segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Os esquadrões da planície (II)

 (continuação)


É no alto destas escarpas agrestes que, a esta hora do dia, se encontram ainda pousados, como que emergindo do longo letargo nocturno, os sumptuosos Grifos (Gyps fulvus); a espécie mais comum entre as grandes necrófagas portuguesas.


A um canto, bem no alto da escarpa, estão os indivíduos jovens e os não reprodutores, dourados pela luminosidade suave da manhã, que pouco a pouco banhará toda a vertente.

Enquanto despertam vão aproveitando para secarem as penas do corpo e das asas, da humidade que nelas se acumulou durante a noite.




Um pouco mais abaixo, afastados dessa turba, em plataformas e grutas, encontram-se nesta altura do ano alguns casais nidificantes. Para estes, extremamente territoriais, é impensável a convivência para lá do par formado.






À medida que a manhã avança, o Sol vai-se elevando sobre a linha do horizonte,  aumentando, assim, a temperatura geral da atmosfera.  A geomorfologia deste território escarpado permite que na coluna de ar ocorram gradiantes térmicos, essenciais para a vida destas grandes aves.

É à custa destas correntes térmicas que, das escarpas caiadas de branco pelos dejectos e refúlgidas pelos fracos raios de Sol, começam a levantar, um após outro, os sumptuosos grifos. 





Batendo fortemente as asas, almejam por essas correntes de ar quente, para desse modo se elevarem sem esforço. Quando as alcançam, rodopiam lentamente, em espiral, desenhando amplos círculos enquanto ganham altitude.




Enquanto estas aves, com mais de dois metros e meio de envergadura, vão ascendendo, é possível apreciar toda a sua compleição. 

As asas são largas, com as extremidades das penas primárias ("dedos") muito esticadas e as secundárias arredondadas. A cauda é normalmente arredondada ou cuneiforme (como neste exemplar da foto).

A tonalidade inferior do corpo e das asas é castanha, dourada na parte anterior das asas e bastante escura na parte posterior. Destaca-se também a cor clara da gola e do pescoço. 



Algum tempo depois, já no ar, voando em círculos e executando um batimento de asas de quando em vez, formam uma nuvem esparsa, que vai aumentando, até que uma boa parte da colónia esteja no céu. Apenas os indivíduos que se alimentaram recentemente e as fêmeas, que já se encontram a chocar o seu único ovo, permanecem nos fraguedos.






Agora, bem altos, evoluem ao sabor das correntes convectivas que, ora os fazem seguir ao longo das cristas da montanha... 





... ora os fazem deslizar rapidamente, com as asas em V, sobre a planície. 






Patrulham a vastidão do seu território em busca de alimento; alguma carcaça de animal selvagem ou mesmo doméstico, que pelo campo tenha sucumbido. 


Para alcançarem eficazmente o seu objectivo, as aves prospectoras afastam-se umas das outras de forma a cobrirem minuciosamente todo o território. Possuindo uma visão muito apurada, os grifos estão sempre atentos à movimentação dos seus parceiros próximos ...






... bem como, à de outras aves mais pequenas que mais prontamente acorrem aos cadáveres, como sejam as Pegas-rabudas (Pica pica), os Corvos (Corvus corax) ou os Milhafres-reais (Milvus milvus).






Será a movimentação destas aves mais pequenas e de coloração conspícua, que os conduzirá rapidamente aos cadáveres. 

Verdadeiramente assombrosas e úteis ao homem, estas grandes planadoras têm um estatuto de espécie ameaçada, pois durante décadas foram vítimas de envenenamento e hoje em dia vítimas da redução de carcaças deixadas no campo pelo homem!




2 comentários:

Mixan disse...

Gostei muito! Bela discrição com fotografias a condizer.

Álvaro Reis disse...

Obrigado Mixan!