A luz
“Então disse Deus: «Haja luz». E houve
luz.
Viu Deus que a luz era boa; e separou as
trevas da luz.
E à luz chamou dia; às trevas noite”.
(Gn 1,3-5)
«Haja luz». E houve luz.
A luz, dizem os
físicos tem uma natureza dual. É uma realidade simultaneamente material e não
material. Algo que a ciência procura caracterizar com fórmulas e cálculos extremamente
elaborados, com construções e desconstruções de pensamentos. Assunto que conduziu
a trabalhos científicos de peso e a brilhantes prémios Nobéis. A luz terá sido
a primeira manifestação de algo nunca visto por quem quer que seja, mas teoricamente
construído pela mente ficcionaria de alguns sábios, ao tentarem conceber a
formação do universo a partir da explosão de uma enorme quantidade de energia
acumulada. O famoso Big Bang, previsivelmente
ocorrido há 13.8 biliões de anos!
Para o vulgo, contudo,
a luz serve para iluminar, permitindo ao homem ver e viver o seu dia-a-dia sem permanentes
trambolhões; na sua ausência, a vida humana seria complicada de gerir.
Quer chegue à Terra
directamente do nosso astro rei, quer chegue reflectida por uma lua bem cheia,
a luz visível vinda do espaço exterior é um bem que pode ser usufruído livremente
por todos.
Mas foram os ditos
nobéis que facilitaram o aparecimento de outras fontes de luz não natural. Lâmpadas,
lanternas, faróis, lasers, fibra óptica e demais tecnologia fotónica surgiram
em ritmo acelerado durante o século passado. Muitas luzes foram surgindo, deste
modo, na Terra. A luz passou a ser um bem produzido pelo homem. Um bem que hoje
em dia se paga. Isso mesmo. A energia luminosa, de fenómeno natural, gratuito
no passado, transformou-se num bem transacionável, que deu origem a múltiplas
empresas por todo o planeta dedicadas à sua comercialização com movimentação de
economias poderosas.
Viu Deus que
a luz era boa
Sem luz não haveria
vida. A produção básica das cadeias alimentares faz-se porque todos os dias o
Sol descarrega sobre a Terra uma enorme quantidade de luz. Os cientistas chamam
a este processo “fotossíntese”. Graças a ele podemos obter, batatas, cereais,
legumes, frutos, pastos, árvores diversas e muitos outros produtos do solo.
É, assim, devido à
luz natural do Sol que o homem e os outros animais obtêm alimento, isto é,
conseguem sobreviver. Pensando que o Sol está na sua meia-idade teremos, à priori, condições de vida para muitas
e muitas gerações mais.
E (Deus)
separou as trevas da luz.
Mas de bem essencial
que é, a luz também chega a ser encarada, cada vez com maior assiduidade, como
um fenómeno incomodativo. Incómodo, porque excessiva em certos momentos e em
certos espaços. De noite, a quantidade de luz emanada artificialmente das
grandes metrópoles mundiais é enviada para o espaço, produzindo, imagine-se,
poluição luminosa. Esta luz assim produzida de forma excessiva, bem paga por todos
nós, é desperdiçada para o espaço, sem qualquer ganho para a humanidade e
dificultando ou impedindo a natural manifestação das trevas. A poluição
luminosa contribui, assim e entre outros, para o aquecimento da atmosfera mesmo
durante a noite!
O solo
Disse Deus: «Reúnam-se num só lugar as águas que estão
debaixo do céu e apareça o seco». E assim foi. Então Deus chamou ao seco terra
e à reunião das águas chamou mares; e viu que estava bem feito.
Disse depois Deus: «Germine a terra vegetação, ervas
que dêem sementes e árvores frutíferas que produzam fruto da sua espécie com a
própria semente dentro de si, sobre a terra». E assim foi.
( Gén. 1, 9-11)
«….e apareça o seco». …. Então Deus
chamou ao seco terra.
O solo é uma
estreitíssima faixa da crosta terrestre, de dimensões que oscilam entre alguns
centímetros e uns quantos metros, cuja composição e qualidade dependem da
actividade dos seres vivos que o utilizam. São estes seres vivos que,
juntamente com as águas das chuvas, o granizo, as oscilações de temperatura, o
vento e vários outros factores naturais, promovem o desgaste das rochas (rochas-mãe)
originando o aparecimento das partículas de solo.
As aptidões do solo
dependem da sua porosidade, que permite a adequada circulação da água e do ar e
da sua composição química, fundamental para uma boa qualidade agrícola.
«Germine a
terra vegetação, ervas que dêem sementes e árvores frutíferas que produzam
fruto da sua espécie …».
Sendo um elemento
decisivo para a realização dos grandes ciclos que suportam a vida na Terra,
tais como os ciclos do carbono, do azoto, do ozono e da água, o solo funciona
como uma interface entre a crosta terrestre e a atmosfera, permitindo as trocas
permanentes de água e gases entre estes dois sistemas.
Por outro lado, os
ciclos de vida dos seres vivos também dependem daquilo que os solos podem
oferecer, nomeadamente habitats e
alimento. Cerca de 99% da biomassa produzida em todo o mundo depende dos solos.
Na verdade, o solo constitui um ciclo fechado de interdependências!
A luz e o solo
A luz, essa
manifestação de energia diariamente emanada do Sol, que viaja pelo espaço à
prodigiosa velocidade de 300 000 Km/seg, ao chegar à terra penetra nos solos assegurando
os processos vitais necessários à produção da biomassa. É então que as plantas
irão produzir o seu próprio alimento e bem desenvolvidas servirão de alimento
aos seres que se encontram num patamar acima na cadeia alimentar. Eis, pois, a
vitalidade da luz!
O arrastamento excessivo
das partículas do solo, pela água e pelo vento (erosão) foi uma constante ao
longo dos tempos geológicos, sendo essa perda de partículas compensada pelo
aparecimento de outras partículas mais novas, resultantes do desgaste das
rochas. Contudo, hoje em dia isto já não é assim, pois verifica-se um saldo
negativo em termos de “stocks de solo”. Com a acentuada influência de certas
actividades humanas (agricultura intensiva, monoculturas, uso de alfaias
mecânicas, uso de adubos e de pesticidas químicos, urbanização e betonização
crescentes, etc) promoveu-se uma maior desagregação dos solos (erosão), uma
deficiente porosidade e uma maior salinização do mesmo, factores que contribuem
para a perda acentuada de biodiversidade. Eis, pois, a fragilidade do solo!
Nesta relação entre
luz e solo, pode-se considerar ainda, existir uma espécie de contrato
obrigatório entre os dois. A luz dará ao solo a energia que ele precisa, se o
mesmo conseguir controlar (equilibrar) a quantidade de gases, como o dióxido de
carbono, existentes na atmosfera, de modo a permitir a passagem nas quantidades
certas dessa mesma luz (energia). Os cientistas julgam saber que o solo tem
armazenado mais carbono do que a atmosfera e todas as plantas juntas, o que só
por si indica ser o solo um extraordinário sumidouro deste excesso de dióxido
de carbono atmosférico que tantas dores de cabeça nos dá! Eis, pois, a
importância desta união.
É por este conjunto de interdependências entre os
solos e a luz que faz todo o sentido a Assembleia Geral das Nações Unidas ter proclamado
2015, simultaneamente Ano Internacional da Luz e Ano Internacional do Solo.
(artigo publicado no n.º 49 da Revista Reis - Ovar 2015)
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