Após dias de bonança, o fim de tarde surge em tons acobreados, com nuvens negras ameaçadoras, para as bandas do nascente.
Na manhã seguinte, os campos e a cidade começam a receber os primeiros pingos de chuva. Tímidos de início, em breve engrossarão.
Mas, com o evoluir do dia, esta depressão foi-se instalando cada vez com mais notoriedade. Aquele céu, que antes e quando podia, projectava sorrisos coloridos, toldou-se de um cinza fechado. A água vinda do céu, começou subitamente a desabar em catadupa.
A chuva caindo de forma contínua, tocada pelo vento sul, obriga os seres a recolherem-se em abrigos.
Desapareceram as águias, as gralhas, o mocho, os pequenos pássaros. A natureza parece ter reagido à intempérie, encolhendo-se, escondendo em tocas os seus preciosos recursos.
Talvez seja a marisma, essa extensa e despida planura, um dos locais mais indicados para sentir os rigores desta invernia.
Contemplar esse amplo céu, onde a luz quase não se consegue coar e simultaneamente escutar o burburinhar das águas, agitadas pela ventania e pela corrente da maré, constitui um verdadeiro bálsamo para os sentidos.
Aparentemente hostil à vida, a depressão atmosférica instalada, irá revelar na marisma toda uma explosão de vida selvagem, que se mantém bem activa por entre os grossos pingos da chuva e os empurrões fortíssimos da ventania.
(continua)
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