sexta-feira, 27 de outubro de 2023

A migração pós-nupcial: os anatídeos (II)

 




(continuação)


O pato-trombeteiro (Anas clypeata), distingue-se à distância, pela sua silhueta atarracada e bico comprido, dirigido para baixo e em forma de colher. A sua cabeça de cor verde escura, o peito branco e os flancos acastanhados constituem, também eles, elementos diferenciadores.



São vistos isolados ou em pequeno número, misturados com outras espécies, em águas baixas e com bastante vegetação, para onde nadam para se esconderem. 


O pato-branco (Tadorna tadorna) é uma ave de pescoço comprido, que se reconhece facilmente pela coloração branca dominante, cabeça verde muito escura, bico vermelho com protuberância basal e uma banda castanha a toda a largura do peito.




A espécie chega a Portugal vinda do norte da Europa durante a migração outonal, distribuindo-se por diferentes zonas húmidas costeiras. Contudo, nos últimos anos tem havido lugar a uma fixação da espécie, como residente, em certos locais capazes de oferecer boas condições de abrigo.




O pato-ferrugíneo (Tadorna ferruginea) é uma ave considerada de ocorrência acidental no país, sendo a generalidade dos avistamentos atribuídos a indivíduos fugidos de cativeiro. 

Contudo, a observação anual de exemplares em determinadas zonas húmidas, exclusivamente durante este período do ano, sugere que tais ocorrências possam corresponder a aves selvagens que se integraram nos bandos migratórios de outros anatídeos, em trânsito para o sul de Espanha e norte de África.



O pato-ferrugíneo apresenta porte, voo e comportamento semelhantes aos do pato-branco. O seu corpo é de cor laranja-ferrugem, com uma mancha branca nas asas. A cabeça é mais clara que o corpo. Apresenta uma delgada banda preta no pescoço (apenas na plumagem de Verão) com o bico e as patas de cor negra.





Entre os patos que para obterem alimento necessitam de mergulhar todo o corpo na água salientam-se o zarro-comum, a negrinha, o pato-negro e o êider-edredão. Excepto as duas últimas espécies que têm como habitat preferencial as águas oceânicas, as restantes fixam-se em lagoas, albufeiras, charcos e zonas estuarinas abrigadas.


O zarro-comum (Aythya ferina) é uma espécie que, nos dias de hoje, tem cada vez menos aves residentes no sul do país, razão pela qual, ser durante este período migratório que os efectivos nacionais aumentam.

A ave distingue-se pela cabeça cónica castanha, olhos vermelhos, corpo cinza, peito e parte posterior do corpo negros. O bico é escuro com uma barra cinzenta na sua parte anterior. 




O zarro-negrinha (Aythya fuligula), ao contrário da espécie anterior, apresenta uma cabeça proporcionalmente grande e arredondada, com um penacho a cair da coroa (comprido unicamente na plumagem de Verão) e um bico cinzento-azulado com a extremidade negra. A sua plumagem é negra, com os flancos brancos (cinza na plumagem de eclipse, como na foto), notando-se distintamente em voo as barras alares brancas. 

Apesar de ser cada vez menos abundante é uma espécie gregária neste período do ano.





O pato-negro (Melanitta nigra) forma bandos muito numerosos e densos, tanto em águas costeiras como em alto-mar. 

Por esta razão, uma observação próxima destas aves torna-se difícil, salvo quando dão à costa mortos ou feridos. Na melhor das hipóteses, podemos observá-los flutuando sobre a ondulação, antes desta se desfazer sobre as praias. A esta distância e se as condições de luminosidade ajudarem pode-se observar uma plumagem totalmente negra, contrastando com o bico amarelo. 




O êider-edredão (Somateria mollissima) é um pato marinho de compleição robusta, que chega até nós de forma acidental, desde as latitudes frias do norte da Europa. 




Sobre a caracterização desta ave recorde-se aquilo que já foi referido em alguns apontamentos, nomeadamente a propósito da sua estadia recente e prolongada em águas portuguesas.



A terminar esta abordagem deve salientar-se que os movimentos migratórios são muito importantes na sobrevivência de algumas espécies de seres vivos, não sendo exclusivos das aves. 

O que acontece é que ao nível do sul da Europa são elas, as aves, que os tornam mais conhecidos e espectaculares, dada a exuberância dos números, exposição visual e variedade de espécies implicadas em tal fenómeno natural.



sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Cotovias: princesas da estepe cerealífera

 






Há pássaros que vivem, quase sempre, no solo. As árvores não representam para eles um habitat imprescindível. Entre eles contam-se os Alaudidae, uma família de pequenas aves, acastanhadas, maioritariamente dispersas pelo sul da Europa e norte de África, que nidificam no solo e que têm o hábito de cantarem, frequentemente, durante o seu ondulado voo.

As cotovias pertencem a este clã. E entre elas destacam-se duas, especificamente distintas, mas visualmente muito semelhantes. A cotovia-de-poupa e a cotovia-montesina. 

O prolongamento de um clima de seca e de elevadas temperaturas durante as duas primeiras semanas de Outubro permitiu continuar a observar um comportamento muito activo por parte destas duas espécies de aves.


A cotovia-de-poupa (Galerida cristata), de cor acastanhada com riscas difusas no peito e dorso apresenta uma poupa pontiaguda e um bico claro, proporcionalmente comprido e com a mandíbula inferior direita.  




Além de ser presença constante nas terras áridas do sul da península e norte de África tem uma distribuição ampla para norte, incluindo alguns pontos do litoral, onde é vista a procurar alimento, por entre corridas apressadas, ao longo de estradas, docas, linhas de caminho-de-ferro e outros espaços pedregosos abandonados. 




O seu canto alto, contínuo e feito de assobios variados, é emitido geralmente em voo, pese embora, durante a época de reprodução nunca enjeite o cimo de um penedo para destacar a sua presença.





A cotovia-montesina (Galerida theklae) é uma ave com hábitos estepários mais vincados do que a espécie anterior. Difícil de se distinguir no campo da cotovia-de-poupa apresenta um bico proporcionalmente mais curto, mais escuro e com a mandíbula inferior ligeiramente arqueada.




O riscado do dorso e peito, mais finos do que na cotovia-de-poupa, apresentam-se também melhor definidos. O canto é semelhante ao desta espécie, embora entoado de uma forma mais melodiosa.






Ambas as espécies alimentam-se de insectos e sementes, que buscam por entre o restolho e as pedras. 

Ora, com estas temperaturas altas, os insectos marcaram também presença em números elevados e os grãos secos caídos no solo também ajudaram a uma boa disponibilidade alimentar. É assim que vai indo o Outono, decorridas três semanas.




sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Insectos

 





Com cerca de um milhão de espécies conhecidas, os insectos ultrapassam a soma de todas as outras espécies animais. Com excepção das zonas polares e fundos oceânicos os insectos ocupam todos os habitats planetários. Só na Europa são mais de 10000 o número de espécies conhecidas.

Os insectos apresentam uma grande variedade de formas e tamanhos vivendo cada espécie em populações que normalmente variam entre as dezenas de milhar e alguns milhões de indivíduos.

Vamos apreciá-los.



sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Os viverrídeos

 






As elevadas temperaturas verificadas em Portugal têm favorecido a actividade de espécies que, embora habitando em território nacional, têm as características ascentrais de espécies africanas. 

No matagal mediterrânico vivem dois mamíferos carnívoros, distintos no aspecto e nos nichos que exploram, mas ambos predadores muito primitivos, com berço africano. A geneta, de hábitos terrícolas e arborícolas e o saca-rabo, de hábitos terrícolas.

Em "O bosque e o matagal mediterrânicos: 11-os viverrídeos" vamos tomar contacto com as referidas espécies pela pena do saudoso naturalista Félix Rodríguez de la Fuente.