sexta-feira, 23 de maio de 2008

A propósito do Dia Internacional da Terra



O Dia da Terra assinalou-se internacionalmente no passado dia 22 de Abril. Por cá, o ponto alto da celebração deste evento aconteceu no salão Nobre dos Paços do Concelho, passavam das 21h30.
Perante a apresentação de uma moção que visava corrigir os impactos ambientais negativos de um apoio de praia licenciado pela Câmara Municipal de Ovar para Esmoriz, a Assembleia Municipal ao invés de ter aprovado prontamente este documento para ser enviado posteriormente às entidades ministeriais competentes, entendeu ser muito mais profícuo formalizar a proposta apresentada, fazendo-a baixar para análise à Comissão Permanente, ganhando assim um compasso de espera. Afinal, são atentados ambientais como este praticado em Esmoriz, acompanhados de uma falta de celeridade na resolução dos mesmos, fruto quiçá da falta de sensibilidade ambiental dos políticos e técnicos envolvidos, que originam transtornos graves ao ambiente, os quais se reflectem a nível mundial. São atentados como este e como outros, repetidos múltiplas vezes por todo o mundo, que levaram as Nações Unidas a declararem o ano de 2008 como sendo o Ano Internacional do Planeta Terra. Neste âmbito estão a decorrer desde Janeiro de 2007 e até Dezembro de 2009 um conjunto de iniciativas que visam a abordagem de temas tão diversos, como o são, a preservação dos recursos naturais, as alterações climáticas, a biodiversidade e os desastres naturais, entre outros. Recordemos, deste modo, o dramatismo que os números afectos a alguns outros items ambientais a nível mundial deixam antever.
Água: de toda a água líquida existente no nosso planeta, somente 0,35% corresponde a água doce e desta só uma parte está efectivamente disponível para o homem, devido à contaminação de muitos destes mananciais. É por esta razão que 17% da população mundial não tem acesso a água potável, prevendo a UNESCO que nas próximas duas décadas e a nível mundial haja uma diminuição de 30% na quantidade de água disponível.
Poluição marinha: os esgotos lançados no mar afectam não só as espécies marinhas mas também a qualidade de vida do homem, o turismo e as pescas, entre outras actividades. As Nações Unidas estimam que 80% da poluição marinha tenha origem terrestre e que este valor possa aumentar significativamente até 2050. Os efluentes e os resíduos sólidos urbanos, os adubos e os dejectos descarregados nas águas costeiras provocam a sua eutrofização, o aparecimento de algas tóxicas, a carência de oxigénio dissolvido e em última estância a morte das zonas costeiras. A agravar os efeitos da poluição de origem terrestre acham-se os despejos de resíduos, frequentemente não biodegradáveis, efectuados pelas embarcações em mar alto.
Resíduos sólidos urbanos: a estratégia europeia para a gestão dos resíduos sólidos urbanos passa pela aplicação da política dos 3 R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), de tal modo que, opções alternativas como a deposição do lixo em aterros e a queima em incineradoras constituem medidas de excepção. Contudo, o nosso país tem revelado sérias dificuldades em cumprir as metas estabelecidas pelo Protocolo de Quioto, contribuindo de forma significativa para o aumento do efeito de estufa (todos os anos são emitidas 440 mil toneladas de CO2 que Portugal paga sob a forma de pesadas multas).
A saúde da humanidade: os ecossistemas do planeta sofreram durante a segunda metade do século XX mais transformações do que em todos os séculos anteriores, reflectindo-se estas mudanças no aparecimento de novas e graves doenças para a humanidade, sobretudo nos países mais pobres. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma sexta parte da população mundial (mais de 1 bilião de pessoas) não tem acesso a água potável e quase metade da população mundial (2,6 biliões de pessoas) não possui saneamento básico. A contaminação da água é responsável por cerca de 6% da mortalidade mundial (3,2 milhões de mortes por ano) enquanto a falta de saneamento básico é responsável por cerca de 3% das mortes em todo o mundo (1,7 milhões de mortes por ano). A poluição atmosférica está na base do crescimento de diversas doenças respiratórias, como a asma, e de um elevado número de mortes em todo o mundo. Também as ondas de calor, ocorridas em diferentes locais do planeta, como resultado das profundas alterações climáticas, têm sido responsáveis por muitas mortes em todo o mundo.
É este cenário de ameaças constantes ao ambiente e à existência da própria humanidade que o homem, os homens, alguns homens, parecem desconhecer ou esquecer em cada dia que delapidam recursos, poluem os ecossistemas ou não sabem exercer de forma consciente as funções executivas que num dado momento da história, a humanidade, a nação, a cidade, lhes conferiu.
(artigo publicado no Jornal de Ovar , de 16/05/08)

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