a propósito da estação invernal que começou agora a dar os seus primeiros passos, continuar-se-á a exploração da vida dos seres que habitam os meios florestais. 

Sobretudo, daqueles que ao longo do tempo entraram no imaginário de crianças e adultos, pela beleza, graciosidade e comportamento.

Assim, e mais uma vez, procurar-se-á ilustrar as palavras do grande mestre da divulgação da fauna selvagem ibérica, Félix Rodriguez de la Fuente