domingo, 20 de março de 2022

Primavera!

 



Depois de dias chuvosos e frios ... 




... que alteraram o estado de seca e provavelmente o ritmo biológico dos seres vivos, a natureza redefiniu-se.


 

A Primavera chegou! 


terça-feira, 15 de março de 2022

A Pega-rabuda (II)

 





(continuação)


O ninho da pega-rabuda, frequentemente aproveitado de anos anteriores, é restaurado por ambos os cônjuges, com novas ramagens trazidas pelo macho, de modo a garantir a segurança dessas volumosas estruturas, quase sempre abobadas e com uma abertura lateral. O seu fundo é atapetado com muita terra, lama, fibras e raízes.



Iniciada a postura, de 5 a 8 ovos, segue-se um período de incubação de 17 a 18 dias, cumprido exclusivamente pela fêmea, durante o qual, o macho é responsável por levar o alimento para a sua parceira.



Enquanto a fêmea aquece os seus preciosos ovos, o macho está envolvido em sucessivas viagens, de ida e volta, do e para o ninho. Estas belas aves, alvi-negras com reflexos azuis-esverdeados na plumagem e com uma conspícua cauda, são observadas insistentemente a chegarem ...




.... e a partirem do ninho.  



Apesar de não ser possível ter uma visão clara do ninho, pelo intrincado de ramagens que o arvoredo já vai apresentando, é possível, contudo, fazer um seguimento comportamental da espécie a partir dos movimentos do macho.

Este, sempre que chega ao ninho com alimento, pousa num primeiro momento num ramo próximo, observando em redor durante algum tempo, assegurando-se que a sua chegada não foi detectada por algum predador. 



Após alguns instantes salta para um outro ramo, ainda mais próximo do ninho, onde voltará a olhar em volta, mais uma vez, garantindo a segurança da sua localização.




Só depois, sentindo que não existem quaisquer perigos, entrará no ninho para entregar o alimento à sua companheira.



O macho demorar-se-à no ninho poucos minutos. Ao sair, apresentará as mesmas precauções de segurança, realizando os mesmos passos em redor do ninho, agora por ordem inversa, antes de se afastar .

   

Primeiro, pousa num ramo próximo ...


.... depois, num outro mais afastado ...


... voando, então, para longe em busca de alimento.



O macho de pega-rabuda repetirá estas incursões várias vezes ao dia, com intervalos que variam entre cinco a dez minutos.




quinta-feira, 10 de março de 2022

A Pega-rabuda (I)






A Pega-rabuda (Pica pica) foi baptizada anteriormente de raínha do Parque Urbano, dado ser uma espécie omnipresente no mesmo e neste encontrar o habitat perfeito para se alimentar e reproduzir.



E, se é verdade que a espécie é comum na área do parque, não é menos verdade que continua a estar presente em áreas envolventes ao mesmo.

Nada discreta, não só pela sua movimentação irrequieta no solo mas também pelos chamamentos frequentes que lança, a Pega-rabuda granjeou ao longo da história um epíteto nada simpático: o de ladra. 

Este corvídeo sendo omnívoro, alimenta-se, predominantemente, de insectos, pequenos animais, vegetais e cadáveres, que encontra no solo; contudo, a sua atracção por objectos reluzentes, como moedas, que transporta para os ninhos foi a razão de no passado ter merecido tal adjectivação.




Durante o Inverno os casais andam juntos, embora ao fim da tarde se reúnam em grupos maiores para pernoitarem em pinhais ou pequenos bosques.

Antes de entrarem nos dormitórios posicionam-se em locais destacados próximos dos mesmos, como que num último convívio social antes do descanso nocturno.




Com a chegada da Primavera os casais iniciam a época da reprodução. Contudo, este ano, provavelmente devido ao padrão climático anormal, esta espécie (como outras mais), vêem alterados os seus calendários biológicos, dando início em meados de Fevereiro ao seu ciclo reprodutivo. 


(continua)




segunda-feira, 7 de março de 2022

Obsessão pelo anti-verde, em Ovar!


Ou são as podas radicais na cidade, ou a "limpeza" da floresta litoral ou a "limpeza" da vegetação ripícola do Cáster. É este o figurino anti-verde da Câmara Municipal de Ovar!

Não se entende o porquê de tais opções mas sabe-se que as mesmas são todas nefastas para a biodiversidade local. 


As podas constituem, na verdade, mutilações arbóreas ...




planeada "limpeza"  da mata litoral para estes próximos tempos ficou suspensa (pelo menos para já), aguardando, talvez, melhor oportunidade para ser levada a cabo... talvez quando a população estiver mais distraída ... 



A vegetação ripícola de um qualquer curso de água serve para estabilizar as margens do mesmo, sendo por conseguinte de especial importância aquando da ocorrência de cheias. 



Esta vegetação constitui, ainda, um obstáculo à forte corrente de cheia fazendo diminuir a velocidade de escoamento das águas e promovendo a fixação de sedimentos.



Mas, a presença desta vegetação num curso de água tem ainda funções acrescidas, do ponto de vista biológico. 


A galeria ripícola, formada pelas grandes árvores e pela vegetação arbustiva mais baixa, fornecem locais para refúgio e nidificação de diferentes espécies de pássaros, que vivem e se alimentam nas áreas adjacentes.







As plantas aquáticas que crescem junto às margens têm, também, um papel muito importante como habitat de vida selvagem. É nela que se escondem e reproduzem a rã-verde (Rana perezi), a galinha-d'água (Gallinula chloropus), o pato-real (Anas platyrhynchos) e o frango-d'água (Rallus aquaticus), entre outras espécies.






Acresce, ainda, o papel desta vegetação como fonte de nutrientes para o ecossistema fluvial.


Ora, é precisamente esta vegetação, que tem sido alvo de "limpezas"  em vários sectores do rio Cáster.







Qual o sentido desta acção camarária? 
Porquê, cortar esta vegetação, sobretudo na época do ano, em que as aves já começaram o seu período de criação? 


Arrisco uma resposta. Talvez, por nenhuma razão de especial relevância. Talvez, apenas, por insensatez!



terça-feira, 1 de março de 2022

O Pombo-das-rochas



Hoje em dia, falar de pombos, traz logo à mente desagradáveis lembranças, sobretudo se vivemos numa cidade. Infelizmente, a proliferação descontrolada destas aves em qualquer burgo é incomodativa e inquietante. 




São vários, pois, os transtornos à vida do homem neste contexto. À acumulação de grande quantidade de dejectos, penas e cadáveres nas ruas, fachadas, varandas, caleiras e telhados, soma-se o risco de transmissão de micro-organismos patogénicos, perigosos para a saúde pública.



Quer estes pombos, espalhados em liberdade pela cidade, quer os outros, que vivem engaiolados para diferentes finalidades do homem, correspondem à raça doméstica do pombo selvagem ascentral - o Pombo-das-rochas (Columba livia).



O Pombo-das-rochas selvagem apresenta uma plumagem cinzenta clara no dorso e nas coberturas superiores das asas, que são brancas por baixo. A cabeça é também cinza mas de um tom mais escuro. O pescoço apresenta reflexos esverdeados e violáceos. Destacam-se duas barras negras nas asas, bem como, o uropígio branco, sobretudo, quando a ave se encontra em voo.



Olhando de perto para um bando de pombos de uma praça podemos constatar uma das diferenças - a mais evidente aos nossos olhos - que caracteriza a raça doméstica. 

Trata-se, precisamente, da grande diversidade de tons e cores apresentados na plumagem dos diferentes indivíduos do grupo ...



... e a não correspondência com a plumagem da raça pura de onde procederam.


Deste modo, parece assim, ser bastante fácil fazer a separação entre as duas formas, a raça selvagem e a doméstica. Mas, na verdade, não o é.

E não o é, porque, entre os pombos domésticos ocorrem também plumagens muito semelhantes à da forma selvagem!



Este tipo de situação, não é exclusivo dos pombos. Acontece com outras espécies animais, bem conhecidas em meio urbano. 

É o caso, por exemplo, da coexistência no lago de um parque ou de um rio citadinos, de patos domésticos com uma grande variabilidade de plumagens, juntamente com outros indivíduos com a plumagem típica da forma ascentral - o Pato-real (Anas platyrhynchos).



Mas, voltemos aos pombos-das-rochas e aos seus descendentes geracionais, os pombos domésticos!


O Pombo-das-rochas selvagem, nas últimas décadas, reduziu bastante a sua população e área de distribuição, sendo hoje, uma espécie muito localizada em sectores de arriba ou escarpados, nomeadamente na faixa litoral. 

E é, na verdade, esta, a característica que realmente pode ajudar na identificação da  espécie no seu estado selvagem. A localização dos ninhos!




Contudo, e devido ao que foi referido, a maioria das colónias de Pombo-das-rochas dificilmente serão "puras", isto é, poderão conter indivíduos pertencentes à forma doméstica. Quando assim é, estes últimos parecem apresentar uma plumagem na cabeça, dorso e parte superior das asas bastante escura. 



Esta circunstância poderá ser resultado de uma adaptação natural ao meio, face ao mimetismo que este tom escuro oferece no habitat onde estas aves mais se encontram expostas aos predadores.



Em meio urbano, este padrão de plumagem não parece ser predominante, sendo a plumagem mais comum aquela que reúne tons da forma selvagem mas em que as coberturas alares superiores se apresentam mosqueadas de escuro.




Termina-se este apontamento referindo que, ao contrário do que acontece em meio urbano - crescimento incontrolado das populações de pombos, pela ausência de ameaças - nas colónias selvagens (puras ou não), o número de indivíduos é sempre muito menor, pelo facto, dos mesmos sofrerem predação, sobretudo por parte das aves de rapina.