domingo, 15 de maio de 2011

Dia Mundial das Aves Migratórias na Ria de Aveiro


Como forma de assinalar o Dia Mundial das Aves Migratórias foi realizada uma saída de campo ao Baixo Vouga, junto do esteiro de Salreu.

Numa manhã quente, de Sol intenso e praticamente sem vento, os campos de Salreu apresentavam-se com a beleza própria de uma zona lagunar, rodeada por incontáveis ninhos de Cegonha-branca (Ciconia ciconia). 

Esta espécie, ausente da região de Aveiro durante décadas, regressou a ela quando pelos anos 80 a associação FAPAS começou a sua campanha de colocação de ninhos artificiais. Nos dias de hoje e apesar da espécie ser comum por toda a região lagunar, constitui sempre uma imagem surpreendente, observar uma cegonha de perto, quer seja avistada em voo quer quando se alimenta nos campos à nossa frente.

Pertinho do cais de Salreu foi possível observar um grande número de juvenis voadores de andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Após  beberem em voos rasantes a água do esteiro, as aves pousavam perto, empoleiradas nos caniços pendentes.

Enquanto nos encantávamos com as acrobacias aéreas das andorinhas, esvoaçavam sobre os salgueiros três gaios (Garrulus glandarius). Acima deles, em curvas apertadas e rápidas voavam andorinhões-pretos (Apus apus). 

Mais alto ainda passou, em sentido contrário aos gaios, um solitário macho de pato-real (Anas platyrhynchos), que depois de ter descrito uma longa trajectória curvilínea acabou por descer sobre o sapal.


Do ar ouvia-se o característico e persistente canto da fuínha-dos-juncos (Cisticola juncidis), sendo necessário fazer algum esforço visual para localizar a ave no seu voo ondulado.

Camuflados nos caniçais, e por isso de esporádica observação, ouviram-se ao longo de toda a manhã rouxinóis-pequenos-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus) e rouxinóis-grandes-dos-caniços (Acrocephalus arundinaceus).

Geralmente em posição destacada sobre os arbustos, foram observados, com frequência, cartaxos-comuns (Saxicola torquata), umas vezes isolados, algumas vezes em casais. Por vezes e junto com aqueles encontravam-se as coloridas alvéolas-amarelas (Motacilla flava).

De repente, algo fez dirigir o nosso olhar para o solo: uma cobra-de-escada (Elaphe scalaris), estendida no trilho  absorvia a energia solar que naquele momento já era muito intensa. Assustado, o ofídeo fugiu e escondeu-se entre a vegetação rasteira do caminho.   
   
Os estilizados migradores primaveris que são os milhafres-pretos (Milvus migrans) observam-se com frequência balanceando a cauda nos seus voos de exploração sobre o sapal. Com grande probabilidade se pode ver nas garras destes indivíduos uma presa ou, como foi o caso, um caule de arbusto a ser transportado para robustecer a estrutura do ninho.

Em plena incubação, as águias-sapeiras (Circus aeruginosus), encontram-se escondidas no sapal. De longe a longe é observado um macho ou uma fêmea que acabou de ser rendido ou que, pelo contrário, irá render o seu companheiro naquela importante tarefa.  

De vez em quando, cruza o céu uma garça-vermelha (Ardea purpurea), como que perdida na vastidão dos campos … uma pálida imagem do que ocorria há cerca de duas décadas e meia, quando a zona apresentava uma importante colónia desta espécie e era possível observar a intensa movimentação de indivíduos entre a colónia e os locais onde buscavam alimento. A essa data não se observavam as hordas de ciclistas em entusiásticos e animados convívios pelo meio desta zona sensível e onde se fixavam as referidas colónias dos igualmente sensíveis ardeídeos... nessa data nos trilhos apenas circulavam agricultores, vacas marinhoas e alguns raros observadores de aves…

Qual a razão desta perda de biodiversidade? Custos de um marketing ambiental nocivo ou de um turismo ambiental mal estruturado?

Sigamos viagem…. Pois o tempo que nos resta para podermos permanecer no local está a terminar. E quando terminou, partimos.

Mas partimos com aquela angustiante sensação de incerteza sobre o futuro da área, sensação infelizmente já experimentada ao longo dos muitos anos no contacto com outras áreas, relevantes para a biodiversidade e que se perderam. 

Provavelmente a coexistência equilibrada do homem e da natureza no Baixo-Vouga não será difícil de ser encontrada. Bastará arranjar tempo para se reflectir sobre as acções que se vão tomando no local e suas reais consequências no meio envolvente.

Oxalá os campos de Salreu, para manterem os seus clientes de bike, trekking, electric car ou canoeing não percam a razão de ser de toda esta frenética actividade: a sua Biodiversidade. 

Oxalá que os futuros Dias Mundiais das Aves Migratórias, se comemorados nos campos de Salreu, o possam ser no verdadeiro respeito e equilíbrio com a natureza! 



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