sábado, 5 de fevereiro de 2022

Os esquadrões da planície (I)

O Sol ergueu-se do horizonte faz um par de horas. Contudo, o ar de Inverno ainda não teve tempo de se aquecer suficientemente. É que, a noite foi pródiga em geada, a qual, pela manhã, contagia tudo e todos, com sua resfriada têmpera. 

A natureza, contudo, não tem horas nem climas para mostrar o seu encanto. As cores suaves da manhã convidam a passarada a mais um concerto matinal proporcionando, ademais, quadros paisagísticos de extrema beleza.






O céu que cobre a vasta planície, de um azul suave e sem a presença de nuvens, cria uma sensação de infinitude. Só o barrocal, imponente e sombrio, consegue romper esta linearidade espacial impondo a tridimensionalidade a esta vastidão de terras secas e acastanhadas.





São muitos os escolhos rochosos disseminados por entre a vegetação da planície. Os cocurutos dos mesmos, como atalaias de um território amuralhado, constituem um alvo muito atractivo para os pequenos pássaros, como o muito comum Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros). 

Olhando fixamente em frente, enquanto vai agitando nervosamente a cauda avermelhada, esta pequena ave rapidamente captura o insecto que passa próximo de si, mediante um rápido e curto voo.





No restolho que recobre o solo rochoso, uma ou outra Cotovia-montesina (Galerida theklae) procura insistentemente as sementes e os insectos que a vão saciar; de quando em vez, voa para cima de uma rocha, levanta a cabeça, solta uns assobios e regressa novamente à lide.





À medida que se vai subindo a montanha, as folhosas vão desaparecendo e em seu lugar surge um estrato de vegetação arbustiva baixa, melhor adaptada à secura do meio. É este habitat um palco de múltiplas e lindíssimas vocalizações de machos de Toutinegra-de-barrete (Sylvia atricapilla) escondidos na intrincada ramagem.





Sobre um ou outro dos altos barrocais destacam-se, isolados, os Melros-azuis (Monticola solitarius). Empertigados sobre o granito, estas aves, com uma deslumbrante plumagem cinza-azulada, nem sempre percepcionada à distância,  parecem querer destacar a sua esbelta fisionomia contra o fundo vazio da montanha. 





É extraordinariamente repousante a vista do alto. Para lá da planície e das pequenas colinas, que se estendem em baixo a perder de vista, estão altas cadeias montanhosas ...




... a emparedar um rio que, antes de se espraiar pelas terras baixas, corria fundo por entre altas escarpas






(continua)


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