domingo, 2 de julho de 2006

A propósito do Dia Nacional da Conservação da Natureza: APPFC, ICN & CMO



        É já no próximo dia 28 do corrente mês que mais uma data ecológica surge no calendário nacional – o dia dedicado à conservação da natureza, que o mesmo quer dizer, à conservação dos recursos naturais existentes no planeta, muitos dos quais de reposição demorada e por conseguinte ditos não renováveis. Florestas, animais selvagens, espécies piscícolas, minérios ou combustíveis fósseis são alguns dos recursos que o homem tem vindo a explorar frequentemente de forma irracional tendo já conduzido à extinção de muitas espécies vivas, colocado outras em vias de extinção e em estado de grande vulnerabilidade, muitas mais.
        Falar de conservação da natureza e de conservação dos recursos naturais seria falar, por conseguinte, entre outros, de personagens que afirmam ter grandes preocupações ambientais e que simultaneamente, pelos cargos que ocupam, reúnem capacidade de intervenção em prol dessas mesmas preocupações, com competências para corrigir o que está mal ou tentar melhorar aquilo que merece cuidados. Contudo e infelizmente, este é o falatório que menos interessa recordar, numa época de líderes e gestores públicos, para a maioria dos quais o ambiente é efectivamente menosprezado e se fala de políticas ambientais apenas para dar um ar “democrático” à causa, assumindo-se, deste modo, uma postura “politicamente correcta”.
        Assim, falar de conservação da natureza e de conservação dos recursos naturais é importante, muito importante mesmo, mas desde que em torno de personagens que demonstram efectivamente coragem em levar à prática os seus discursos sobre a resolução dos problemas no âmbito das suas áreas de intervenção. Vem isto a propósito de uma ideia lançada há doze anos e apelidada de “Área de Paisagem Protegida da Foz do Cáster” (a partir daqui referida como APPFC). Uma ideia para conservar um rincão de território da beira-ria no concelho ovarense e que foi a essa data proposta à Câmara Municipal de Ovar (a partir daqui referida como CMO), para ser concretizada em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza (a partir daqui referido como ICN).
        A APPFC pretendia ser a figura jurídica que iria permitir preservar as Moitas e Marinhas de Ovar (localizadas na parte sul do concelho, em plena área da Ria de Aveiro), com todos os recursos naturais a elas associados. De facto, entre os objectivos que se pretendiam alcançar com esta área protegida, contavam-se a garantia da manutenção da nidificação de várias espécies de aves vulneráveis, entre as quais, a águia-sapeira (Circus aeruginosus) e a garça-vermelha (Ardea purpurea), bem como, o ordenamento do local para a promoção da educação ambiental e do turismo ”verde”.
        E o que foi feito, então? Após o interesse inicial (pelo menos aparente) por parte da CMO na ideia, e logo após a visita de alguns técnicos do ICN que demonstraram grande satisfação pela área visitada e pelos recursos que esta apresentava, garantindo ter a mesma condições para poder usufruir do estatuto de APPFC, simplesmente, o projecto desapareceu... desapareceu dos interesses municipais sem qualquer justificação... desapareceu, porque decerto alguém, pelo cargo que ocupa, decidiu engavetá-lo nalgum gabinete dos Paços do Concelho vareiro. Contudo, é importante salientar que com mais este imprudente desleixo da CMO... desapareceu a importante colónia de garça-vermelha que à data existia no local.
São exemplos destes que reforçam, assim, a malfadada verdade contida no segundo parágrafo deste texto e que obrigam aqueles que desejarem fazer a diferença a enquadrar-se antes na letra do quarto parágrafo, para um dia poderem afirmar que no âmbito das suas responsabilidades também contribuíram decisivamente para a conservação da natureza e dos recursos naturais da sua região.
A natureza ovarense agradecerá.
        
(Artigo publicado a 13.07.06 no Jornal de Ovar)