quinta-feira, 12 de maio de 2022

Primavera na serra (II)





(continuação)


Deixamos a sombra do bosque e começamos a atravessar o planalto, que agora se nos oferece, incendiado pelos raios solares. 

Semeadas por escuras rochas graníticas, às quais os líquenes dão uma roupagem esbranquiçada, as terras planálticas encontram-se revestidas por diversas gramíneas e outras tantas plantas floridas resistentes à aridez do substrato.




 Nesta diversidade vegetativa, em que cada cor tem uma função específica no ecossistema, destacam-se as giestas (Spartium junceum)...




... e as extensas manchas de carqueja (Genista tridentata). 




O planalto apresenta-se, assim, como uma tela onde não há espaços por colorir! 


Ao longe, as encostas, que em certos pontos caem a pique sobre os vales inferiores, apresentam igualmente uma policromia maravilhosa entre o verde escuro dos pinheiros e o amarelo vivo da carqueja. 



 

A chuva miúda que caiu há dias encharcou o solo, naqueles locais onde a rocha, ausente da superfície, deixa a terra enlamear-se a seu bel-prazer. Este facto, aparentemente trivial para o observador é de uma extraordinária oportunidade para os seres vivos, porque para estes, nenhuma alteração ocorrida no meio ambiente é menosprezada.

A testemunhar estas considerações está o intenso vaivém, que desperta a nossa atenção, por parte de duas espécies de andorinhas que, incansavelmente, transportam nos seus bicos a preciosa lama, então formada, com que constroem ou consolidam os seus ninhos.


Falamos da andorinha-das-rochas (Ptyonoprogne rupestris), a única espécie da família que passa o Inverno entre nós .... 



... e da andorinha-dáurica (Hirundo daurica), uma espécie estival, de padrão cromático muito bonito.




Continuando a nossa caminhada ao longo do vasto planalto vamos tentando vislumbrar os encantos que a serra encerra! Os cantos das aves ecoam por todo o lado anunciando que estamos em plena Primavera. 


Destacado em cima de um afloramento rochoso, o chasco-cinzento (Oenanthe oenanthe) mimetiza-se perfeitamente no seu meio, aguardando o momento certo para se lançar sobre uma presa.



Quando desce ao solo para se alimentar passa quase despercebido pois devido à sua estatura é como que "engolido" pela vegetação arbustiva.



Outra espécie, muito comum neste tipo de habitat, e que por nada quer passar despercebida desde os alvores do dia, é a Laverca (Alauda arvensis). O seu canto trinado e repetitivo além de encantador conduz-nos facilmente até ela, pousada em cima de uma rocha.



O ar da montanha está muito quente, as sombras não abundam e quando surgem sugerem pequenas paragens retemperadoras.


(continua)

Sem comentários: