quarta-feira, 15 de junho de 2022

O rio (I)








Estamos em plena Primavera! 


De um pequeno veio de água cristalina, surgido nos píncaros mais altos da montanha e que, entretanto foi engrossando, ora, com as águas das chuvas, ora, com as neves derretidas, formou-se o riacho que daqui a alguns quilómetros se chamará rio.




Caindo a pequenos saltos, de rocha em rocha ...




... o riacho não leva rumo fixo, bem pelo contrário. 

Esgueirando-se por entre as fendas que encontra e amparado pelas rochas de maiores dimensões, o seu pequeno caudal ziguezagueante não deixa de representar um convite à fixação de pequenos seres invertebrados e de se constituir bebedouro para outros tantos vertebrados da alta montanha.




O alfaiate (Gerris lacustris) é abundante à superfície destas frias águas correntes. Sendo uma espécie predadora, a sua presença indica haver uma grande disponibilidade alimentar de outros insectos e larvas submersas.




Também é junto ao riacho que vive o lindíssimo lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), outro predador de invertebrados, como escaravelhos, mosquitos, moscas, formigas, aranhas, gafanhotos e larvas de borboletas. 

Com um corpo esverdeado, sarapintado de negro, uma garganta de tonalidade azulada e uma cauda compridíssima, que pode atingir o dobro do comprimento da cabeça e corpo juntos, o lagarto-de-água é uma verdadeira jóia da natureza. 

Gastar algum tempo a admirar os seus movimentos compassados, frequentemente interrompidos por posturas de alerta, constitui momentos de enorme encanto e comunhão com a natureza selvagem. 




Imbuído por estes momentos contemplativos, a que o marulhar da água nas rochas dá um importante contributo, sou chamado à realidade envolvente, pelo chamamento da simpática cia (Emberiza cia), atarefada na procura de sementes, bagas e também insectos.


 



Não é de estranhar que, a dada altura do seu percurso, este caudal de águas cristalinas que entretanto já engrossou, correndo agora em turbilhão, caia desamparado nalguma vertigem do abismo, que a serra é pródiga em criar.



Já nas profundezas do vale, e com a ajuda de outros pequenos ribeiros que se lhe juntaram, o rio apresenta, então, uma maior corpulência de caudal e um rumo mais esclarecido, com um serpenteio muito mais amplo e espaçado, imposto pela orografia do terreno.

Estas águas furiosas, repetem o percurso de muitas outras, que ao longo de milhares de anos, escavaram o vale. Saltando por entre grandes blocos de rocha, originam zonas de grande turbulência ...




... a que sucedem zonas de acalmia .




O meio líquido formando mais de metade da composição celular dos seres vivos é indispensável, tal como o ar, para a garantia da vida!

Agora não são apenas insectos e pequenos organismos subaquáticos que nele pululam.  Diversas espécies piscícolas, como o bordalo (Squalius alburnoides), a boga (Chondrostoma sp.), a truta-de-rio (Salmo trutta) e o escalo-do-norte (Squalius carolitertii), constituem a base da alimentação de alguns outros vertebrados.


Entre os mamíferos que vivem nas proximidades do rio, há uma espécie que consegue explorar, na perfeição, as fortes correntes e turbilhões destes troços fluviais. Trata-se da lontra (Lutra lutra). 

Com um corpo fusiforme, uma pelagem isolante, patas palmadas e dedos ligados por membrana interdigital, a lontra é outra obra-prima da evolução animal, em que as excelentes adaptações ao meio aquático foram alcançadas integralmente. 




Lindo bicho, este! 


(continua)

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