domingo, 1 de junho de 2008

Avivando a memória para que...NUNCA MAIS! (1)

NUNCA MAIS !
Foi um grito de revolta, um desejo ardente de mudança, uma certeza de propósitos, um estado de alma doloroso, uma forma de expurgar o inconformismo perante tanta insensatez.
Foi lançado na Galiza aquando do naufrágio do superpetroleiro Prestige mas chegou rápido a Portugal.
No nosso cantinho, em que as muitas palavras de promessas são levadas rapidamente pelo vento e a qualidade ambiental do concelho tem cada vez menos Prestige, convém NUNCA MAIS esquecer as lições do passado recente.



(artigo publicado no Jornal de Ovar, em 06/01/05)
Barrinha de Esmoriz: Brincando aos castelinhos de areia

As notícias que vieram a lume com regularidade durante o Verão do ano findo sobre a poluição manifestada na Barrinha de Esmoriz e praias a sul da mesma colocavam desde logo uma pertinente questão: quem seria o responsável ou responsáveis por esta falta de civismo para com toda uma região e utentes balneares da mesma? Quem seria o criminoso ou criminosos a quem não incomodava de todo o tão apregoado princípio do ‘poluidor-pagador’? Estou convencido, contudo, que todos nós mais do que conhecer a identidade de tais prevaricadores gostaríamos era que os mesmos fossem sancionados de forma convincente para que se pusesse um fim a todo este estado de terrorismo ambiental que graça na nossa região. É claro que tal não parece ter acontecido a olhar pelas acusações e desculpas que foram sendo emitidas e que não permitiram ajuizar de forma séria e imparcial sobre os verdadeiros responsáveis destas sucessivas tragédias. Uma certeza pelo menos ficou. A de que os responsáveis pela poluição da Barrinha de Esmoriz continuam a monte pois nada nem ninguém os deteve nem tão pouco se encontram impedidos de voltar a prevaricar!
Uma segunda questão, não menos importante, que se colocava passados alguns meses após o início das obras na Barrinha de Esmoriz prendia-se com as expectativas gerais da população do concelho sobre o que iria acontecer de tão importante nesta lagoa capaz de devolver à mesma uma melhor qualidade ambiental e terminar decisivamente com atentados como os que têm brindado pela negativa o concelho de Ovar vai para uma imensidão de tempo. Na verdade, nunca foi perceptível para a generalidade do público leigo (como eu) em tais matérias descortinar que princípios, métodos e objectivos de engenharia costeira e de planeamento teriam sido traçados para fazer a gestão das águas da barrinha, bem como, para a recuperação da sua fauna e do ecossistema em geral (porque me parece ser disso que se irá também tratar no futuro, ou será que não?). E também é verdade que se manteve sempre a expectativa de que alguém responsável viesse demonstrar perante a curiosidade geral não terem sido estas obras delineadas em cima do joelho entre as pressas dos calendários políticos. Dito de um outro modo, teria sido oportuno que para além daqueles poucos momentos em que soou a verborreia política de circunstância, generalista e por conseguinte sempre vaga, teria sido importante desde o início do processo uma comunicação séria (minimamente técnica) e objectiva à população, nomeadamente através dos media locais para que esta ficasse de uma vez por todas convencida de que o futuro da Barrinha não passaria nunca mais pelas vontades de ‘marginais a monte’ mas antes pela capacidade e engenho de quem poderia gerir um projecto desta envergadura. Tal não aconteceu e a incerteza permaneceu no espírito de toda a gente!
Um terceiro aspecto, decorrente do anterior, teve a ver com o términus das obras (ditas de primeira fase) na Barrinha. Todo aquele reboliço de areias tiradas dali e postas acolá, para formarem o emblemático ‘dique fusível’ não inspiravam qualquer segurança nem perspectivas de futuro a quem por lá passasse conhecendo minimamente as condições de agitação marítima da nossa costa. Era pois esperado que o mar pudesse fazer ruir a qualquer momento tais estruturas, o que infelizmente não demorou a tornar-se uma realidade.
Em face destes acontecimentos e da necessidade urgente de defender a Barrinha e zona litoral adjacente é importante uma reflexão sobre o assunto. Primeiro ponto. Ao contrário dos meninos que brincam na beira do mar gozando sempre que a água chega e leva seus castelinhos de areia permitindo-lhes acorrerem a levantar outros no lugar dos anteriores, sem outros custos que não umas quantas pazadas de areia, a gestão de uma intervenção como a que se pretendia para a Barrinha não deveria ter passado pela construção de ‘castelos de areia’, porque os custos destas brincadeiras são grandes e somos todos nós a pagá-los, de uma maneira ou de outra! Segundo ponto. Todos nós que nos preocupamos com esta “nau” chamada Barrinha de Esmoriz acabamos por demonstrar determinadas posturas para com a mesma. Seria importante, a bem da Barrinha, que cada um com honestidade reflectisse sobre o seu papel para com esta “nau”. Estaremos nós, como meros espectadores na margem a vê-la passar, seremos timoneiros capazes ou simplesmente nela apanhamos uma boleia para irmos à outra banda? É que independentemente dos que permanecem especados na margem (e que por lá poderão continuar) ou dos inveterados das boleias (que hoje andam de barco porque ainda não podem andar de avião), esta “nau” para não meter mais água (poluída) precisa é mesmo de quem a saiba levar a bom porto!

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