sexta-feira, 28 de julho de 2023

Concheiros (IV)

 







No que respeita ao regime alimentar dos gastrópodes falta fazer referência ao terceiro grupo antes mencionado. Aquele que é formado por espécies de hábitos carnívoros (ordem Neogastropoda), isto é, moluscos que se alimentam de outras espécies de moluscos, graças à capacidade que têm em perfurar as suas conchas, devorando-os desta forma. 


Os múrices, são uma das famílias que integram esta ordem. Possuem uma concha fusiforme, ornada de estrias, com tubérculos ou espinhos e sifões bastante desenvolvidos.

O búzio-canilha (Murex brandaris), apresenta uma concha laranja esbranquiçada, com espinhos bem desenvolvidos, dispostos pelas várias voltas. É um habitante de substratos arenosos e vasosos da zona infra-litoral.





O búzio-roxo (Murex trunculus), ao contrário da espécie anterior, possui uma concha colorida por bandas acastanhadas, ornada com tubérculos em vez de espinhos e apresentando um canal sifonal curto.  Esta espécie, que vive em fundos de areia ou rocha do andar infralitoral e por vezes do circalitoral, alimenta-se essencialmente de bivalves. 







Nucella lapillus, embora não pertencendo à família Muricidae, como as demais espécies de gastrópodes que se abordarão posteriormente, é igualmente um predador marinho. Possui uma concha, de fundo claro colorida de bandas escuras, com uma última volta muitíssimo ampla. Habitando as rochas do andar infralitoral e do andar mediolitoral inferior, nomeadamente, entre povoamentos de mexilhões e bálanos, dos quais se alimenta.



Ocenebra erinacea, possui concha cinzenta com manchas escuras, ornamentada com costelas e tubérculos. Habitante da rocha e das areias do andar infralitoral até - 100 metros, pode ocorrer também no andar mediolitoral inferior. Alimenta-se de moluscos bivalves, nomeadamente de ostras.





Nassarius reticulatus, com uma concha cónica reticulada e com pequenos tubérculos, de cor acastanhada ou acinzentada, habita fundos arenosos do andar infralitoral e também por entre as fendas rochosas no andar mediolitoral inferior. As conchas desta espécie quando vazias são frequentemente ocupadas por paguros (Paguridae).






Os cones, constituem um outro grupo de gastrópodes amplamente distribuídos a nível mundial e que apresentam padrões belíssimos, especialmente aqueles que são nativos de águas quentes. 

No nosso litoral encontra-se o Conus mediterraneus, cuja concha, quando não desgastada, apresenta uma cor variável entre o esverdeado e o acastanhado. A espécie tem como habitat o substracto arenoso dos andares infralitoral e circalitoral.






Cymbium olla, possui uma concha alaranjada, com 12 cm de altura e onde se destacam uma abertura de grandes dimensões e uma primeira volta em forma de mamilo. Habita os fundos de areia do andar infralitoral.







Bulla striata, de concha ovóide e grande abertura para os seus 2,5 cm de comprimento, tem uma coloração acastanhada com manchas escuras. Vive em substrato arenoso e vasoso, nos andares mediolitoral inferior e infralitoral, em pradarias de ervas-marinhas.







(continua)


sexta-feira, 21 de julho de 2023

Os cantores do bosque

 




O bosque caducifólio é um bioma em constante mutação ao longo do ano. Os animais e as plantas que nele vivem tiveram por isso que se adaptar a tais mudanças. Os passeriformes que exploram os diferentes nichos territoriais do bosque são exemplo dessa adaptação.

Em "O bosque caducifólio: 11- Os cantores do bosque", e seguindo o pensamento e as palavras do inesquecível Félix Rodríguez de la Fuente, encontra-se uma breve síntese sobre este maravilhoso mundo das aves canoras do bosque.



sexta-feira, 14 de julho de 2023

Concheiros (III)

 




(continuação)


Outros gastrópodes, ao contrário dos raspadores, apresentam uma alimentação variada, podendo alimentar-se de algas, detritos ou até de animais vivos. 


Littorina saxatilis, com uma concha de cor variável e profundamente estriada, vive em fendas rochosas das zonas média e superior do andar mediolitoral e por vezes, também, em fendas do andar supralitoral. Alimenta-se de algas.



Littorina littorea, que vive sobre estrato rochoso das zonas média e inferior do andar mediolitoral, também se alimenta de algas. A sua concha, cerca de três vezes maior que a da espécie anterior, apresenta cor cinza, habitualmente com bandas concêntricas de um castanho escuro. 



A Turritella communis, possui uma concha alta, pontiaguda, com numerosas voltas repletas de estrias espiraladas. Vive enterrada parcialmente em fundos areno-vasosos do andar infralitoral, até -80 metros.



Cerithium vulgatum, apresenta uma concha de voltas ornamentadas com pequenos tubérculos. Vive em substracto rochoso, arenoso e vasoso, dos andares mediolitoral inferior e infralitoral, até -10 metros.



Aporrhais pespelecani, apresenta uma concha de voltas ornamentadas com tubérculos, em que o labro da última se encontra espalmado, com quatro projecções nas formas adultas, assemelhando-se a uma pata de palmípede. Vive em habitat arenoso dos andares infralitoral e circalitoral, até - 80 metros.



Natica catena, tal como as restantes espécies da família, é um animal carnívoro que preda predominantemente sobre mexilhões. A sua concha arruivada apresenta pequenas bandas escuras. Vive em fundos de areia, no andar infralitoral.




O beijinho (Trivia monacha), apresenta uma concha estriada de apenas 1,2 cm, de cor violácea e com três manchas negras dorsais. Vive em substracto rochoso, por entre os povoamentos de algas do andar infralitoral. 



As cipreias formam, à semelhança de outros, um grupo de conchas muito abundantes, de grandes dimensões e de belíssimas cores, em mares quentes tropicais, o que não é o caso do Atlântico NE. Contudo, pode-se encontrar nas nossas praias, com alguma facilidade, a Cypraea pyrum.



Com seus lábios dentados, coloração dorsal alaranjada com manchas claras, habita o substrato rochoso infralitoral, encontrando-se associada a povoamentos de algas.


O Phalium saburon, apresenta uma concha de tons amarelados com riscas castanhas claras e preenchida por estrias na sua última volta. O labro é espesso e denteado. Vive em fundos de areia nos andares infralitoral e circalitoral.




Refira-se, a propósito, que a concha enrolada em espiral apresentada pelos gastrópodes é uma consequência directa de uma torção interna verificada no corpo do animal, e com implicações na anatomia dos seus próprios órgãos.
 





(continua)


sexta-feira, 7 de julho de 2023

Muros de pedra (III)







(continuação)


Maio já vai a meio. 

Sobre o caminho trilhado pendem frondosas braçadas de  carvalho-alvarinho (Quercus robur) ...


 

... assim como, bonitas folhagens de aveleiras (Corylus avellana), a quem o calendário já não permite mais flor por este ano.



A sombra projectada sobre o trilho é de tal ordem que, ao produzir um microclima tão agradável, parece não nos querer lançar para fora dali. Por tal motivo, ficamos.

Ficamos a apreciar. As inúmeras fendas existentes entre os blocos de pedra que edificam o muro oferecem abrigo a variados animais, como ratos-do-campo, lagartixas, cobras, pássaros e invertebrados, como é o caso do caracol-castanho (Helix aspersa)...




... assim como, permitem a fixação de uma equivalente panóplia de heras, fetos, musgos e até de plantas floridas. 


Recobertos de vida durante o ano inteiro, é, contudo, na Primavera, dir-se-ia mesmo, entre Abril e Maio, que atingem o seu esplendor! 




Esta fantástica biocenose mural merece, pois, uma atenção mais dedicada do que um simples olhar tirado durante a marcha.

Uma das espécies mais observadas é o umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris). 




O seu nome deriva da forma das suas folhas, arredondadas e com uma depressão no meio das mesmas.





Esta erva, contudo, também se destaca pelos caules erectos e sem folhas que alojam as flores, dispostas em cachos.





Outra planta, muito vulgar, é a hera-comum (Hedera helix), que aparece frequentemente associada à espécie anterior. 





Além das plantas trepadeiras os muros apresentam-se recobertos de macios tapetes de musgos.



Entre estes destaca-se o musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum)...




... que poderá escapar à vista, sempre que os muros estejam repletos de heras.





Os fetos constituem um outro importante e antiquíssimo grupo da flora (Pteridophyta) presente nestas construções rochosas, formando associações com várias outras plantas.




Entre eles destaca-se o feto-comum (Pteridium aquilinum), que predomina também no sub-bosque dos povoamentos florestais adjacentes...





... com frondes que podem atingir o metro e meio de comprimento.



Podem-se registar, ainda, outras espécies deste grupo, como o fentilho (Asplenium billotii)...



... e a fentanha (Polystichum setiferum).




Não se pense, contudo, que os muros são unicamente pintados de verde! Como foi referido antes, também aqui vingam plantas de outras colorações.

Uma delas, habitualmente observada junto à base das rochas, pode também emergir das fendas mais acima. Trata-se do pampilho (Geranium lucidum), com suas bonitas folhas em roseta.





Outra das plantas floridas, de um simpático violácea, é a cimbalária-dos-muros (Cymbalaria muralis).



Por fim e para concluir esta breve paragem para exploração da flora dos muros não se pode deixar de fazer alusão à quelidónia (Chelidonium majus). 



De flores amarelas vivas apresenta o seu fruto sob a forma de uma bela cápsula, onde se encontram alojadas as sementes, que darão razão de ser a novas vidas.


Esta, é a beleza da Primavera, reflectida por todo o lado, incluindo nestes rudes, escondidos e sombrios muros. 

Esta é, também, a beleza, efémera, da vida no seu apogeu. Só na próxima Primavera poderemos voltar a apreciar este seu esplendor. Até lá, restam apenas estas coloridas recordações, que o Verão já tratou de desbotar.




sábado, 1 de julho de 2023

Muros de pedra (II)

 




(continuação)



Estamos no início da Primavera!

O caminho escolhido segue o ribeiro que, mais abaixo, corre rápido, límpido, alegre e arejado pelas várias cachoeiras que lhe vão alterando a cota do leito.


A estas zonas de maior turbulência seguem-se outras, em que a água forma remansos, sobre os quais, insectos aos milhares, enchem a atmosfera em nuvens rodopiantes.


Na envolvência do riacho a natureza explode de cor e beleza. 

A graciosidade das umbelas da salsa-parrilha (Oenanthe crocata), mais parecem explosões de brancura.



Os caules erectos das azedas (Rumex acetosa), ornados de pequenas flores vermelho-esverdeadas, contrastam na suave verdura do fundo.



O chamativo lírio-amarelo-dos-pântanos (Limniris pseudacorus), está em evidente sintonia com as características alegres da estação.




O mesmo se poderá afirmar do chucha-pitos (Lamium maculatum), com suas lindas corolas de cor púrpura.



Até o marroio-de-água (Lycopus europaeus), que ainda não iniciou a floração, empresta à palete primaveril o verde vivo das suas bonitas folhas lanceoladas.



O trilho segue murado de um dos lados, ornado no seu curso por bonitas flores, que nos surgem aos pés. 

Assobios (Silene latifolia),



pampilhos (Geranium lucidum),



e erva-da-fortuna (Tradescantia fluminensis) ..., 



... são alguns dos exemplares presentes neste passeio. 



(continua)