terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Chegaram as andorinhas!

 





Hoje foram observadas pela primeira vez em 2023 andorinhas provenientes de África, onde passaram a estação invernal.

Tratava-se de um grupo de 5 andorinhas-dos-beirais (Delichon urbica).  

O ano passado esta espécie foi observada duas semanas antes desta mesma data. 



sábado, 25 de fevereiro de 2023

Limícolas invernantes na Ria de Aveiro: o borrelho-grande-de-coleira




A tarde vai fria. Nada que seja de estranhar pois estamos ainda no Inverno.


No meio da vasa, como que perdida numa imensa superfície escura e de odor penetrante, uma pequena ave com apenas 18 cm de comprimento, basculha meticulosamente o lodo. Destaca-se à distância pelo contraste oferecido pelas tonalidades claras e escuras do seu corpo. 

Trata-se de um borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula).





À medida que o seu labor o vai trazendo para uma posição mais próxima é possível ir registando melhor a sua fisionomia e padrões corporais. 

Visto de frente revela claramente uma barra escura peitoral, manchas pretas na cabeça, bico escuro e patas de tonalidade alaranjada.




Visto de trás, confirma-se uma homogeneidade da sua plumagem acastanhada por cima e branca por baixo.




Mas é quando a ave se encontra bem pertinho que podemos desfrutar de toda a sua beleza!

O branco da fronte, da lista superciliar e da garganta destacando-se entre o negro da barra peitoral, aliados à bonita coloração das patas marcam a bela imagem desta ave, quando no estado adulto.




As aves jovens apresentam um aspecto mais discreto. Nestas, o bico é completamente escuro e as manchas negras da cabeça do adulto continuam a ser escuras, mas agora de cor castanha. Também o peito e abdómen dos juvenis se apresentam de branco, mas um pouco mais sujo.





O borrelho-grande-de-coleira é uma ave comum na Ria de Aveiro durante o Inverno e durante as passagens migratórias, podendo ser observado com frequência integrando grupos mistos.



Durante a baixa-mar é frequente vê-lo a correr rápido sobre o lodaçal e de repente estacar, ficando completamente imóvel e atento ao seu redor ... 




...  até se inclinar para colher algum verme da lama.




Quando a maré sobe, estas aves são obrigadas a concentrarem-se em pequenos mouchões, onde se podem concentrar outras limícolas. Aqui, aproveitarão para descansar até que a sua "mesa" seja exposta de novo na maré seguinte.




Quando o Inverno chega ao fim e as aves se preparam para partir para maiores latitudes, onde irão procriar, começam a sofrer transformações cromáticas em diversas partes do seu corpo. 

O bico que era totalmente escuro começa a adquirir gradualmente cor alaranjada e as patas que eram de um alaranjado suave passam a intensificar essa mesma cor.




Quando chega a altura de partirem em migração fazem-no já com a sua vestimenta nupcial definitiva! 

As manchas escuras apresentam, então, contornos muito bem definidos, o bico está de um laranja vivo com negro apenas na extremidade e as patas estão igualmente de cor laranja muito intensa.




Chegarão ao longínquo norte lá para Maio onde poderão fazer mais que uma postura, de 3 a 5 ovos cada, num ninho simples feito no solo.

Concluído o desenvolvimento das crias a espécie migrará de novo, para sul, começando a ser vista na Ria de Aveiro por finais de Agosto. 

Das aves em migração, umas descansarão e alimentar-se-ão por aqui antes de prosseguirem viagem para África, mas outras manter-se-ão pela Ria para proporcionarem mais um Inverno de belos registos.



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Sobrevivência planetária

Desmate das massas florestais, poluição das águas, dos solos e do ar, sobre-exploração dos recursos naturais, destruição dos ecossistemas, etc, etc, etc. são atentados à vida no planeta.

De igual modo, perseguições, prisões, violações e assassinatos por parte de governos e forças totalitárias também o são, porque atentam contra o bem-estar e o direito à vida por parte do Homem, ser primordial do planeta Terra.

É, pois, uma grande falácia querer falar de ecologia, de protecção do ambiente e ao mesmo tempo defender-se, cegamente, políticas fascistas e terroristas.


Salvar o Planeta passa, obrigatoriamente, pela abolição de todo e qualquer regime ditatorial. A História, embora recheada de involuções caminhará, inexoravelmente, no sentido da Evolução das sociedades.

Não há espaço nem tempo para retrocessos civilizacionais! A bem do planeta.





terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Entre o frio, a chuva e o Sol!

 






Há períodos no ano em que a natureza parece como que adormecida. Talvez sejam as condições climáticas, que ao fugirem aos cânones da estação, a obriguem a reencontrar-se consigo mesma. 

Períodos transitórios, sem dúvida, mas acontecem. Durante estes momentos os seres viventes parecem também não saber, muito bem, como se ajustar a tal indefinição. Os seus comportamentos são algo titubeantes. 

Pois bem, devemos estar a atravessar um desses períodos... 


Depois da muita água caída, logo no início do ano, que fartou a terra, os rios e os homens ...



... do muito frio, neve e geada, que branquearam, quer as serras do interior quer os campos e jardins do litoral ...



... eis que surge o Sol, mais quente, radiante e com uma presença mais duradoira ao longo do dia.


Logo pela manhãzinha ... 



... sem vento e menos fria, escute-se, então, o que a natureza nos oferece comunicar.


Ouvem-se cantos de diferentes pássaros. Daqueles que dentro de algumas semanas irão preencher os ares com seus trinados infindáveis, como é o caso do incansável chamariz (Serinus serinus), que para já se achega mais ao solo ...



... e do mais recatado verdilhão (Carduelis chloris), especialmente emboscado no alto do arvoredo.



Nesta ocasião, as suas cantorias são pouco expressivas. Parecem fazer-se de uma forma "envergonhada"! É como se lhes faltasse coro!


Neste contexto de fraca densidade de cantos, vale a pena colocar o ouvido a jeito e redobrar a atenção, de forma a conseguirmos captar cantos ainda mais abafados, como o do atraente chapim-real (Parus major) ...



.... e o do encantador pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).




Em pleno Inverno, toda esta cantoria chega até nós provinda dos ramos despidos do arvoredo, onde os seus executantes não podem passar despercebidos à vista.

Mais perceptíveis que os cantos que vêm do alto são os chamamentos das aves que saltitam pelo solo ou esvoaçam por entre os arbustos baixos, mesmo à frente dos nossos olhos. 

Estas aves, são bem mais fáceis de apreciar, quer nos encontremos em meio urbano, quer no alto da serra, no meio dos campos ou noutro qualquer habitat terrestre.

Entre elas contam-se o assertivo rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros), acabado de pousar em cima dalguma rocha, ramagem ou estrutura saliente ...



...  o familiar melro-preto (Turdus merula), sempre atento ao melhor local onde baixar ao solo para capturar invertebrados ...



... a inconfundível pega-rabuda (Pica pica) que, não sendo esquisita em termos alimentares, se afadiga no solo para obter qualquer bocadinho de alimento...




... e o cartaxo-comum (Saxicola torquata), destacado no topo de algum arbusto e observando o meio em redor.




A principal razão para esta menor actividade dos seres vivos durante este período invernal de transição deverá passar pela ausência de populações massivas de insectos e outros invertebrados, principais fontes alimentares de todo este grande grupo de aves.

Contudo, nas proximidades da água ou de terrenos encharcados, onde os insectos ocorrem em maior densidade, é notória a presença de algumas outras espécies de pássaros insectívorosEntre estes destacam-se as incansáveis alvéolas-brancas (Motacilla alba)...




... e as suas primas, as alvéolas-cinzentas (Motacilla cinerea). 



Ambas gostam de se deslocar em rápidas passadas, pelas margens e rochas dos rios ou pelos lameiros dos campos.


É nas galerias ripícolas de amieiros, salgueiros e choupos, que marginam e tombam suas ramagens para os cursos de água, que se pode assistir ao surpreendente bailado de uma outra protagonista, a recém chegada felosa-musical (Phylloscopus trochilus) que, proveniente da África trans-sariana, se encontra de passagem a caminho do norte da Europa, onde se irá reproduzir. 


Aparentemente ausente, pelo seu pequeno porte e pela coloração da plumagem ... 


... é de uma irrequietude fora do vulgar. Esvoaçando de ramo em ramo, numa coreografia repetitiva do tipo "voo para ali...não, voo antes para aqui; aqui também não, tenho que esvoaçar para ali sem demora"! 



Assim evolui esta pequenina ave durante todo o dia, com uma energia capaz de contrariar os efeitos desta indefinição climatológica que, não sendo de Inverno severo também ainda não é de amena Primavera. 


E, enquanto o Inverno do calendário continua a caminhar a passos largos para o seu término, o estado do tempo continua a ser uma surpresa diária, e a natureza mutante, uma agradável revelação em cada manhã! 




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Limícolas invernantes na Ria de Aveiro: o maçarico-de-bico-direito






maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) é outra das grandes limícolas que passa o Inverno na laguna aveirense.



Sendo uma espécie gregária, é possível observá-la em grupos que, na região,  podem  chegar a várias dezenas de indivíduos num só local.



Distingue-se do seu parente, o fuselo, por não apresentar, como este, o comprido bico ligeiramente arqueado para cima.




É também a sua plumagem dorsal lisa (riscada no fuselo) e a extremidade da cauda preta (listrada no fuselo) que permitem complementar a identificação da espécie quando observada a alimentar-se dentro de água nos lodaçais, tanques de salinas e praias intertidais.



Mas é em voo que se conseguem observar os pormenores decisivos para a sua correcta identificação: 

uma mancha  branca quadrada sobre o uropígio (branca em cunha no fuselo), a extremidade da cauda com uma única barra larga e negra (com riscas finas pardacentas no fuselo), com barras alares brancas (sem barras alares no fuselo) e as patas muito projectadas sob a cauda (pouco projectadas no fuselo). 




A época de reprodução desta espécie varia entre finais de Abril e início de Junho, consoante a latitude.  

A espécie constrói um ninho rudimentar, com muito pouca matéria vegetal, em solos húmidos, charnecas e lodaçais

A postura, única, é habitualmente de 4 ovos esverdeados, com pintas ou manchas escuras, que serão incubados durante 22-24 dias, por ambos os progenitores. 



Terminada a época de reprodução, o maçarico-de-bico-direito migra para sul, para passar o Inverno nos climas amenos do sul da Europa e da África, chegando à região aveirense durante o final do Verão e regressando de novo ao norte a partir de Abril, numa altura em que um número significativo de adultos já adquiriram a plumagem de Verão.

É então possível, por comparação, apreciar como a tonalidade acinzentada da plumagem de Inverno é substituída por uma outra, castanha ferrugínea, na cabeça e pescoço. 



Enquanto por aqui andam, estas aves constituem um espectáculo natural digno de ser apreciado, quer quando, procuram com seu comprido bico os vermes enterrados no lodo ...



... quer quando descansam muito juntos após a refeição...



... quer, ainda, quando o sentinela perante uma ameaça surgida, grita para alerta dos seus congéneres. 



Então, todo o bando se coloca em posição de vigília, não demorando muito até que todos levantem voo, com um ruidoso e forte bater de asas, para voltearem largo sobre a área. 



Logo que o perigo deixe de existir, baixarão às águas de onde saíram e a vida continuará como antes!