terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Entre o frio, a chuva e o Sol!

 






Há períodos no ano em que a natureza parece como que adormecida. Talvez sejam as condições climáticas, que ao fugirem aos cânones da estação, a obriguem a reencontrar-se consigo mesma. 

Períodos transitórios, sem dúvida, mas acontecem. Durante estes momentos os seres viventes parecem também não saber, muito bem, como se ajustar a tal indefinição. Os seus comportamentos são algo titubeantes. 

Pois bem, devemos estar a atravessar um desses períodos... 


Depois da muita água caída, logo no início do ano, que fartou a terra, os rios e os homens ...



... do muito frio, neve e geada, que branquearam, quer as serras do interior quer os campos e jardins do litoral ...



... eis que surge o Sol, mais quente, radiante e com uma presença mais duradoira ao longo do dia.


Logo pela manhãzinha ... 



... sem vento e menos fria, escute-se, então, o que a natureza nos oferece comunicar.


Ouvem-se cantos de diferentes pássaros. Daqueles que dentro de algumas semanas irão preencher os ares com seus trinados infindáveis, como é o caso do incansável chamariz (Serinus serinus), que para já se achega mais ao solo ...



... e do mais recatado verdilhão (Carduelis chloris), especialmente emboscado no alto do arvoredo.



Nesta ocasião, as suas cantorias são pouco expressivas. Parecem fazer-se de uma forma "envergonhada"! É como se lhes faltasse coro!


Neste contexto de fraca densidade de cantos, vale a pena colocar o ouvido a jeito e redobrar a atenção, de forma a conseguirmos captar cantos ainda mais abafados, como o do atraente chapim-real (Parus major) ...



.... e o do encantador pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula).




Em pleno Inverno, toda esta cantoria chega até nós provinda dos ramos despidos do arvoredo, onde os seus executantes não podem passar despercebidos à vista.

Mais perceptíveis que os cantos que vêm do alto são os chamamentos das aves que saltitam pelo solo ou esvoaçam por entre os arbustos baixos, mesmo à frente dos nossos olhos. 

Estas aves, são bem mais fáceis de apreciar, quer nos encontremos em meio urbano, quer no alto da serra, no meio dos campos ou noutro qualquer habitat terrestre.

Entre elas contam-se o assertivo rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros), acabado de pousar em cima dalguma rocha, ramagem ou estrutura saliente ...



...  o familiar melro-preto (Turdus merula), sempre atento ao melhor local onde baixar ao solo para capturar invertebrados ...



... a inconfundível pega-rabuda (Pica pica) que, não sendo esquisita em termos alimentares, se afadiga no solo para obter qualquer bocadinho de alimento...




... e o cartaxo-comum (Saxicola torquata), destacado no topo de algum arbusto e observando o meio em redor.




A principal razão para esta menor actividade dos seres vivos durante este período invernal de transição deverá passar pela ausência de populações massivas de insectos e outros invertebrados, principais fontes alimentares de todo este grande grupo de aves.

Contudo, nas proximidades da água ou de terrenos encharcados, onde os insectos ocorrem em maior densidade, é notória a presença de algumas outras espécies de pássaros insectívorosEntre estes destacam-se as incansáveis alvéolas-brancas (Motacilla alba)...




... e as suas primas, as alvéolas-cinzentas (Motacilla cinerea). 



Ambas gostam de se deslocar em rápidas passadas, pelas margens e rochas dos rios ou pelos lameiros dos campos.


É nas galerias ripícolas de amieiros, salgueiros e choupos, que marginam e tombam suas ramagens para os cursos de água, que se pode assistir ao surpreendente bailado de uma outra protagonista, a recém chegada felosa-musical (Phylloscopus trochilus) que, proveniente da África trans-sariana, se encontra de passagem a caminho do norte da Europa, onde se irá reproduzir. 


Aparentemente ausente, pelo seu pequeno porte e pela coloração da plumagem ... 


... é de uma irrequietude fora do vulgar. Esvoaçando de ramo em ramo, numa coreografia repetitiva do tipo "voo para ali...não, voo antes para aqui; aqui também não, tenho que esvoaçar para ali sem demora"! 



Assim evolui esta pequenina ave durante todo o dia, com uma energia capaz de contrariar os efeitos desta indefinição climatológica que, não sendo de Inverno severo também ainda não é de amena Primavera. 


E, enquanto o Inverno do calendário continua a caminhar a passos largos para o seu término, o estado do tempo continua a ser uma surpresa diária, e a natureza mutante, uma agradável revelação em cada manhã! 




4 comentários:

Mixan disse...

Adorei. Que belo texto!

Álvaro Reis disse...

Obrigado Alexandra. Fico feliz por partilhar igual sensibilidade perante a natureza silvestre.

Mixan disse...

E quando vamos ter um livro com estes relatos que me encantam?

Álvaro Reis disse...

Sim. Um dia sairá... Tenho essa ideia há muito...