sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Primavera antecipada (II)

 



Ainda falta cerca de um mês para, literalmente, a Primavera chegar; contudo as espécies estivais não param de chegar ao distrito de Aveiro ...

                          

Data

Espécie

Habitat

 

 

 

14.02

Andorinha-dos-beirais

(Delichon urbica)

Campos

21.02

Milhafre-preto

(Milvus migrans)

Campos

25.02

Andorinha-das-chaminés

(Hirundo rustica)

Cidade





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Primavera antecipada (I)


As cores da natureza, neste Fevereiro que só agora começa a receber alguma água, estão incrivelmente belas, sobretudo quando iluminadas pela luz suave da manhã.

As árvores dos parques, sem poderem apresentar ainda as suas novas roupagens do ano, não deixam mesmo assim, de oferecer, mediante a coloração dos seus troncos e ramos, um multicolorido cenário a quem ante elas se quer deixar impressionar.







Nos campos, em redor, são as flores e as plantas herbáceas ainda húmidas da noite, que saúdam a bela manhã, com suas atraentes cores!







E enquanto o verde resplandece, no ar, ouve-se o chilreio de uma andorinha. São Andorinhas-dos-beirais (Delichon urbica), acabadinhas de chegar de África!




Não é Primavera, não! É, antes, o seu prenúncio.



(continua)


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Os esquadrões da planície (II)

 (continuação)


É no alto destas escarpas agrestes que, a esta hora do dia, se encontram ainda pousados, como que emergindo do longo letargo nocturno, os sumptuosos Grifos (Gyps fulvus); a espécie mais comum entre as grandes necrófagas portuguesas.


A um canto, bem no alto da escarpa, estão os indivíduos jovens e os não reprodutores, dourados pela luminosidade suave da manhã, que pouco a pouco banhará toda a vertente.

Enquanto despertam vão aproveitando para secarem as penas do corpo e das asas, da humidade que nelas se acumulou durante a noite.




Um pouco mais abaixo, afastados dessa turba, em plataformas e grutas, encontram-se nesta altura do ano alguns casais nidificantes. Para estes, extremamente territoriais, é impensável a convivência para lá do par formado.






À medida que a manhã avança, o Sol vai-se elevando sobre a linha do horizonte,  aumentando, assim, a temperatura geral da atmosfera.  A geomorfologia deste território escarpado permite que na coluna de ar ocorram gradiantes térmicos, essenciais para a vida destas grandes aves.

É à custa destas correntes térmicas que, das escarpas caiadas de branco pelos dejectos e refúlgidas pelos fracos raios de Sol, começam a levantar, um após outro, os sumptuosos grifos. 





Batendo fortemente as asas, almejam por essas correntes de ar quente, para desse modo se elevarem sem esforço. Quando as alcançam, rodopiam lentamente, em espiral, desenhando amplos círculos enquanto ganham altitude.




Enquanto estas aves, com mais de dois metros e meio de envergadura, vão ascendendo, é possível apreciar toda a sua compleição. 

As asas são largas, com as extremidades das penas primárias ("dedos") muito esticadas e as secundárias arredondadas. A cauda é normalmente arredondada ou cuneiforme (como neste exemplar da foto).

A tonalidade inferior do corpo e das asas é castanha, dourada na parte anterior das asas e bastante escura na parte posterior. Destaca-se também a cor clara da gola e do pescoço. 



Algum tempo depois, já no ar, voando em círculos e executando um batimento de asas de quando em vez, formam uma nuvem esparsa, que vai aumentando, até que uma boa parte da colónia esteja no céu. Apenas os indivíduos que se alimentaram recentemente e as fêmeas, que já se encontram a chocar o seu único ovo, permanecem nos fraguedos.






Agora, bem altos, evoluem ao sabor das correntes convectivas que, ora os fazem seguir ao longo das cristas da montanha... 





... ora os fazem deslizar rapidamente, com as asas em V, sobre a planície. 






Patrulham a vastidão do seu território em busca de alimento; alguma carcaça de animal selvagem ou mesmo doméstico, que pelo campo tenha sucumbido. 


Para alcançarem eficazmente o seu objectivo, as aves prospectoras afastam-se umas das outras de forma a cobrirem minuciosamente todo o território. Possuindo uma visão muito apurada, os grifos estão sempre atentos à movimentação dos seus parceiros próximos ...






... bem como, à de outras aves mais pequenas que mais prontamente acorrem aos cadáveres, como sejam as Pegas-rabudas (Pica pica), os Corvos (Corvus corax) ou os Milhafres-reais (Milvus milvus).






Será a movimentação destas aves mais pequenas e de coloração conspícua, que os conduzirá rapidamente aos cadáveres. 

Verdadeiramente assombrosas e úteis ao homem, estas grandes planadoras têm um estatuto de espécie ameaçada, pois durante décadas foram vítimas de envenenamento e hoje em dia vítimas da redução de carcaças deixadas no campo pelo homem!




sábado, 5 de fevereiro de 2022

Os esquadrões da planície (I)

O Sol ergueu-se do horizonte faz um par de horas. Contudo, o ar de Inverno ainda não teve tempo de se aquecer suficientemente. É que, a noite foi pródiga em geada, a qual, pela manhã, contagia tudo e todos, com sua resfriada têmpera. 

A natureza, contudo, não tem horas nem climas para mostrar o seu encanto. As cores suaves da manhã convidam a passarada a mais um concerto matinal proporcionando, ademais, quadros paisagísticos de extrema beleza.






O céu que cobre a vasta planície, de um azul suave e sem a presença de nuvens, cria uma sensação de infinitude. Só o barrocal, imponente e sombrio, consegue romper esta linearidade espacial impondo a tridimensionalidade a esta vastidão de terras secas e acastanhadas.





São muitos os escolhos rochosos disseminados por entre a vegetação da planície. Os cocurutos dos mesmos, como atalaias de um território amuralhado, constituem um alvo muito atractivo para os pequenos pássaros, como o muito comum Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros). 

Olhando fixamente em frente, enquanto vai agitando nervosamente a cauda avermelhada, esta pequena ave rapidamente captura o insecto que passa próximo de si, mediante um rápido e curto voo.





No restolho que recobre o solo rochoso, uma ou outra Cotovia-montesina (Galerida theklae) procura insistentemente as sementes e os insectos que a vão saciar; de quando em vez, voa para cima de uma rocha, levanta a cabeça, solta uns assobios e regressa novamente à lide.





À medida que se vai subindo a montanha, as folhosas vão desaparecendo e em seu lugar surge um estrato de vegetação arbustiva baixa, melhor adaptada à secura do meio. É este habitat um palco de múltiplas e lindíssimas vocalizações de machos de Toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) escondidos na intrincada ramagem.





Sobre um ou outro dos altos barrocais destacam-se, isolados, os Melros-azuis (Monticola solitarius). Empertigados sobre o granito, estas aves, com uma deslumbrante plumagem cinza-azulada, nem sempre percepcionada à distância,  parecem querer destacar a sua esbelta fisionomia contra o fundo vazio da montanha. 





É extraordinariamente repousante a vista do alto. Para lá da planície e das pequenas colinas, que se estendem em baixo a perder de vista, estão altas cadeias montanhosas ...




... a emparedar um rio que, antes de se espraiar pelas terras baixas, corria fundo por entre altas escarpas






(continua)