sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Mesa de Natal


É Natal, é Natal,.... a
ssim vão soando os cânticos na cidade próxima. 

Na cidade, todos se preparam para a esperada ceia de Natal, conscientes das restrições impostas quanto ao número de pessoas presentes em cada agregado familiar.

Marcados pelas águas da Ria, os agregados ribeirinhos estão rodeados de extensos campos de cultura e outros tantos prados naturais ou semi-naturais.




Olhando de forma perspicaz para um qualquer desses prados húmidos descobrimos que ...


... os bandos de Estorninhos, às dezenas, representam um verdadeiro furacão sonoro. 

Nesta altura do ano as duas espécies presentes coabitam na região, formando por vezes bandos mistos. Alimentando-se no solo ou assobiando do cimo de uma árvore, de um poste ou de um telhado, o Estorninho-malhado (Sturnus vulgaris) distingue-se do seu parente o Estorninho-preto (Sturnus unicolor), pelo sarapintado das suas coberturas.




... o Guincho-comum (Larus ridibundus), é frequentemente observado em grande número patrulhando estes espaços verdes, pese embora, o seu habitat preferencial sejam as bolsas de água.

É uma pequena gaivota, branca por baixo e prateada por cima, de patas e bico vermelhos, que perdeu o capuz escuro de Verão ficando apenas com uma mancha nos lados da cabeça. 

Trata-se de uma gaivota muito ruidosa devido ao seu comportamento gregário potenciar gritos penetrantes. 



... a Alvéola-branca (Motacilla alba), com a sua roupagem branca, negra e cinza, calcorreia em diferentes direcções o prado, explorando-o de forma sistemática na busca dos pequenos insectos.




... o Tentilhão-comum (Fringilla coelebs), com sua belíssima plumagem multicolorida, desce, em bando, do arvoredo para o solo onde aí encontra as sementes e grãos que o deliciam. 



... quase imperceptíveis quando observadas à distância, pela sua reduzida envergadura e pela plumagem mimética, as Petinhas-dos-prados (Anthus pratensis) buscam, tal como algumas das espécies anteriores, os muitos insectos que se encontram no solo.



... o Chamariz (Serinus serinus), que habitualmente se ouve a cantar do alto de uma árvore, também desce ao solo, preferindo os tufos de vegetação rasteira onde pode encontrar sementes diversas.



... a pequena Felosa-comum (Phylloscopus collybita), que habitualmente caça insectos esvoaçando entre os caules da vegetação aquática, também vem até aqui, pois encontra alimento em abundância.




... o rechonchudo e colorido Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), que normalmente é visto na orla da vegetação arbórea, não resiste a uma incursão a este habitat húmido repleto de insectos, minhocas e outros invertebrados.



... grupos de Gralhas-pretas (Corvus corone), descem ao prado para se alimentarem de invertebrados, cadáveres ou insectos, voando logo a seguir para os seus altos poisos.



... a pequena Garça-boieira (Bubulcus ibis), de plumagem branca e bico amarelo, é um visitante muito comum nesta altura do ano, ocorrendo sempre em grupo, por vezes muito numeroso.




... bandos de Abibes (Vanellus vanellus), semelhantes a pequenos galináceos alvi-negros, vindos de outros prados distantes, descem aos campos e por aqui permanecem durante bastante tempo deliciando-se com os abundantes invertebrados e insectos presentes.



... a Narceja-comum (Gallinago gallinago), quase passa despercebida quando, agachada, se alimenta no solo húmido, rodeada por tufos de vegetação rasteira. 

O seu bico comprido e a plumagem riscada são, contudo, elementos diferenciadores.  

Quando assustada, levanta-se num voo rápido e ziguezagueante, acompanhado de um chamamento típico.




Não fosse o frio e a chuva que começou a cair, por aqui poderíamos continuar a observar estes magníficos prados... Outros comensais podem aparecer a qualquer momento ... Verdilhões (Carduelis chloris), Pintassilgos (Carduelis carduelis), Pardais-comuns (Passer domesticus)...


Como se constata, nesta época do ano, o prado é uma autêntica "mesa de Natal" repleta de alimento. Nesta mesa não há qualquer tipo de condicionalismos ao ajuntamento da vida selvagem. Nem quanto ao número de famílias presentes, nem quanto ao número de indivíduos por família. 

A natureza tem outras regras! 



É Natal, é Natal,.... assim vão continuando a soar os cânticos na cidade próxima. 









segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Às portas do Inverno (II)

(continuação)

Ainda não vamos a meio do mês de Dezembro e as Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia), que no final do Verão não precisaram de empreender a viagem para África, ocupam já os seus antigos ninhos por toda a região aveirense ... os casais começaram já os rituais pré-nupciais.




Extraordinariamente silenciosos, mesmo quando em grupo, são presença esporádica ao longo do ano nas águas da Ria de Aveiro. Contudo, é desde o Verão e sobretudo a partir do início das migrações outonais que a observação da espécie aumenta de frequência. 

Quando observados de longe distinguem-se pelo seu branco resplandecente. De perto, a sua frequente postura inclinada, o bico comprido enfiado na água e um penacho que às vezes se projecta da cabeça são outras características diferenciadoras. Quando em voo distinguem-se das garças-brancas por apresentarem o pescoço estendido. 

Sempre em águas pouco profundas vão pescando em contra-corrente da maré, os peixes, os moluscos e os crustáceos, mediante o seu bico em forma de espátula. 




Outra pernalta de distribuição irregular na região é a Íbis-preta (Plegadis falcinellus). A maior parte dos bandos migratórios desta espécie seguem para África permanecendo por cá no Inverno um reduzido número destas aves.

Contrastando com a espécie anterior pela cor escura da plumagem e o bico afiado e curvo na extremidade, estas aves alimentam-se em águas muito pouco profundas e rodeadas de tufos de vegetação onde encontram anfíbios e insectos de forma fácil.





O vento da tarde que corre sobre a superfície da água dos canais reforça a subida da mesma sobre os mouchões e as praias arenosas. É aqui que encontramos uma grande diversidade de limícolas e entre elas a Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola). 

Esta ave de médio porte inverna parcialmente na região, dado que o grosso dos bandos continuam a migração para África. 

Ave tímida e com um comportamento desconfiado desloca-se muito lentamente na busca do alimento.




O Inverno é a estação privilegiada para os anatídeos em Portugal. São várias as espécies que em grande número descem da tundra árctica, após a reprodução ter chegado ao seu termo, fugindo aos rigores do clima que se fará sentir alguns meses depois.

Habitualmente, os anatídeos que invernam entre nós, formam associações mistas com diferentes espécies preferindo águas calmas, rodeadas de vegetação.


Uma dessas espécies é o Pato-trombeteiro (Anas clypeata). Além das cores contrastantes da sua plumagem e do seu aspecto pesado apresenta um bico peculiar em forma de colher.




A Marrequinha (Anas crecca) é outra espécie, mais numerosa e de menor dimensão do que a espécie anterior - é, aliás, o pato mais pequeno da fauna portuguesa - que frequenta também águas mais calmas e fechadas por densa vegetação. A coloração verde e castanha da cabeça e a forma fácil com que levanta voo na vertical são características da espécie.





A Frisada (Anas strepera), também invernante na região, é maior do que as espécies anteriores e ao contrário daquelas apresenta uma coloração muito uniforme em tons de castanho e cinza. O abdómen e o espelho brancos visíveis em voo, bem como, o seu aspecto mais leve e esguio, são algumas características identificativas.




O Inverno, despido de folhas nas zonas arborizadas das matas e parques é recheado de vida na marisma. 

Seja de manhã ou à tarde a sua presença constitui uma visão imperdível e assombrosa. De facto, uma das observações preciosas que o Inverno oferece é a da Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) pousada num poste, quase sempre afastado do local onde nos encontramos. É para lá que se dirige esta ave sempre que captura um peixe na laguna. 

Chegando à região durante a passagem migratória outonal, por cá costumam ficar alguns indivíduos, para gáudio dos ornitólogos! 




domingo, 5 de dezembro de 2021

Às portas do Inverno (I)

O tempo húmido e frio dos últimos dias irá acentuar o seu carácter com a chegada da próxima depressão. Nos campos e prados húmidos envolventes à Ria de Aveiro corre um vento fraco vindo da serra, que em breve rondará para o quadrante sul, soprando, então, bem mais forte. 

A natureza, sob um céu espessamente tingido de cinza, continua vibrante, apesar do colorido dos seus seres não ter oportunidade de se revelar plenamente aos nossos olhos. Poder-se-á afirmar que, não sendo objectivamente uma natureza a preto e branco, sê-lo-á, em tons de claro e escuro.




A atmosfera da manhã carregada de humidade, é cruzada por uma diversidade de aves, de  tamanhos e formas diferentes. Algumas, bem conhecidas, são residentes na região, mas outras, foram chegando desde o final do Verão e por cá permaneceram no Outono deambulando em busca de alimento e descanso. As que entretanto não seguiram viagem para sul aqui irão permanecer durante o Inverno, que se avizinha.




Independentemente das nossas coordenadas, nos terrenos que abraçam apertadamente os canais e esteiros da Ria de Aveiro estão sempre presentes um ou outro espécime da família Ardeidae (garças). 

Uma das espécies mais imponentes desta família é a Garça-real (Ardea cinerea). Estando presente durante todo o ano na região, vê os seus efectivos aumentarem desde o final do Verão, com a chegada de indivíduos dispersantes provenientes não só de colónias do centro da Europa mas também de colónias nacionais. 

A Garça-real é o maior exemplar da família  distinguindo-se facilmente pela tonalidade cinza e pelo bico robusto de cor amarelada.




Ao contrário da Garça-real, a Garça-branca-grande (Egretta alba) é uma das espécies tipicamente invernantes na região na última década, pois durante o resto do ano não costuma ser observada por aqui. Mesmo no Inverno a espécie ocorre em números reduzidos, aparecendo quase sempre solitária. Apesar destes factos, esta ave aproxima-se frequentemente de núcleos rurais. 

Distingue-se pela sua grande envergadura, plumagem de cor alva, bico amarelo e patas negras. O seu habitat de excelência são os prados húmidos onde encontra insectos e pequenos peixes.




Sem dúvida que, ao calcorrear os caminhos ruderais e aqueles outros de trilho possível entre o mar verde escuro da vegetação palustre, nos iremos encontrar frequentemente com a mais familiar espécie desta família ornitológica. 

A Garça-branca-pequena (Egretta garzetta), ao contrário da espécie anterior, é comum na região, podendo ser observada ao longo de todo o ano. 

Muito desconfiada e rápida a levantar voo ao mínimo sinal de perigo costuma pescar em águas baixas, inclusivamente em cursos de água citadinos. 

Tal como a espécie anterior apresenta um branco puro na plumagem, mas o seu bico é negro.




Com a aproximação do Inverno os céus sobre a laguna e regiões adjacentes começam a assistir à passagem dessas grandes aves negras, de pescoço estendido e voo potente.  O Corvo-marinho-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo) observa-se, então, em grandes números, umas vezes em voo, outras vezes pousados em algum promontório, frequentemente de asas bem abertas ao vento e ao Sol, de forma a secarem as penas encharcadas após cada mergulho. 

Estas aves, que começam a chegar a partir do mês de Setembro, à medida que a estação avança vão sendo cada vez mais comuns em águas interiores, como os rios que atravessam os centros urbanos.




Em determinados rincões da laguna concentram-se bandos de Maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa), que por aqui irão invernar. 

No início das chegadas destes migradores outonais é possível observar alguns indivíduos ainda com a plumagem de Verão enquanto outros já procederam à muda de Inverno.

Não passam despercebidos a um olhar atento, já que estas aves de médio porte quando em voo apresentam um padrão conspícuo, com barras alares e um largo uropígio, brancos.




Este final de Outono, de reduzido fotoperíodo, não deixa de nos brindar às vezes com entardeceres fabulosos. Fabulosos, não só pela vista sobre a linha do horizonte mas também pela áurea com que os seres se adornam!

Uma das rapinas residentes na região é o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus). De distribuição relativamente recente na laguna aveirense, tem-se expandido rapidamente nos últimos anos por toda esta zona húmida. 

É facilmente identificável, ao longe, quando pousada nalgum poste, pela tonalidade geral que apresenta, bastante clara. 

Em voo, peneira frequentemente como que estivesse suspensa, deixando-se cair logo que avista uma presa. É num desses entardeceres dourados, em que os raios lhe incidem por baixo do corpo, que esta bela ave ainda mais bela se torna!




(continua)

domingo, 14 de novembro de 2021

Copas de Outono, nas encostas de montanha

O Outono na montanha é especial. 

Aqui, a altitudes que rondam os 1200 a 1500 metros, os bosques caducifólios, dominados por extensos carvalhais, a que se juntam faias, abetos e pinheiros silvestres, como que trepam pelas encostas da montanha...




























sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Copas de Outono, nos lameiros de montanha

O Outono nas terras altas é especial. 

Aqui, a altitudes que rondam os 1200 a 1500 metros, os bosques caducifólios, dominados por extensos carvalhais, característicos do patamar inferior da montanha (colina), emergem como barreiras periféricas às terras planas e irrigadas (prados), onde o gado bovino pastoreia livremente. 

Tratam-se dos Lameiros, terrenos assim configurados perante a abundância de água que escorre da alta montanha.