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O turismo ambiental, eco-turismo,
turismo de natureza ou da vida selvagem procura proporcionar o usufruto de
áreas naturais ou semi-naturais, com a valorização da biodiversidade e demais
recursos naturais a elas associados. Eu próprio acalentei esta forma de turismo
para a Ria de Aveiro, já em meados dos anos 80 do século passado, face à
riqueza natural que esta Zona Húmida disponibilizava e que à data podia ter
sido potenciada caso se investisse na conservação dos seus biótopos e das suas
espécies.
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Numa consulta ao site
do BioRia, projecto da Câmara Municipal de Estarreja (http://bioria.com/apresentacao), verifica-se que entre
os objectivos do mesmo, para os campos do Baixo-Vouga Lagunar, constam “a
valorização do ecossistema natural….a conservação da natureza e da
biodiversidade……a requalificação de zonas ambientalmente degradadas”. Em boa verdade,
toda esta oratória está conforme as características de um turismo sustentável.
No entanto, uma nova leitura
do site, agora direccionada ao plano de actividades do BioRia, permite
constatar a ocorrência de diversos momentos lúdicos, quer nos trilhos (os
antigos caminhos de acesso aos campos), quer nos esteiros. Estas actividades
que passam invariavelmente pela concentração de pessoas a caminhar, a correr, a
andar de bicicleta, de carro ou de kayak, em nada contribuem para os objectivos
de conservação da biodiversidade do Baixo-Vouga Lagunar.
Mas, se estas actividades
representam graves factores de perturbação para a fauna selvagem local, nomeadamente
para diversas espécies nidificantes e para várias outras com estatuto de
vulnerabilidade, o expoente máximo da agressão ambiental acontece,
incongruentemente, com a BioRace Challenge - corrida de obstáculos, a qual
reúne anualmente centenas de participantes neste oásis da Ria de Aveiro!
Nesta inadmissível prova,
toda esta Zona Húmida se transforma num autêntico campo de treino militar. E a
prová-lo está a descrição que a própria BioRia faz do evento (http://bioria.com/biorace)….“saltar, transpor
fardos de palha, paliçadas e pneus, atravessar rolos de madeira e manilhas,
rastejar na lama, atravessar lombas, transportar troncos de árvores…” Todos
estes exercícios são bem conhecidos de quem cumpriu no passado o serviço
militar obrigatório e de quem hoje continua a fazer parte das Forças Armadas.
Mas a realidade é que o Baixo Vouga Lagunar não é nem pode ser um “campo
militar”, em que uns quantos citadinos a troco do custo de uma inscrição têm
permissão para escaqueirar a natureza da Ria de Aveiro!
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Recorde-se que a Ria
de Aveiro é uma ZPE (Zona de Protecção Especial) e que possui vários SIC
(Sítios de Importância Comunitária), definidos ao abrigo de Directivas
Comunitárias. Recorde-se também que o valor natural da referida zona está
sobejamente identificado desde há várias décadas, nomeadamente pelos vários
anos de trabalho realizado no local e divulgado em colóquios, jornadas e
palestras durante a década de 80 e em livro (Ria de Aveiro – Memórias da
Natureza, 1993). Nesta data e considerando todo o território nacional, o núcleo
com maior número de casais reprodutores de águia-sapeira (Circus aeruginosus), assim como, a maior colónia de garça-vermelha (Ardea purpurea) localizavam-se
precisamente nesta região.
O que se passa actualmente
no Baixo-Vouga Lagunar nada tem a ver com projectos conservacionistas ou com a
valorização do património ambiental local. Aquilo que por lá se desenrola será,
sem dúvida, um meio de promover um certo “turismo caseiro”, mas de características
agressivas, que nada tem a ver com eco-turismo. Por esta razão o BioRia
constitui um vector de destruição daquilo que diz defender.
Face ao exposto será
conveniente que todas estas actividades com impacto ambiental negativo sejam
proibidas nesta região, devendo ser deslocadas para outras áreas do concelho
mais adequadas para o efeito, em prol do bom nome da Consciência Ambiental e
dos compromissos assumidos pelo governo português neste domínio a nível
internacional.
Basta de iniciativas destrutivas
a coberto de projectos autárquicos. O Baixo Vouga Lagunar precisa de medidas de
protecção. Não precisa deste projecto BioRia!
Ps. A proveniência das fotos incorporadas neste artigo testemunha o sentir de diferentes entidades em torno da riqueza da área, assim como, das actividades que lá se praticam. Podem ainda ser visualizados os vídeos
promocionais do BioRia sobre a referida actividade outdoor:
(este artigo foi publicado no Diário de Aveiro, 16/10/16 e no jornal digital OvarNews, 13/11/16)
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