quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sob a depressão ... (II)

 




(continuação)


Encolhidos pelo vento sul, que corre velozmente sobre a laguna, encontram-se acocorados sobre o pontão, centenas de pequenas aves limícolas, numa atitude de espera.



Esta ventania, que é acompanhada de fortes rajadas, não deixa que a maré vazante corra a seu jeito, impedindo por ora, que estes e outros seres, inquilinos das vasas, dêem continuidade  ao seu modus vivendi.


Solitário nestas águas agitadas, baloiça um guincho-comum (Chroicocephalus ridibundus), fazendo contrastar a escuridão das mesmas com a alvura da sua plumagem. 



Sòmente as pernaltas, como o flamingo-comum (Phoenicopterus roseus), se arriscam a enfiar as patas dentro destas águas agitadas que correm com força. Hirtos, muito juntos e abrigados pelo talude vegetado da margem, resistem à intempérie, como se de verdadeiras estátuas aquáticas se tratassem.



Com o passar dos minutos e à medida que a maré vai descendo, vão surgindo, sem nunca se saber ao certo donde, novos protagonistas lagunares. Os colhereiros (Platalea leucorodia), com seus bicos em forma de espátula, vão varrendo as águas ininterruptamente, maneando a cabeça para um e outro lado, à medida que vão avançando, de forma a conseguirem o seu precioso alimento: moluscos e crustáceos.



Quando algumas horas depois, os lodos se começam a revelar, as limícolas parecem receber essa mesma informação. Levantando subitamente voo do local onde dormitavam, efectuam uns amplos círculos sobre o mesmo, dirigindo-se de seguida, em voo rasante, para as praias de vasa. 



A atmosfera saturada de humidade, a exalar o seco aroma do lodo, adquire um maior dramatismo sempre que o Sol se encobre e a sua cor sombria pinta as águas turbulentas da laguna. 


Nas praias de vasa começa finalmente a formar-se um verdadeiro exército de aves, que indiferentes aos rigores do clima, vão a partir de agora entrar em intensa actividade, como condição essencial para a sua própria sobrevivência.


Pilritos-comuns (Calidris alpina) ...



... pilritos-das-praias (Calidris alba) ...



... e borrelhos-grandes-de-coleira (Charadrius hiaticula) ...



... são algumas das espécies mais pequenas que formam esta comunidade ornítica. De facto, estas diferentes espécies, frequentemente, convivem juntas nas suas prospecções alimentares.




(continua)



sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Sob a depressão ...

 







Após dias de bonança, o fim de tarde surge em tons acobreados, com nuvens negras ameaçadoras, para as bandas do nascente.



Na manhã seguinte, os campos e a cidade começam a receber os primeiros pingos de chuva. Tímidos de início, em breve engrossarão.




Estes episódios de precipitação são intervalados, sempre que o Sol consegue rasgar o tecto de nuvens, com o aparecimento dos sempre admiráveis arco-íris que, como grinaldas sobre a Terra, parecem ligá-la ao céu no horizonte distante.



Mas, com o evoluir do dia, esta depressão foi-se instalando cada vez com mais notoriedade. Aquele céu, que antes e quando podia, projectava sorrisos coloridos, toldou-se de um cinza fechado.  A água vinda do céu, começou subitamente a desabar em catadupa. 

A chuva caindo de forma contínua, tocada pelo vento sul, obriga os seres a recolherem-se em abrigos. 



Desapareceram as águias, as gralhas, o mocho, os pequenos pássaros. A natureza parece ter reagido à intempérie, encolhendo-se, escondendo em tocas os seus preciosos recursos.


Talvez seja a marisma, essa extensa e despida planura, um dos locais mais indicados para sentir os rigores desta invernia. 




Contemplar esse amplo céu, onde a luz quase não se consegue coar e simultaneamente escutar o burburinhar das águas, agitadas pela ventania e pela corrente da maré, constitui um verdadeiro bálsamo para os sentidos.



Aparentemente hostil à vida, a depressão atmosférica instalada, irá revelar na marisma toda uma explosão de vida selvagem, que se mantém bem activa por entre os grossos pingos da chuva e os empurrões fortíssimos da ventania.



(continua)



sábado, 13 de janeiro de 2024

Dias soalheiros

 






Mal a chuva deixou de ensopar a terra e o sol radioso conseguiu, finalmente, quebrantar o ar frio dos últimos dias, a natureza logo rejuvenesceu, nas suas cores e na vida dos seus seres.

Os prados, lavados de tanta água, apresentam-se de um verde viçoso, que conjuga na perfeição com os distintos tons claro-escuros do arvoredo próximo. 



É neste arvoredo de amieiros (Alnus glutinosa) e choupos-brancos (Populus alba) de grande porte, bem como, por toda a vegetação arbustiva envolvente, que se pode assistir a este desabrochar de vida, necessariamente fugaz, pois as condições climatéricas poderão mudar rapidamente.


Os seus chamamentos roucos conduzem o nosso olhar até ao cimo das copas. Lá, encontra-se um grupo de gralhas-pretas (Corvus corone). 



Como que saboreando a temperatura amena que se faz sentir, aqui descansam, cuidam da plumagem, trocam curtas mensagens entre si, até que decidem levantar voo. Esvoaçando sobre os campos, logo descem ao solo para recolherem tudo aquilo que lhes possa servir de alimento. Grãos, roedores, artrópodes e demais invertebrados.


Contrastando o gregarismo destes negros pássaros palradores, está uma rapina, solitária, silenciosa e destacada no topo da árvore. A águia-de-asa-redonda (Buteo buteo), comum e de ampla distribuição, tem andado muito discreta, acossada pelo tempo adverso que se tem feito sentir. Hoje, porém, são avistadas em número significativo à distância de um olhar em redor. 



Numa postura vigilante sobre tudo o que a rodeia, sente o movimento das suas presas uns metros mais abaixo. Os roedores, aproveitando também esta bonança, abandonaram as suas galerias subterrâneas e deambulam pelos campos, na procura de grãos e gramíneas. Alguns, já sucumbiram às garras desta rapina.


Quase imperceptíveis na vastidão dos campos, deslocam-se algumas petinhas-dos-prados (Anthus pratensis), indagando por invertebrados, capazes de suprir as suas necessidades alimentares.



Mais nervosas andam também as alvéolas-brancas (Motacilla alba), numa concorrência trófica com a espécie anterior. 



  

Nestes dias soalheiros de Inverno, outros pequenos pássaros, como o cartaxo-comum (Saxicola torquata) deixam-se observar demoradamente no topo dos arbustos, antes de se lançarem em voo na perseguição de algum insecto.



As ramagens finas dos salgueiros (Salix sp.) são o palco de um pequeno saltimbanco. A felosinha-comum (Phylloscopus collybita), vasculha cada arbusto, cada ramo, procurando os pequenos pulgões que neles emergem.



Mais uma águia-de-asa-redonda de sentinela! Num dia que ainda não chegou ao fim, parece ter ocorrido um verdadeiro Big Bang para esta espécie.




Até os lamaçais que a chuva formou constituem polos de atracção para várias espécies tipicamente arborícolas, uma vez que àqueles acorrem agora muitos mais insectos. 

É o caso do encantador pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), habitualmente observado sobre um qualquer ramo e agora com as patas dentro de água.



Mais habituada às orlas ribeirinhas, a alvéola-cinzenta (Motacilla cinerea) explora a seu bel-prazer estas terras alagadas.



Habituada, como se referiu antes, a alimentar-se por entre o intrincado do arvoredo e dos silvados, anda hoje pelo solo, a delicada felosinha-comum, exactamente pela mesma motivação que assiste aos restantes passeriformes.



Enquanto os pequenos pássaros calcorreiam os prados atrás de invertebrados, no alto do céu, uma águia-de-asa-redonda, mais uma,  perscruta as suas potenciais presas. 



Também o pequeno mocho-galego (Athene noctua), se mantém atento, tal como a águia, ao movimento de pequenos roedores, musaranhos e insectos que perto dele passam. 



Nem sempre as caçadas dos predadores são bem sucedidas e o mocho-galego não constitui excepção. Um musaranho-de-dentes-brancos-grande (Crossidura russula) que depois de caçado não foi transportado, devido a uma fuga precipitada do predador, fará parte de uma outra qualquer cadeia alimentar.




Hoje, em que a ventania não se fez ouvir, a chuva se ausentou e o ar aqueceu com um sol brilhante, foi um dia de vida intensa para presas e predadores.


O final de tarde, que rapidamente chega, pois os dias só agora começaram a crescer lentamente, augura que amanhã teremos mais um dia soalheiro!





sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Os pássaros

 






Os pássaros formam a ordem (passeriformes) mais numerosa dentro da classe das aves. Com cerca de 6000 espécies em todo o mundo, os passeriformes representam mais de metade das espécies de aves existentes.

Desde as espécies de muito pequenas dimensões, como a felosa, até às de média dimensão, como os corvídeos, os pássaros, canoros por excelência, são seres extraordinariamente chamativos, também pelo comportamento e coloração.