quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eco-Urbanismo ovarense?

A 8 de Novembro assinalou-se mais uma daquelas datas memoráveis - o Dia Mundial do Urbanismo


Uma iniciativa nascida em 1949, em Buenos Aires (Argentina), para promover a troca de ideias em torno dos problemas urbanos, nomeadamente das técnicas e modelos a serem utilizados, de forma a que as cidades encontrem um equilíbrio arquitectónico integrado num desejável modelo de desenvolvimento urbano sustentável.


Não me pareceu que a data tivesse tido por parte dos media portugueses uma atenção significativa; tão pouco, aqui em Ovar. 


Contudo, parece-me ser o tema, demasiado importante para que passe a data sem um apontamento oportuno. Para o efeito proponho a observação cuidada de três imagens....urbanísticas....de forte impacto visual....




Primeira imagem:



Num primeiro impacto visual poder-se-á ficar com a sensação de que estamos perante uma daquelas funestas imagens, produzidas durante um qualquer conflito bélico ou de uma situação ruinosa do pós-guerra.


Segunda imagem:




A imediata sensação de que a imagem se reporta a uma qualquer via secundária, implantada talvez numa zona campestre ou pelo menos afastada de qualquer centro citadino, parece ser a conclusão óbvia a todo e qualquer observador. 




Terceira imagem:




Também esta parece ser uma imagem de subúrbio. De um daqueles sítios, bons para serem usados pelos cães ou para depósito selvagem de lixo....




Mas não! Estas imagens escondem outras realidades.


São imagens de urbanismo.... mas daquele que não parece encaixar bem no tal conceito de urbanismo sustentável, que a efeméride de 8 de Novembro proclama. Daquele urbanismo que não se preocupa com a qualidade de vida dos cidadãos. Daquele urbanismo que não é capaz de fazer crescer, dignamente, uma qualquer CIDADE.




Na realidade estas três imagens pertencem ao centro urbano de Ovar!!! 


Repare-se nelas, agora, com um olhar mais abrangente:




Primeiro cenário urbanístico:













Este local, a estação de caminhos-de-ferro, é o primeiro cartão de visitas da cidade de Ovar, para qualquer passageiro a viajar de comboio na linha do norte. Ruínas, ruínas e materiais amontoados... 




E como se não bastasse este decrépito cenário, a arquitectura envolvente à estação, embora com uma importante história local, encontra-se sem prestígio algum no momento actual.







 Porque não um pouquinho de brio com a estação de caminhos-de-ferro da nossa cidade? É que nem a esperada modernização da linha do norte é justificativo para tal desmazelo...




Segundo cenário urbanístico:









Afinal, não se trata de uma zona de campo...trata-se da Rua dos Precursores da República, que é, nem mais nem menos que, a rua frontal à estação dos Caminhos-de-Ferro....a primeira via a ser percorrida por quem se digne desembarcar do comboio na nossa terra. 

E porquê, há tantos anos, este cenário degradante nesta zona da cidade? Será que não há uma solução para este urbanismo tão descaracterizado, vai para décadas?


Terceiro cenário urbanístico:





Não. Também não se trata de um baldio situado em local isolado. Nada disso! Este "buraco" situa-se em plena Rua Conselheiro Arala Chaves, mesmo ao lado do Jardim Almeida Garrett. Tão somente na (segunda) via alternativa com destino ao centro da cidade, para quem chega de comboio a Ovar. 
Enfim, mais um "lindo" postal ilustrado da nossa cidade. 
Este espaço estará provavelmente à espera de melhores dias, para ser ocupado com algum bloco de apartamentos....mas até lá, será que não se arranja uma forma de conferir ao local a harmonia estética desejável? É que se vê este cuidado noutras terras; porque não nesta?


Bom. Poderão os leitores perguntarem a si mesmos, que relação terá este tema do urbanismo com as questões ambientais que este blog pretende abordar pela sua vocação. Tudo, mesmo tudo!

Urbanismo e Ambiente andam de mãos dadas. Cidades e campos tocam-se. Algumas vezes de forma positiva. A maioria das vezes, infelizmente, de forma negativa.

Desenvolvimento Sustentável passa por organizar a cidade e preservar o campo. 

Deixar crescer matos e ervas daninhas em pontos da cidade, como estes que aqui foram retratados, ou deixar em forma de destruição o património construído, como nestas fotos também ficou demonstrado, não é sinónimo de organização de uma cidade, nem aumenta a biodiversidade da mesma.

Por outro lado, levar o urbanismo (ou seus apêndices, como torres, trânsito e ruídos) para áreas sensíveis, como por exemplo, a Área da Foz do Cáster, não valoriza a cidade, e pelo contrário destrói os poucos rincões naturais que ainda a abraçam. Mesmo que esta estratégia idiota seja "abençoada" por um POLIS! 



(este artigo foi publicado no jornal "João Semana", de 15/12/10)