quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dia Mundial das Zonas Húmidas e Ano Internacional das Florestas: que sentido fazem em Ovar?



As denominadas Zonas Húmidas formam por todo o planeta um grupo alargado de ecossistemas, nos quais a água no seu estado livre constitui o meio físico principal. Rios, lagos, albufeiras, estuários, marismas e praias, são algumas das Zonas Húmidas que, inclusivamente, existem no nosso país.  
As Zonas Húmidas contam-se entre as regiões do globo com maior bioprodutividade, pelo que, nelas se estabelecem importantes cadeias alimentares. De facto, desde os seres vivos mais pequenos, como o fitoplâncton e o zooplâncton até às espécies superiores, como aves, anfíbios, répteis, peixes e mamíferos, a biodiversidade das Zonas Húmidas só estará ausente se, sobre estas áreas, o homem interferir de forma negativa. Esse negativismo pode resultar de descargas poluentes, que sujam a água e matam a vida, da drenagem e enxugo de terrenos, que ficam sem o seu elemento vital, do abate indiscriminado das espécies que lá vivem, ou da criação de condições necessárias para as afugentar. 


É precisamente pelo perigo real destas ameaças, que resultam da ausência de uma gestão ou de uma efectiva gestão danosa, que existe o Dia Mundial das Zonas Húmidas, assinalado a 2 de Fevereiro.


As Zonas Húmidas apresentam geralmente na sua envolvência comunidades vegetais importantes, como bosques, arbustos e florestas. Entre esta massa vegetal destaca-se, como de especial importância, a vegetação ripícola, a qual invariavelmente abriga importantes comunidades bióticas. É também pela necessidade da conservação imperiosa destas galerias ripícolas, entre outras, que este ano é especial, pois é o Ano Internacional das Florestas.

Em Ovar dispomos de uma importante Zona Húmida, a Ria de Aveiro, que envolve os campos da parte sul do concelho. Muito já foi dito e escrito sobre a importância desta região, nomeadamente pela riqueza faunística e paisagística que apresenta. 
Mas parece que quem decide e/ou mostra interesse sobre intervenções nesta zona vareira ou é irresponsável ou não entende a diferença entre valorização e destruição. 
Quantos mais dois de Fevereiro serão precisos para estes decisores agirem de forma responsável no que respeita a esta Zona Húmida, conhecida na nossa terra por Ria de Ovar?



Também em Ovar dispomos de uma interessante zona urbana que se estende ao longo do rio Cáster e que até há bem pouco tempo correspondia a uma malha de terrenos privados, uns cultivados outros nem por isso. Esta zona há muito que se anuncia como o futuro Parque da Cidade. Além do projecto apresentado para o parque urbano de Ovar não ter revelado, como já o referi por diversas vezes, sagacidade para fazer a ligação de forma sustentada entre o centro urbano e a Ria, como seria possível e desejável, irá intervir sobre os bosques ribeirinhos existentes em torno do rio Cáster.

Estes bosques são pródigos nas tais cadeias tróficas que atrás referi. Aqui vivem corujas, mochos, genetas, doninhas, ouriços-cacheiros, passeriformes diversos, morcegos, borboletas…..aqui há vida natural, selvagem … que é preciso acautelar. E é pela importância da conservação das árvores e pelos riscos que as mesmas correm em serem cortadas, que há o Ano Internacional das Florestas. 

Vamos esperar que as ideias surgidas no âmbito do parque urbano sejam inteligentes, para que continuemos a ouvir o coaxar das rãs e o trinar das toutinegras e dos melros, para que possamos saborear o encontro fortuito com este ou aquele mamífero,  ou desfrutar da visão deste ou daquele sarapintado anfíbio, .... enfim, para que possamos continuar a sentir o bucolismo da natureza ovarense em pleno centro da cidade.



(este artigo foi publicado no jornal "João Semana", de 01/03/11)


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