sábado, 25 de fevereiro de 2023

Limícolas invernantes na Ria de Aveiro: o borrelho-grande-de-coleira




A tarde vai fria. Nada que seja de estranhar pois estamos ainda no Inverno.


No meio da vasa, como que perdida numa imensa superfície escura e de odor penetrante, uma pequena ave com apenas 18 cm de comprimento, basculha meticulosamente o lodo. Destaca-se à distância pelo contraste oferecido pelas tonalidades claras e escuras do seu corpo. 

Trata-se de um borrelho-grande-de-coleira (Charadrius hiaticula).





À medida que o seu labor o vai trazendo para uma posição mais próxima é possível ir registando melhor a sua fisionomia e padrões corporais. 

Visto de frente revela claramente uma barra escura peitoral, manchas pretas na cabeça, bico escuro e patas de tonalidade alaranjada.




Visto de trás, confirma-se uma homogeneidade da sua plumagem acastanhada por cima e branca por baixo.




Mas é quando a ave se encontra bem pertinho que podemos desfrutar de toda a sua beleza!

O branco da fronte, da lista superciliar e da garganta destacando-se entre o negro da barra peitoral, aliados à bonita coloração das patas marcam a bela imagem desta ave, quando no estado adulto.




As aves jovens apresentam um aspecto mais discreto. Nestas, o bico é completamente escuro e as manchas negras da cabeça do adulto continuam a ser escuras, mas agora de cor castanha. Também o peito e abdómen dos juvenis se apresentam de branco, mas um pouco mais sujo.





O borrelho-grande-de-coleira é uma ave comum na Ria de Aveiro durante o Inverno e durante as passagens migratórias, podendo ser observado com frequência integrando grupos mistos.



Durante a baixa-mar é frequente vê-lo a correr rápido sobre o lodaçal e de repente estacar, ficando completamente imóvel e atento ao seu redor ... 




...  até se inclinar para colher algum verme da lama.




Quando a maré sobe, estas aves são obrigadas a concentrarem-se em pequenos mouchões, onde se podem concentrar outras limícolas. Aqui, aproveitarão para descansar até que a sua "mesa" seja exposta de novo na maré seguinte.




Quando o Inverno chega ao fim e as aves se preparam para partir para maiores latitudes, onde irão procriar, começam a sofrer transformações cromáticas em diversas partes do seu corpo. 

O bico que era totalmente escuro começa a adquirir gradualmente cor alaranjada e as patas que eram de um alaranjado suave passam a intensificar essa mesma cor.




Quando chega a altura de partirem em migração fazem-no já com a sua vestimenta nupcial definitiva! 

As manchas escuras apresentam, então, contornos muito bem definidos, o bico está de um laranja vivo com negro apenas na extremidade e as patas estão igualmente de cor laranja muito intensa.




Chegarão ao longínquo norte lá para Maio onde poderão fazer mais que uma postura, de 3 a 5 ovos cada, num ninho simples feito no solo.

Concluído o desenvolvimento das crias a espécie migrará de novo, para sul, começando a ser vista na Ria de Aveiro por finais de Agosto. 

Das aves em migração, umas descansarão e alimentar-se-ão por aqui antes de prosseguirem viagem para África, mas outras manter-se-ão pela Ria para proporcionarem mais um Inverno de belos registos.



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