segunda-feira, 13 de abril de 2020

O Covid-19 e as aves: nidificação da cegonha-branca na cidade de Ovar*



Enquanto a pandemia do Covid-19 parece não dar tréguas a ninguém, com as restrições impostas pelas autoridades a condicionarem a movimentação da grande maioria dos portugueses, entre os quais os ovarenses, pelo seu confinamento particular, as aves lá continuam ao ritmo da Primavera, numa azáfama constante, ora na preparação dos ninhos, umas, ora no acompanhamento da prole, outras.

O casal de cegonhas-brancas (Ciconia ciconia), a que me referi aqui em apontamento anterior, e que durante o mês de Março foi transportando para a antena de telecomunicações galhos que eram depositados e aconchegados naquilo que parecia vir a ser um ninho, começou a ausentar-se daquela alta estrutura, vezes demasiadas e por períodos de largas horas, interrompendo o vai-vém de transporte de material.

Esta atitude, que se foi repetindo diariamente nos primeiros dias de Abril, começou a indiciar o abandono da nidificação por parte deste casal, tanto mais que as aves começaram também a diversificar o seu poiso escolhendo em alternativa o cimo do depósito de abastecimento de água da cidade. 





Quando na antena, as aves limitavam-se a cuidar da plumagem, sem demonstrarem qualquer apetência para dar continuidade ao trabalho da nidificação.





Se nas semanas anteriores era habitual ver as cegonhas a chegarem à antena ao entardecer, preparadas para aí passarem a noite, recentemente isso deixou de ser assim. De facto, as cegonhas deixaram de regressar ao seu poiso, como seria de esperar, sendo este ocupado ao entardecer por pequenos bandos de estorninhos-pretos (Sturnus unicolor).





Por razões desconhecidas, talvez pelo facto das cegonhas serem novas e não terem tido a maturidade para acasalar, a antena em causa acabou por ficar devoluta!

Esta antena sim, mas outras duas localizadas em sentido oposto já tinham ninho construído e com aves a incubar, no início de Abril ….







Estas são boas notícias para a avifauna selvagem da região. A população de cegonha-branca na cidade de Ovar irá por certo aumentar, proporcionando aos ovarenses maiores probabilidades de observarem estas esbeltas aves planando com seu voo majestoso pelo céu vareiro.





o texto e as fotos foram produzidos cumprindo na íntegra o período de quarentena imposto pela pandemia do Covid-19.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Covid 19 e as aves da nossa cidade*


Apesar do momento terrível que a humanidade atravessa e que nós ovarenses vivemos de forma muito intensa há sempre alguns acontecimentos que nos dão alguma alegria e esperança para os dias futuros. 

Alegria, também, perante a beleza que a natureza nos continua a brindar dia-a-dia e a esperança de que os maus momentos experimentados por todos nós sirvam para melhor sabermos valorizar a vida em todas as suas dimensões, nomeadamente a diversidade de ecossistemas, que traduzem em última estância a grande riqueza do nosso planeta.   


Vem este pensamento a propósito da chegada de mais uma Primavera e de todo o esplendor e magia associados a esta estação do ano. É que a Primavera faz encher os campos até então sombrios de flores multicoloridas, veste de verde as árvores nuas das cidades, traz chilreantes andorinhas aos beirais das nossas casas e entre outros mais, permite que delicadas borboletas esvoacem perante os nossos olhos encantados! 

Cada nova Primavera é sempre uma Primavera de novidades.

Há dois anos atrás a Primavera trouxe à nossa cidade um novo casal de cegonha-branca (Ciconia ciconia) que souberam aproveitar um tronco doente de uma palmeira para aí construírem o ninho e realizarem a criação do ano. Foi com tristeza, contudo, que um ano depois se constatou que essa árvore havia sido cortada impedindo para sempre a nidificação destas aves nesse local em Primaveras subsequentes. 




Mas a natureza é rica em oportunidades e quase sempre as espécies selvagens conseguem adaptar-se em tempo útil a novas situações. Também neste caso da cegonha-branca assim aconteceu. Corroborando o que diz o adágio popular de que "sempre que se fecha uma porta, abre-se uma janela", no corrente ano um novo casal desta espécie (ou quiçá o casal despojado da sua palmeira!) ocupou uma nova atalaia para aí instalar o ninho. E que atalaia!  Atalaia bem alta, bem no centro da cidade de Ovar.





Quase como que a desafiar que desta vez será pouco provável que dali sejam desalojados!

Muito interessante observar, embora a mais de meio quilómetro de distância, a vida destas aves.

A labuta diária naquilo que parece ser a vontade de construção de um ninho.... as inúmeras viagens feitas pelo casal para obtenção das ramagens e paus que transportam nos seus poderosos bicos... 





.....a forma como parecem seleccionar, naquela alta estrutura metálica, o melhor sítio onde assentar o ninho ......






....os momentos em que se entregam ao acasalamento......





...aqueles outros em que tiveram de defender o ninho perante a investida de um outro casal, ávido também por aquele "apartamento com tão boas vistas"...





Tem sido assim, durante as duas últimas semanas de Março, a Primavera para este casal de cegonhas-brancas a viverem nas alturas e ao ritmo das suas vidas, indiferentes às preocupações dos ovarenses a viverem cá mais por baixo a um ritmo estranhamente diferente do habitual.


A Primavera é assim ... sempre linda de se ver e sentir....porque constitui uma etapa de renovação e esperança! Para as cegonhas e para o homem.





* o texto e as fotos foram produzidos cumprindo na íntegra o período de quarentena imposto pela pandemia do Covid-19.

(este texto virá a ser publicado no quinzenário ovarense João Semana, de 1/6/2020)