sexta-feira, 22 de outubro de 2021

O Outono dos insectos

A manhã, hoje, acordou mais fria e a falta de vento fez com que a neblina matinal demorasse a dissipar sobre o manto verde do parque.



Os choupos-brancos (Populus alba) que, ainda há uma semana atrás, ofereciam verdadeiros banquetes de insectos aos miméticos Chapins-carvoeiros (Parus ater), bem como, às delicadas Felosas-musicais (Phylloscopus trochilus), que, por entre a sua folhagem amarelada esvoaçavam alegremente... 





...estão agora praticamente despidos, faltando-lhes cair apenas algumas folhas encarquilhadas pelo frio das últimas noites.




Sobre o prado e sobre a folhagem desassombrada do arvoredo vêem-se algumas borboletas, comuns, mas sempre de voo gracioso. Entre elas destaca-se a Borboleta-dos-muros (Pararge aegeria). 



Mas é longe daqui, nas zonas húmidas da região aveirense, onde a extensa mancha de Caniçal (Phragmites communis) constitui um microclima privilegiado nesta época do ano, que o burburinho produzido pelas aves durante a Primavera e o Verão cedeu lugar ao rodopio de uma miríade de insectos, extraordinariamente irrequietos, como que apressados em atingir algo de importante para as suas vidas. 



Esse frenesim chama a atenção de qualquer passageiro menos alheado, bem como, de algumas aves insectívoras abundantes neste ecossistema, como o Cartaxo-comum (Saxicola torquata).




Voando em todas as direcções, sobre o canavial, andam libélulas "flecha", umas, solitárias, mas a maioria encavaladas, macho sobre fêmea, numa cópula iniciada momentos antes nalguma planta ribeirinha mas agora continuada no ar.

O peculiar emparelhamento deste grupo de insectos prossegue até que a fêmea, frequentemente em voo, deposita os ovos directamente nas águas calmas do esteiro próximo, mediante a extremidade tubular saída do seu abdómen. 

Dentro desta família, Libellulidae, destaca-se a Sympetrum meridionale. Esta libélulade cabeça, tórax e abdómen avermelhados pousa frequentemente num ramo ou numa das suas folhas, para dali atirar-se em voo rápido sobre as presas que avista, voltando posteriormente ao reconfortante poiso.




A sua parente Sympetrum striolatum, de patas e marcas no abdómen bem escuras, é ainda mais comum nas proximidades de águas pouco movimentadas.




Um olhar atento sobre a resteva do caniço, permite vislumbrar uma multidão de Saltões, da família Acrididae, perfeitamente mimetizados com o meio, como é timbre deste grupo de insectos. Tratam-se de indivíduos de Locusta migratoria.




Não param quietos, dando pequenos saltos para ali e para acolá, interagindo fortemente uns com os outros. Os machos, de cor acastanhada, perseguem-se e embatem-se, com os vizinhos ...


 ... e rodopiam constantemente em volta das esverdeadas fêmeas.



As cópulas sucedem-se, neste habitat húmido mas aquecido pelo forte calor que se faz sentir, com os machos, de cor pardacenta e de menor envergadura, sobre as fêmeas.



Miméticos, graças à variabilidade das suas cores, encontram-se também, sobretudo as fêmeas, sobre as folhas verdes da vegetação próxima.



Parece que todos eles procuram recolher o máximo de energia, disputando constantemente ao vizinho cada porção de espaço. É como se pressentissem o fim dos dias soalheiros e a chegada do frio e das chuvas!  

É, pois, urgente para todos eles acasalarem e depositarem os ovos em local apropriado, pois brevemente, recolher-se-ão a um inactivismo que durará até à próxima Primavera.


As borboletas que se avistavam no Parque Urbano também por aqui andam. Essas e outras, como a Borboleta-da-couve (Pieris brassicae), esvoaçam sobre a vegetação ruderal, já com a sua última postura do ano realizada.



De uma beleza única, independentemente dos tons que apresentam, outras espécies de borboletas ainda continuam em processo reprodutivo, acasalando e depondo os ovos nas folhas mais adequadas às futuras larvas. Estas, muito ávidas, crescerão rapidamente e passarão posteriormente à fase de crisálida, forma muito apropriada para hibernarem quando a estação chegar.


As simpáticas Joaninhas, família Coccinellidae, são na sua grande maioria carnívoras, fazendo um controlo das populações de diferentes famílias de Pulgões.

Andam também elas a prepararem-se para a hibernação que vai chegar, como a Joaninha-de-duas-pintas (Adalia bipunctata), numa variação cromática que a identifica como de "idade avançada".




Também a pequena Cigarrinha-verde (Cicadella viridis), de asas azuis nos machos, está prestes a abandonar, por este ano, a vida da sua fase adulta. Para já, e enquanto as condições ambientais o permitirem, ainda se vai avistando pousada sobre as folhas, sugando avidamente a seiva que lhes irá fornecer as tão importantes reservas nutricionais. 




Os Abelhões (Bombus sp.), são insectos sociais que no Outono terminam a sua função de recolectores de pólen. Em breve, só as fêmeas fecundadas irão sobreviver aos rigores do Inverno.

Enquanto esse crucial momento não chega deliciemo-nos em apreciar estes últimos voos, pesados, de flor em flor, sempre acompanhados de uma sonoridade melodiosa tão característica...o seu zumbido. 



Também os machos jovens de Vespa-comum (Vespula vulgaris) que fecundaram as fêmeas, futuras rainhas das colmeias, preparam-se para morrer, após um curtíssimo ciclo de vida que teve início em finais de Verão.




A terminar este apontamento sobre estes delicados seres, cuja vida decorre ao ritmo das metamorfoses, ficaria em falta lembrar que os últimos sopros de vida dos insectos neste Outono, nomeadamente a sua já próxima hibernação, andam a par da vida, também ela de letargia próxima, de alguns dos seus predadores ... como a Rã-verde (Rana perezi) e a lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei).







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