sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

2012: Energia Sustentável para todos?

2012 - Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos

A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar 2012 como sendo o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. Tal decisão está relacionada com o facto de, em todo o mundo, se estimar uma população de mais de 1.4 biliões de pessoas que ainda não tem acesso ao consumo de energia eléctrica.


Na sociedade actual, dos denominados países desenvolvidos, é quase impensável, chegar-se a casa depois de um dia de trabalho e não se poder acender as lâmpadas dos diferentes compartimentos, não se poder ligar a televisão, o fogão eléctrico, ou o computador. Para o nosso modo de viver o quotidiano, já não conseguimos dispensar o frigorífico, o micro-ondas, o telemóvel, a máquina de lavar roupa, e tantos outros aparelhos eléctricos. Não ter acesso à energia eléctrica significa nos dias de hoje, não ter acesso a razoáveis condições de vida, uma vez que a electricidade está na base do funcionamento da maior parte dos equipamentos domésticos e é o suporte do nosso modus vivendi.

Pelo contrário, em todo o mundo, mais de 3 biliões de pessoas (quase metade da população mundial) não podendo usufruir de electricidade, dependem da biomassa florestal e do carvão para as necessidades básicas do seu quotidiano (cozinhar e aquecimento), tal como acontecia na longínqua Pré-História. Dado que estas formas de energia fóssil constituem recursos finitos (não renováveis) e em vias de esgotamento, devem as mesmas ser poupadas e substituídas por formas de energia alternativas. Será que este cenário se concretizará no futuro?


Objectivos
O Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos procura ser um meio de consciencialização para todos os Estados-membros da ONU, no sentido da sustentabilidade energética poder ser um objectivo atingível a curto/médio prazo.

O Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos integra-se numa iniciativa mais abrangente da ONU denominada Energia Sustentável para Todos (Sustainable Energy for All). Esta iniciativa pretende realizar, até 2030, eventos que permitam alcançar três grandes objectivos:

- garantir que toda a população mundial tenha acesso à energia;
- reduzir em 40% o consumo global de energia;
- aumentar em 30% a utilização de energias renováveis.

Para que estes objectivos sejam alcançados, a ONU conta com a mobilização de todos, nomeadamente, governos, empresas, ONG’s e sociedade civil. O acesso a uma tecnologia energética a preços acessíveis é fundamental, sobretudo nos países em vias de desenvolvimento, para que se verifique crescimento económico, a redução da pobreza e a melhoria geral da qualidade de vida dos mesmos. Numa palavra, para que se caminhe definitivamente para o Desenvolvimento Sustentável.

O Desenvolvimento Sustentável passará, sem sombra de dúvida, pelo abandono da energia fóssil em detrimento de uma disponibilidade crescente de energias renováveis. Entre estas destacar-se-ão a biomassa, a energia eólica, a energia das marés, a energia geotérmica, etc.


Energia da Biomassa: uma realidade do presente, uma energia com futuro?

Entre as várias formas de energia renovável, como sejam a energia solar, a energia eólica, a energia geotérmica, entre outras, conta-se a energia da biomassa. Esta forma de energia baseia-se na transformação de produtos e resíduos provenientes da agricultura, da floresta e da fracção biodegradável dos resíduos industriais e urbanos.

Os recursos renováveis representam actualmente cerca de 20% do fornecimento total de energia no mundo, com cerca de 14% proveniente da biomassa.
A queima de biomassa (predominantemente sólida) pode ser aproveitada para produzir calor para o aquecimento de habitações e águas e/ou produzir electricidade.

A matéria-prima.
As fontes de biomassa sólida são muito diversas. A principal corresponde aos resíduos florestais. Outras fontes igualmente importantes são os resíduos das vinhas e da indústria do vinho, as podas das árvores, o bagaço da azeitona, as gramíneas, como o feno e a palha, etc …. Um hectare de palha, por exemplo, possui um teor de energia de 73 gigajoules, o equivalente aproximadamente a 2.000 litros de gasóleo de aquecimento.

Os resíduos da indústria da madeira, sempre que apresentam impurezas incorporadas não servem para a transformação em sub-produtos daquela mesma indústria, razão pela qual podem ser encaminhados para a reciclagem energética.

Os materiais em fim de vida, como mobiliário deteriorado e madeira velha também podem ser valorizados energeticamente, desde que a sua reciclagem cumpra com a legislação relativa a contaminações por substâncias tóxicas, tais como tintas e/ou outros componentes químicos.

Existem ainda outras fontes de resíduos de madeira como aqueles que são recolhidos durante as actividades de limpeza e manutenção, nomeadamente em estradas, parques e jardins. Estes resíduos são geralmente uma mistura de madeira, folhas, troncos e solo, nos quais poderão estar incorporadas algumas embalagens de cartão e plástico. Devido a estas características, a valorização energética deste tipo de material deve ser bem controlada de modo a evitar a libertação, em níveis elevados, de substâncias tóxicas para a atmosfera.

Biomassa e política energética em Portugal
A floresta portuguesa cobre cerca de 38% do território nacional originando 2.2 milhões de toneladas de resíduos florestais. Estes, constituem o potencial de biomassa florestal existente em Portugal, com capacidade para gerarem 6.6 milhões de MWh de energia.

Contudo, o estado de abandono da floresta portuguesa nos últimos anos, a não existência de uma política florestal eficiente, a falta de incentivos fiscais, a grande agressividade de sectores concorrentes, como o do gás, entre outros, não permitem a eficiente valorização da biomassa florestal no nosso país.

A política energética nacional tem-se baseado na Resolução do Conselho de Ministros nº 169/2005 de 24 de Outubro, que estabelece a Estratégia Nacional para a Energia. No que respeita à valorização da biomassa, o documento apontava à data da sua publicação, para a necessidade de aumentar a potência instalada, mediante a construção de novas centrais termoeléctricas a funcionarem com biomassa florestal, de modo a atingir-se uma potência global de 100MW.

É pois fundamental, no sentido de se atingirem as metas traçadas a nível mundial, e no que respeita ao acesso de todos os povos à energia, que Portugal dê o seu contributo, tomando parte neste esforço global, nomeadamente reforçando o seu investimento nas formas de energia renováveis. A biomassa é uma das opções possíveis! 



(este artigo foi publicado na revista "Reis", de 01/12)



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