O Verão chegou ao fim.
O calor intenso deu lugar a dias mais frios e chuvosos. O mar deixou de estar manso e os finais de tarde perderam o encanto e relaxamento de há umas semanas atrás. O Outono, é já amanhã.
Ao correr da praia observa-se, então, que o mar não atira apenas conchas de moluscos para o areal. Há sectores em que o rebuliço do mar conseguiu levantar uma imensidade de seixos que cobriam o fundo de algumas barras submarinas, atirando os mesmos cá para fora.
Constata-se, assim, que os concheiros que até aqui fizeram as nossas delícias, foram substituídos por tapetes de calhaus rolados e pequenas rochas, também eles muito luzidios quando semi-submersos ou simplesmente humedecidos pelos espraios que a vazante ainda vai permitindo.
Tão encantados estamos com estes pequenos corpos bojudos, de tons claro-escuro, serenamente inanimados em toda a sua existência, que sofremos um choque visual ao olharmos um pouco mais para cima na praia, onde a omnipresente acumulação de lixo se torna notória de tanta assimetria, volumetria e cor.
Uma espreitadela a este lixo marinho permite, contudo, descobrir novos vestígios de vida oceânica.
Os cefalópodes são moluscos de grandes dimensões e com um grau evolutivo que em nada se compara com os demais invertebrados desta classe. Apresentam uma forma cilíndrica, uma cabeça volumosa, olhos salientes, tentáculos com ventosas e por vezes são possuidores de barbatanas e de uma concha interna.
Estes seres, ou melhor dizendo, as suas conchas internas costumam ser encontradas, precisamente na linha de maré alta, por entre a acumulação de detritos.
Entre estas conchas internas destacam-se, pela abundância e peculiaridade, a do choco (Sepia officinalis), espécie que vive sobre os fundos de areia no andar infralitoral, por vezes em povoamentos de algas ou de ervas-marinhas (Zoostera sp.).
O maior filo do reino animal é o dos artrópodes. Este grande grupo, onde se incluem os insectos e as aranhas terrestres, que tão bem conhecemos, é dominado no ambiente marinho pela superclasse dos crustáceos, que se caracteriza pelos seus elementos apresentarem corpo segmentado, carapaça e cabeça com dois pares de antenas.
A sub-classe Cirripedia, caracteriza-se pelo facto dos indivíduos adultos apresentarem um esqueleto composto de placas, formando uma concha.
Os perceves (Lepas anatifera), apresentam uma concha de 5 placas, brancas com alguma tonalidade acinzentada e um pedúnculo castanho. É um animal pelágico e gregário que vive fixo a rochas, cascos de embarcações e demais corpos submersos, sendo encontrado no areal agarrado a diferentes objectos que flutuaram durante muito tempo pelo oceano.
De regresso aos concheiros, que formam como que um campo "minado" ao longo da linha de maré, encontramos mais e mais testemunhos da vida que prolifera debaixo da água, nomeadamente com outros exemplares desta sub-classe.
As cracas (Chthamalus montagui), apresentam uma concha, de cor branco sujo, cónica, com 6 placas rodeando uma abertura trapezoidal. Vivem sobre as rochas das zonas média e inferior do andar mediolitoral.
Os bálanos (Balanus perfuratus), possuem uma concha maciça, alta, cónica, com 6 placas, de coloração variável entre o branco e o rosado ...
... e de base porosa.
Esta espécie vive sobre a rocha nos andares mediolitoral inferior e infralitoral, fixando-se frequentemente a conchas de outras espécies que partilham o mesmo habitat.
As estrelas-do-mar possuem corpo achatado, com a maior parte das espécies a apresentarem cinco braços.
Entre elas destaca-se pela maior frequência de registos nas nossas praias, a Astropecten aranciacus, uma das maiores estrelas-do-mar europeias, atingindo os 60 cm de diâmetro. Quando viva tem a face dorsal de cor acastanhada e a face ventral clara, cores que se vão esbatendo quando morta.
É um predador de moluscos que vive na areia, frequentemente enterrado, nos andares infralitoral e circalitoral superior.
Os ouriços-do-mar apresentam uma carapaça cheia de espinhos e fiadas de poros para entrada da água.
Entre os ouriços-do-mar, ditos regulares, por apresentarem entre outros, carapaça esférica, destaca-se o Paracentrotus lividus.
Com um diâmetro de carapaça de 6 cm, cor variável entre o verde, o violeta e o castanho, apresenta espinhos de até 3 cm de comprimento.
É um habitante do litoral rochoso, predominantemente nos andares mediolitoral inferior e infralitoral, até -30 metros; contudo, a sua presença também foi detectada no andar circalitoral.
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