segunda-feira, 20 de abril de 2009

Alimentação artificial das praias exige partilha


Com o título em epígrafe José Lopes pretendeu publicar na edição de hoje do Jornal de Notícias, no espaço dedicado ao leitor, o texto que em baixo segue. Por motivos redatoriais o mesmo texto saiu publicado, lamentavelmente, de forma parcial naquele jornal. Aqui fica reposto o verdadeiro sentir do seu autor.



Não sendo a técnica da alimentação artificial de areias nas praias ou de “bypassing” em pontos fulcrais da costa, uma prática ainda muito usada no nosso país, em que predominam mesmo os seus detractores. A verdade é que depois do exemplo da Costa da Caparica, esta opção e tipo de intervenção tornou-se menos utópica e novas experiências se têm repetido, como os casos mais recentes em praias do norte, entre Aguda e Granja. Neste caso, a operação designada “Desassoreamento do Quebramar da Aguda e Recarga da Praia da Granja, a cargo do Instituto da Água, cujo investimento rondou os 300 mil euros, sendo co-financiada por fundos comunitários no valor de 220 mil euros, passou pela deslocação das areias acumuladas no Quebramar. Tal retenção de sedimentos, pode estar a contribuir para o cenário que se vem deparando na Granja, com uma acentuada erosão, o que obrigará certamente ao regular recurso a esta operação de reposição de areias, que também não deixará de afectar as praias mais a sul.
A obra de alimentação artificial de areias exige uma permanente e contínua monitorização sobre a dinâmica costeira, influenciada que está há muito, pela redução de reservas de sedimentos e ainda pela diminuição da retenção de sedimentos no cordão dunar frontal ao longo da orla costeira. Situação que não deixa de ser agravada com intervenções humanas como o a construção dos Molhes do Douro ou o Quebramar na Aguda ou desde a década dos anos sessenta e setenta as opções pelas “obras pesadas” enterrando pedra nas praias com aglomerados urbanos em risco, que passaram a interferir na paisagem de forma mais evidente entre Espinho e Vagueira ou mesmo Mira.
Para alem das conclusões das eventuais monitorizações caso estejam a ser realizadas, a olho nu é bem visível que as areias injectadas no caso concreto ao longo da Granja, vão também sendo transportadas pela corrente de deriva Litoral, arrastando-as essencialmente para sul. Indicadores que deveriam pressupor uma maior partilha dos vários concelhos do litoral, na cedência de inertes, como um património ambiental que em terra tantas vezes é apetite de negócios a que chamam até “ouro branco”.
Como chegou a defender o ambientalista e Mestre em Ciências das Zonas Costeiras, Álvaro Reis, a gigantesca quantidade de inertes que ainda estão amontoados junto da área em que foi construída uma grande superficial comercial e a Arena desportiva em Ovar, desanexada que foi aquela área florestal, as areias só deveriam ter um fim, contribuírem para a batalha necessária da alimentação artificial das praias. Uma estratégia que merecia mais disponibilidade dos autarcas que partilham a erosão da orla costeira.


José Lopes (Ovar)

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