segunda-feira, 29 de agosto de 2005

A propósito do Dia Internacional da Limpeza das praias


         Quem é que ao passear ao longo de uma praia ainda não calcou ou esteve em vias de calcar algum vidro de garrafa partida ou algum objecto cortante com todos os incómodos daí resultantes? Ou quem é que ao nadar ou ao mergulhar na ondulação ainda não se encontrou com a cara a poucos centímetros de um saco plástico ou de um qualquer outro pedaço de lixo flutuante? Provavelmente muito poucos.
         
          No próximo dia 22 de Setembro comemorar-se-á internacionalmente um dia dedicado à limpeza das praias. A importância deste evento resulta do facto de, um pouco por todo o mundo, o litoral e as suas praias serem pontos de afluência de grande número de pessoas, residentes permanentes ou temporários que aqui procuram descanso, banhos, sol e diversão e para quem as praias representam por conseguinte habitats de eleição.

          A ocupação do litoral, só por si, é geralmente responsável pela produção diária de grandes quantidades de lixo sólido e de esgotos domésticos, os quais rapidamente podem desencadear o processo de poluição das areias e águas de uma dada praia inviabilizando afinal o fim a que a mesma se propõe. De facto, o areal de uma praia é atingido por escorrências diversas provenientes de cafés, restaurantes e outros apoios de praia localizados nas imediações; por grande número de papéis e plásticos abandonados e que soltos são arrastados pelo vento; por um número exagerado de latas e garrafas vazias que em vez de depositadas nos respectivos contentores são atiradas simplesmente para o solo, etc.  
          Mas ao areal de uma praia chega também uma imensidão de detritos arrastados pelo mar de outras praias, de barcos em trânsito no alto-mar, bem como, de outros focos poluidores. É esta enorme carga poluente que chegada ao litoral pode transformar a areia branca de uma praia num espaço sujo, escuro e mal cheiroso.
           Quando se analisa o estado de uma praia e se avalia a necessidade de proceder a intervenções de limpeza, algumas certezas se definem desde logo. Por um lado, numa praia de água suja ninguém se quererá banhar, mergulhar ou "surfar" (mesmo que por lá esteja hasteada uma qualquer Bandeirinha Azul!). Também é certo que numa praia de areias sujas ninguém se quererá estender ao sol ou piquenicar (mesmo que por lá não haja qualquer sinal de aviso!). Ora, para que estas iniciativas sejam possíveis por parte dos utentes da praia será necessário, desde logo e entre outras acções, que aqueles, sejam eles pescadores à linha, sejam eles desportistas ou simples veraneantes, não se esqueçam de acondicionar em local apropriado tudo o que sejam objectos facilmente transportáveis pelo vento (papéis, plásticos, ....) e não se esqueçam também de no fim da jornada de praia transportar todo o lixo entretanto por si produzido ou os materiais sem interesse  para os locais apropriados.  
             O lixo espalhado ao longo de uma praia pode corresponder, de facto, a toneladas de materiais indesejáveis a todos os que por lá passam. É que entre os vidros, as cordas, os plásticos, a madeira e as latas, por vezes encontram-se materiais com uma perigosidade acrescida. Estão neste caso as seringas contaminadas e os diversos equipamentos (como  televisões ou frigoríficos velhos) a apodrecerem nas dunas,  constituindo-se estes últimos como fontes de metais altamente tóxicos.
              Mas o lixo que vai parar às praias acaba também por passar pelo oceano, sendo responsável pela destruição da vida marinha. Corais, peixes, cetáceos e sobretudo tartarugas marinhas, morrem em grandes números; estas últimas ingerem frequentemente os sacos plásticos semi-submersos ao tomarem-nos por medusas.

             Pese embora os problemas relacionados com o lixo nas praias e nos oceanos constituírem um problema mundial, requerendo uma cooperação internacional, a verdade é que muitos dos impactos da poluição, pela sua gravidade, transformam-se em problemas que podem afectar de modo particular determinadas localidades.
             Cabe, pois, a cada um de nós, cidadãos, dar um contributo precioso para a minimização da sujidade das praias, utilizando-as com o civismo que se impõe. Cabe também às autoridades, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia e Delegações de Saúde, dar igualmente um contributo sério para a minimização da sujidade das praias, limpando-as regularmente e vigiando a qualidade das mesmas, com o dever que se impõe a quem tem por missão cuidar do bem-estar e da saúde pública.

              A terminar é deixada uma questão. Senhores responsáveis municipais, alguma vez pensaram em incentivar e apoiar, de forma contínua, programada e empenhada, o aparecimento de equipas de voluntários para limpeza de praias (equipas que poderiam nascer de grupos ambientalistas ou de agrupamentos escutistas)? Senhores responsáveis municipais a ideia é praticada em outros países e tem dado resultados fantásticos. Porque não seguir o exemplo em Portugal? Vá lá, os custos são mínimos e os resultados são de vulto. Só não sei, de facto, se uma ideia destas dá votos, mas é uma questão de experimentar!

 (Artigo publicado a 08.09.05 no Jornal de Ovar)

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