segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Às portas do Inverno (II)

(continuação)

Ainda não vamos a meio do mês de Dezembro e as Cegonhas-brancas (Ciconia ciconia), que no final do Verão não precisaram de empreender a viagem para África, ocupam já os seus antigos ninhos por toda a região aveirense ... os casais começaram já os rituais pré-nupciais.




Extraordinariamente silenciosos, mesmo quando em grupo, são presença esporádica ao longo do ano nas águas da Ria de Aveiro. Contudo, é desde o Verão e sobretudo a partir do início das migrações outonais que a observação da espécie aumenta de frequência. 

Quando observados de longe distinguem-se pelo seu branco resplandecente. De perto, a sua frequente postura inclinada, o bico comprido enfiado na água e um penacho que às vezes se projecta da cabeça são outras características diferenciadoras. Quando em voo distinguem-se das garças-brancas por apresentarem o pescoço estendido. 

Sempre em águas pouco profundas vão pescando em contra-corrente da maré, os peixes, os moluscos e os crustáceos, mediante o seu bico em forma de espátula. 




Outra pernalta de distribuição irregular na região é a Íbis-preta (Plegadis falcinellus). A maior parte dos bandos migratórios desta espécie seguem para África permanecendo por cá no Inverno um reduzido número destas aves.

Contrastando com a espécie anterior pela cor escura da plumagem e o bico afiado e curvo na extremidade, estas aves alimentam-se em águas muito pouco profundas e rodeadas de tufos de vegetação onde encontram anfíbios e insectos de forma fácil.





O vento da tarde que corre sobre a superfície da água dos canais reforça a subida da mesma sobre os mouchões e as praias arenosas. É aqui que encontramos uma grande diversidade de limícolas e entre elas a Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola). 

Esta ave de médio porte inverna parcialmente na região, dado que o grosso dos bandos continuam a migração para África. 

Ave tímida e com um comportamento desconfiado desloca-se muito lentamente na busca do alimento.




O Inverno é a estação privilegiada para os anatídeos em Portugal. São várias as espécies que em grande número descem da tundra árctica, após a reprodução ter chegado ao seu termo, fugindo aos rigores do clima que se fará sentir alguns meses depois.

Habitualmente, os anatídeos que invernam entre nós, formam associações mistas com diferentes espécies preferindo águas calmas, rodeadas de vegetação.


Uma dessas espécies é o Pato-trombeteiro (Anas clypeata). Além das cores contrastantes da sua plumagem e do seu aspecto pesado apresenta um bico peculiar em forma de colher.




A Marrequinha (Anas crecca) é outra espécie, mais numerosa e de menor dimensão do que a espécie anterior - é, aliás, o pato mais pequeno da fauna portuguesa - que frequenta também águas mais calmas e fechadas por densa vegetação. A coloração verde e castanha da cabeça e a forma fácil com que levanta voo na vertical são características da espécie.





A Frisada (Anas strepera), também invernante na região, é maior do que as espécies anteriores e ao contrário daquelas apresenta uma coloração muito uniforme em tons de castanho e cinza. O abdómen e o espelho brancos visíveis em voo, bem como, o seu aspecto mais leve e esguio, são algumas características identificativas.




O Inverno, despido de folhas nas zonas arborizadas das matas e parques é recheado de vida na marisma. 

Seja de manhã ou à tarde a sua presença constitui uma visão imperdível e assombrosa. De facto, uma das observações preciosas que o Inverno oferece é a da Águia-pesqueira (Pandion haliaetus) pousada num poste, quase sempre afastado do local onde nos encontramos. É para lá que se dirige esta ave sempre que captura um peixe na laguna. 

Chegando à região durante a passagem migratória outonal, por cá costumam ficar alguns indivíduos, para gáudio dos ornitólogos! 




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