O Dia Mundial do Animal que se celebra todos os anos a 4 de Outubro, dia dedicado a S. Francisco de Assis, padroeiro dos animais, constitui uma oportunidade para os ovarenses, cidadãos e autarcas, reflectirem sobre a expansão crescente da população de pombos que vivem em pleno centro da cidade de Ovar.
Quando se fala de pombos, vem
à ideia aquele cenário ternurento passado num parque ou numa praça onde uma ou
mais crianças se deliciam, por entre corridinhas, a dar comida aos pombos, que
se vão juntando cada vez em maior número. Creio que qualquer um de nós já fez
parte deste postal ilustrado. De facto, os pombos são criaturas que estão associadas
aos nossos afectos desde tenra idade.
Os pombos
da cidade, pombos domésticos como os demais que se encontram engaiolados para
fins columbófilos ou simplesmente para consumo humano, descendem da espécie
selvagem pombo-das-rochas (Columba livia).
Por definição são aves granívoras, pois se alimentam de uma grande variedade de
grãos e sementes, embora na realidade a sua dieta seja mais ampla. Por este
facto podem facilmente reunir condições para uma reprodução profícua em número
de indivíduos.
A
expansão do número de pombos numa cidade deve-se a um conjunto variado de
circunstâncias isoladas, mas que quando conjugadas agravam exponencialmente o
problema.
A facilidade de obtenção de
alimento (frequentemente obtido, indevidamente, pela espontânea oferta das
pessoas!), a falta de predadores naturais, a proliferação de locais para
nidificação (entre os quais se incluem edifícios em mau estado de conservação e
desabitados, torres de igrejas, telhados, beirais,…) e a permanente
luminescência existente (favorecendo a alteração do seu ciclo biológico)
promovem o crescimento populacional numa cidade e conduzem, se nada se fizer em
contrário, para a alteração do equilíbrio ecológico e da convivência salutar
com o homem.
O antigo cine-teatro de Ovar foi uma casa grande noutros tempos, não só pela sua dimensão física mas porque teve um papel importante na cultura e diversão da sociedade da época, num período em que ainda não existiam discotecas nem centros comerciais. Uma casa por onde passaram e conviveram gerações de “pombinhos” mas que viu nos últimos tempos, por desleixo e abandono, voarem pelos seus salões variadíssimas gerações de pombos-domésticos. E de facto, a recente demolição do imóvel deixou a nú aquilo que já antes se vislumbrava pelo telhado derribado….o edifício constituía um gaiolão de pombos!
A sua demolição recente, verdadeiro
espectáculo mediático na cidade, teve algumas implicações para além das que
eram objecto da obra. Por um lado, lançou na atmosfera um cheiro
característico proveniente dos excrementos acumulados no interior do imóvel, cujas
partículas juntamente com a poeira e penas foram espalhadas em redor das
habitações. Por outro lado, obrigou à dispersão das aves que por lá aninhavam e
que agora o fazem sobre os telhados e parapeitos de janelas e terraços próximos, com as graves consequências que daí advêm para o estado de conservação das habitações.
Por último referir que se intensificou a ocorrência na via pública das zonas de
defecação de pombos, com os incómodos associados.
O aumento do número destas
aves na cidade de Ovar torna-as mais próximas do homem e segundo os especialistas,
este facto acarreta vários riscos para a saúde pública, quer pela transmissão
de ácaros e de outros agentes patogénicos que as aves transportam nas penas, quer
pela inalação e contacto com a pele de poeiras agregadas a partículas de fezes
secas. Deste modo, é possível o aparecimento de diferentes patologias no homem
(principalmente em pessoas vulneráveis, como crianças e idosos), tais
como, problemas alérgicos respiratórios e de pele.
Face ao exposto e no
sentido de promover um equilíbrio ecológico na cidade devem ser adoptadas
adequadas medidas preventivas e correctivas. Entre estas devem constar:
- a redução de locais disponíveis
para nidificação;
- a lavagem das áreas de
defecação;
- acções de sensibilização dirigidas
à população em geral (através de cartazes afixados pela cidade, divulgação na imprensa,
rádio, site camarário, redes sociais, etc.) e às escolas em particular, no que
respeita aos problemas colocados pela alimentação indevida de pombos em espaços
públicos e pelo abandono de restos de comida ou ração em locais de fácil
acessibilidade, seja nas ruas ou em apartamentos (janelas, terraços,….);
- diligências com outras
autarquias, nomeadamente do Porto e Lisboa, onde este problema já foi abordado,
estudado e tratado, no sentido de uma aprendizagem imprescindível e urgente.
Finalizo este apontamento
chamando a atenção de que o desequilíbrio verificado na ecologia do pombo nas
cidades não tem a ver com a ave em si mesma, mas antes com a única causa que provoca
o desequilíbrio ecológico em muitas outras espécies selvagens. O homem e a sua
má gestão com o mundo animal que o rodeia. A prová-lo estão números apontados
por estudos veterinários que indicam que o pombo-doméstico fora dos grandes
centros (sem a “ajudinha alimentar” do homem) vive em média quatro vezes mais
que numa cidade onde essa ajuda parece constituir uma obrigação, um dever, uma
boa acção!
Este artigo também pode ser lido no:
- Jornal João Semana, 01/10/2016
- Jornal digital Ovarnews, 26/09/2016
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