sexta-feira, 7 de julho de 2023

Muros de pedra (III)







(continuação)


Maio já vai a meio. 

Sobre o caminho trilhado pendem frondosas braçadas de  carvalho-alvarinho (Quercus robur) ...


 

... assim como, bonitas folhagens de aveleiras (Corylus avellana), a quem o calendário já não permite mais flor por este ano.



A sombra projectada sobre o trilho é de tal ordem que, ao produzir um microclima tão agradável, parece não nos querer lançar para fora dali. Por tal motivo, ficamos.

Ficamos a apreciar. As inúmeras fendas existentes entre os blocos de pedra que edificam o muro oferecem abrigo a variados animais, como ratos-do-campo, lagartixas, cobras, pássaros e invertebrados, como é o caso do caracol-castanho (Helix aspersa)...




... assim como, permitem a fixação de uma equivalente panóplia de heras, fetos, musgos e até de plantas floridas. 


Recobertos de vida durante o ano inteiro, é, contudo, na Primavera, dir-se-ia mesmo, entre Abril e Maio, que atingem o seu esplendor! 




Esta fantástica biocenose mural merece, pois, uma atenção mais dedicada do que um simples olhar tirado durante a marcha.

Uma das espécies mais observadas é o umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris). 




O seu nome deriva da forma das suas folhas, arredondadas e com uma depressão no meio das mesmas.





Esta erva, contudo, também se destaca pelos caules erectos e sem folhas que alojam as flores, dispostas em cachos.





Outra planta, muito vulgar, é a hera-comum (Hedera helix), que aparece frequentemente associada à espécie anterior. 





Além das plantas trepadeiras os muros apresentam-se recobertos de macios tapetes de musgos.



Entre estes destaca-se o musgo-sedoso-penado (Homalothecium sericeum)...




... que poderá escapar à vista, sempre que os muros estejam repletos de heras.





Os fetos constituem um outro importante e antiquíssimo grupo da flora (Pteridophyta) presente nestas construções rochosas, formando associações com várias outras plantas.




Entre eles destaca-se o feto-comum (Pteridium aquilinum), que predomina também no sub-bosque dos povoamentos florestais adjacentes...





... com frondes que podem atingir o metro e meio de comprimento.



Podem-se registar, ainda, outras espécies deste grupo, como o fentilho (Asplenium billotii)...



... e a fentanha (Polystichum setiferum).




Não se pense, contudo, que os muros são unicamente pintados de verde! Como foi referido antes, também aqui vingam plantas de outras colorações.

Uma delas, habitualmente observada junto à base das rochas, pode também emergir das fendas mais acima. Trata-se do pampilho (Geranium lucidum), com suas bonitas folhas em roseta.





Outra das plantas floridas, de um simpático violácea, é a cimbalária-dos-muros (Cymbalaria muralis).



Por fim e para concluir esta breve paragem para exploração da flora dos muros não se pode deixar de fazer alusão à quelidónia (Chelidonium majus). 



De flores amarelas vivas apresenta o seu fruto sob a forma de uma bela cápsula, onde se encontram alojadas as sementes, que darão razão de ser a novas vidas.


Esta, é a beleza da Primavera, reflectida por todo o lado, incluindo nestes rudes, escondidos e sombrios muros. 

Esta é, também, a beleza, efémera, da vida no seu apogeu. Só na próxima Primavera poderemos voltar a apreciar este seu esplendor. Até lá, restam apenas estas coloridas recordações, que o Verão já tratou de desbotar.




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