sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sem um rumo, apenas com uma política de remendos.

Sem dúvida que nas últimas duas décadas, a cidade de Ovar, enquanto sede de concelho, estagnou no tempo. Direi mesmo, que retrocedeu (se a compararmos com a evolução experimentada por outras cidades vizinhas de semelhante grandeza). Esta estagnação/retrocesso aconteceu em termos sociais, patrimoniais, culturais e ambientais. 

Uma Câmara frouxa, sem vocação para a "causa pública" e apenas vocacionada para o "folclore político" não soube ter um plano estratégico para o desenvolvimento real do território, com especial incidência para a cidade de Ovar. Essa falta de garra, essa falta de amor à terra e essa grande incompetência autárquica reflectiu-se também no plano ambiental.

Neste plano destacam-se como campos de total insucesso, apesar de prioritários no ordenamento do território ovarense, a defesa da costa, a recuperação e valorização da Ria e a recuperação da Barrinha de Esmoriz.

Relativamente à defesa da costa, a Câmara de Ovar escolheu sempre como divisa, minimizar a gravidade da situação, imputando aos outros (governo central) a resolução dos problemas. Não percebeu, a autarquia, que lhe competia, como primeira entidade interessada,  impedir todas as novas intervenções nas frentes urbanas litorais, assim como, delinear e bater-se por uma estratégia de intervenção séria nas praias do concelho. A política de defesa da costa não foi fraca; simplesmente não existiu.

Quanto às intervenções na região lagunar ovarense, a autarquia estava disposta, à sombra de um projecto denominado POLIS Ria de Aveiro, do qual fazia parte integrante, contribuir para a destruição da biodiversidade, ao aceitar propostas delapidantes, produzidas certamente por quem desconhecia o ecossistema da Ria de Ovar e a região a intervencionar. Ao invés de garantir a protecção das moitas de Ovar e da região da foz do Cáster (projecto com parecer positivo da parte do Instituto de Conservação da Natureza, há cerca de duas décadas) a Câmara de Ovar acha mais importante construir pistas cicláveis e torres de observação em locais sensíveis e por conseguinte inapropriados!

Este manifesto desinteresse pela valorização dos recursos naturais ocorreu de igual modo com a Barrinha de Esmoriz. Esta lagoa, sempre esquecida pela Câmara de Ovar, recebeu em tempos recentes, graças aos esforços continuados de alguns ambientalistas (Associação Palheiro Amarelo e Parque Biológico de Gaia), um grande contributo para a minimização dos caudais poluentes que até ela chegavam, ao ser abrangida pelo sistema da SIMRIA.

Por último, merece igualmente destaque, não pela urgência da intervenção mas pela vaidade de que a mesma se revestiu, o projecto despesista denominado Parque Urbano da Cidade. Despesista, porque outros municipios das redondezas souberam fazer os seus parques urbanos com custos incomparavelmente mais baixos, melhorando e valorizando os espaços arborizados já existentes sem sentirem necessidade de proceder a destruições arbóreas. 
O Parque Urbano de Ovar nasceu de uma enorme agressão ambiental, associada à data do início do derrube arbustivo. O parque continuou a evoluir com a insensata destruição da galeria ripícola (hoje e depois de muitas linhas ter escrito sobre esse atentado,  apercebo-me de que valeu a pena, pois observa-se o crescimento dos arbustos junto do leito do rio...). Era escusada esta grande asneira ambiental se o projecto estivesse bem feito de raíz! 

Por fim e para quem vier a seguir fica a lembrança: as preocupações ambientais do concelho não se podem esgotar nas medidas valorizantes da qualidade de vida dos cidadãos, como sejam as vias cicláveis, os merendeiros florestais e os parques "românticos"; as preocupações ambientais têm que incidir também na recuperação dos habitats naturais e seus recursos selvagens. 

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