terça-feira, 1 de março de 2022

O Pombo-das-rochas



Hoje em dia, falar de pombos, traz logo à mente desagradáveis lembranças, sobretudo se vivemos numa cidade. Infelizmente, a proliferação descontrolada destas aves em qualquer burgo é incomodativa e inquietante. 




São vários, pois, os transtornos à vida do homem neste contexto. À acumulação de grande quantidade de dejectos, penas e cadáveres nas ruas, fachadas, varandas, caleiras e telhados, soma-se o risco de transmissão de micro-organismos patogénicos, perigosos para a saúde pública.



Quer estes pombos, espalhados em liberdade pela cidade, quer os outros, que vivem engaiolados para diferentes finalidades do homem, correspondem à raça doméstica do pombo selvagem ascentral - o Pombo-das-rochas (Columba livia).



O Pombo-das-rochas selvagem apresenta uma plumagem cinzenta clara no dorso e nas coberturas superiores das asas, que são brancas por baixo. A cabeça é também cinza mas de um tom mais escuro. O pescoço apresenta reflexos esverdeados e violáceos. Destacam-se duas barras negras nas asas, bem como, o uropígio branco, sobretudo, quando a ave se encontra em voo.



Olhando de perto para um bando de pombos de uma praça podemos constatar uma das diferenças - a mais evidente aos nossos olhos - que caracteriza a raça doméstica. 

Trata-se, precisamente, da grande diversidade de tons e cores apresentados na plumagem dos diferentes indivíduos do grupo ...



... e a não correspondência com a plumagem da raça pura de onde procederam.


Deste modo, parece assim, ser bastante fácil fazer a separação entre as duas formas, a raça selvagem e a doméstica. Mas, na verdade, não o é.

E não o é, porque, entre os pombos domésticos ocorrem também plumagens muito semelhantes à da forma selvagem!



Este tipo de situação, não é exclusivo dos pombos. Acontece com outras espécies animais, bem conhecidas em meio urbano. 

É o caso, por exemplo, da coexistência no lago de um parque ou de um rio citadinos, de patos domésticos com uma grande variabilidade de plumagens, juntamente com outros indivíduos com a plumagem típica da forma ascentral - o Pato-real (Anas platyrhynchos).



Mas, voltemos aos pombos-das-rochas e aos seus descendentes geracionais, os pombos domésticos!


O Pombo-das-rochas selvagem, nas últimas décadas, reduziu bastante a sua população e área de distribuição, sendo hoje, uma espécie muito localizada em sectores de arriba ou escarpados, nomeadamente na faixa litoral. 

E é, na verdade, esta, a característica que realmente pode ajudar na identificação da  espécie no seu estado selvagem. A localização dos ninhos!




Contudo, e devido ao que foi referido, a maioria das colónias de Pombo-das-rochas dificilmente serão "puras", isto é, poderão conter indivíduos pertencentes à forma doméstica. Quando assim é, estes últimos parecem apresentar uma plumagem na cabeça, dorso e parte superior das asas bastante escura. 



Esta circunstância poderá ser resultado de uma adaptação natural ao meio, face ao mimetismo que este tom escuro oferece no habitat onde estas aves mais se encontram expostas aos predadores.



Em meio urbano, este padrão de plumagem não parece ser predominante, sendo a plumagem mais comum aquela que reúne tons da forma selvagem mas em que as coberturas alares superiores se apresentam mosqueadas de escuro.




Termina-se este apontamento referindo que, ao contrário do que acontece em meio urbano - crescimento incontrolado das populações de pombos, pela ausência de ameaças - nas colónias selvagens (puras ou não), o número de indivíduos é sempre muito menor, pelo facto, dos mesmos sofrerem predação, sobretudo por parte das aves de rapina.



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